12 janeiro, 2023 Uma outra educação
Estava no sangue de Carlos a desobediência e a desordem. E o que o cativava era a aventura...
A educação de Carlos completou-se por etapas. O pai era um homem de valores, que tinha necessidade de se conectar aos outros. Procurava grupos para socializar e alimentar a dose necessária de honra e respeito de que, a seu ver, todo o homem precisava. E fazia questão de que a sua família lhe seguisse as pisadas.
A mãe pertencia ao grupo escolar e à quermesse. E o filho, assim que teve idade, viu-se encomendado para os pupilos do exército.
Quando não se integrou, recambiaram-no para o seminário. Um volte face inesperado mas que tinha a sua razão de ser aos olhos do tutor: se Carlos não ia ser um guerreiro, seria um pacificador! O que o pai não admitia era que ficasse numa qualquer zona cinzenta que ele não compreendesse, e se tornasse homossexual, ou pior, um artista.
Ironicamente, se o maior pesadelo do pai era que Carlos desse em gay, era o próprio quem continuava a mandá-lo para sítios onde havia maioritariamente homens...
O patriarca podia ter tido mais descanso, mas Carlos nunca lhe confessou, por não ter qualquer tipo de à vontade com ele, que não sentia nenhum interesse, nem sequer uma saudável curiosidade, pelos encantos e virtudes dos outros homens. Aliás, pouco se preocupava com as suas. Não era, ainda, sexual.
O que o cativava era a aventura. O seu dom era uma propensão inusitada para fomentar o caos onde quer que aterrasse.
E assim sendo, os receios do pai não eram de todo injustificados, porquanto um era o exacto oposto do outro.
Estava no sangue de Carlos a desobediência e a desordem. Por essas duas razões fora expulso tanto do seio dos tropas como dos futuros clérigos.
Simplesmente, era incapaz de fazer o que lhe mandavam se não lhe explicassem a razão. Recusava-se a seguir comandos arbitrários de pessoas com menos esclarecimento simplesmente porque tinham mais poder. Portanto, jamais seria, como o pai, um seguidor. Mais rapidamente se tornaria um condutor, alguém que é seguido pelos demais.
Para lhe resolver o excesso de carisma, teve que ser a mãe, desta vez, a intervir. Se as manobras do marido não endireitavam o feitio ao miúdo, que aos 21 anos só queria arranjar sarilhos e estudar, ela sabia bem o que fazer. Não havia outro remédio. E assim o despachou para a Tia Juju, que era especialista em casos difíceis.
A Tia Juju não era irmã de sangue da mãe, mas irmã de escola e de vida airosa. Tinham sido colegas no bordel onde o pai fora salvar a mãe e guardavam esse tratamento filial pela amizade e cumplicidade de muitas histórias passadas.
Ao seu tempo, ambas tinham partido muitos corações. E quando a mãe deixou tudo para casar com o pai, a “mana” prosseguira a carreira no ofício de agradar aos homens até se tornar, ela mesma, a matrona do lugar, a chefa que todos respeitavam e temiam.
Carlos sentiu logo desconforto quando o mandaram passar à sala de espera, que era mais um lounge, com um canapé ao centro, flores exóticas e um papagaio embalsamado e de plumas berrantes que, talvez por isso, parecia parco em palavras. Era ali, certamente, que os cavalheiros aguardavam a sua vez ou escolhiam as divas avulsas para uma boa soirée de convívio.
Mas tudo, desde o ambiente à decoração, era pesado e antigo, amarelo e modorrento. Incluindo os criados…
Era um milagre que o velhote que abriu a porta, e que andava curvado como se transportasse um jockey invisível às cavalitas, conseguisse dar dois passos sem se espetar ao comprido. O homem devia estar num lar onde almas caridosas lhe batessem punhetas ou pudesse apalpar voluntárias – tê-lo-ia certamente merecido, pois não era tarefa fácil lidar com a patroa.
Quando a Tia Juju entrou na saleta onde Carlos bocejava paciente, conseguiu a proeza de não destoar em nada do que a rodeava. Também ela era uma espécie de papiro esquecido, de plumas descaídas, que se movia, ainda assim, graciosamente no seu vestido de noite. Tudo isto ainda não era meio-dia.
A Tia não esteve com meias medidas, olhou para o pirralho arrogante e disparou, como se conhecesse bem o seu tipo:
– Já almoçaste?
– Não, minha senhora – volveu Carlos, reverente.
– E foder, já fodeste?
– Também não, minha senhora.
– Tens fome?
– Não, minha senhora.
– Então anda.
E com este inquérito sucinto levou-o para o quarto, instruindo-o que fechasse a porta atrás de si e corresse bem os cortinados, que as paredes ali tinham ouvidos e as portas tinham olhos.
Era difícil imaginar um cenário erótico mais decadente que aquele, e ocorreu a Carlos se a Tia não seria, na verdade, uma espécie de vampira.
Mas não era.
– Vá, deita-te aí.
E Carlos esticou-se na cama sem se despir.
A Tia pôs-se de costas para ele, de pé, à frente de um grande espelho por onde podia espiar as reacções do instruendo, e começou a abrir os botões da camisa. Um minuto depois tinha as mamas de fora, que a Carlos chegaram reflectidas pelo mesmíssimo espelho como espectros muito redondos e muito vivos, duas grandes bolas carregadas de mistério e maravilha. Não conseguiu impedir-se de babar, tanto em cima como em baixo.
– Do que é que estás à espera para tirares as calças?
E Carlos, muito rápido, despojou-se o mais rapidamente que pôde de toda a indumentária que trazia. Voltou a deitar-se só em cuecas, ao que a Tia torceu o nariz:
– Vais foder de cuecas?
Aquela agressividade, aquele tom cru e desapaixonado, num momento em que ele se sentia incendiar, envergonhou Carlos, que era tímido naquilo de cumprir ordens. Mas estava ansioso por seguir todos os comandos da matrona que se despia à sua frente, revelando-lhe mundos e fundos que desconhecia.
Ela já se despojara do vestido e baixava agora também as cuecas, revelando um rabo de rego felpudo e ainda mais redondo que as mamas.
Sem mais palavra, a grande dama virou-se de frente, mostrando enfim a densa pintelheira que lhe honrava as coxas, bojudas mas firmes, e foi deitar-se na cama à espera dele.
– Vá, monta a Tia.
E Carlos desabou todo junto, primeiro para o vale dos lençóis para esconder a vulnerabilidade, mas logo depois lá para dentro, para os vales e colinas vastas do manancial de carnes húmidas que a mulher, madura como veio ao mundo, lhe oferecia.
Foi ela que lhe agarrou na pila e a posicionou na entrada do buraco quente.
Foi ela também que lhe agarrou as duas nádegas como ninguém lhas tinha agarrado antes e depois lhe deu uma nalgada orientadora para que ele se enterrasse nela o mais e o melhor que pudesse.
Carlos não encontrou qualquer resistência pois, apesar de manter uma cona bem apertada para o que se podia esperar duma mulher com tanta rodagem, a Tia estava bem molhadinha, o que geralmente significava que engraçava com aquele a quem abria as pernas. Não se deixava humedecer por qualquer um.
E ele, não obstante a inocência, foi generoso e empreendedor, conseguindo satisfazer tanto a si e como à parceira, mesmo intervalando momentos mais desajeitados.
Foi foda para menos de 3 minutos, pois tudo era novo e demasiado vívido, mais vívido para Carlos que a própria realidade. Assim que, atrapalhado, sem saber se havia de correr por dentro ou por fora, acabou a esporrar-se a meio caminho, de forma que houve espirros por todo o lado, incluindo nas peles da Tia, que ficou cheia de esguichos brancos nas mamas e com uma saraivada de gosma a escorrer dos lábios até ao queixo…
– Anda cá, portaste-te bem. Dá um beijinho à Tia.
E Carlos não teve outro remédio senão aceitar a devolução da descarga que lhe tinha proporcionado. Lambeu a própria nhanha e engoliu, como a própria Tia confirmou, depois de lhe mandar abrir a boca para ver se tinha tragado tudo.
Cumpridos os rituais, a Tia Juju ordenou-lhe que se lavasse e vestisse e fosse ter à sala de refeições, onde o almoço estava para ser servido. Eram apenas os dois à mesa e, mal a criada desapareceu com a gamela da sopa, a Tia, com a voz mais carinhosa que Carlos alguma vez ouvira numa mulher, disse-lhe:
– Agora que já tiraste o veneno do corpo, diz à Tia o que te preocupa.
E durante toda a tarde Carlos contou os detalhes da sua vida que o tinham conduzido a ser o homem que era hoje. A Tia ouviu tudo e deu conselhos, e quando já os candeeiros se acendiam lá fora e Carlos se viu sozinho na rua, sentiu-se um novo homem, mais calmo e mais confiante no seu futuro.
Para a Tia não havia casos difíceis. Havia pessoas perdidas que só precisavam que alguém as mimasse e ouvisse nem que fosse por um bocadinho.
E para ela, que amava o que fazia, esse era o trabalho mais fácil do mundo.
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com