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23 setembro, 2021 O misterioso caso da mulher sem cuecas - Parte I

Detective Sarilhos investiga...

O dia ia longo, fastidioso, modorrento... Os cães arrastavam-se nas ruas, os bêbedos fermentavam à esturrina, os clientes não abundavam e os que apareciam não traziam senão problemas triviais, nada que remotamente desafiasse o intelecto de um grande detective…

O misterioso caso da mulher sem cuecas - Parte I

Um pombo na janela parecia mais aborrecido que eu: de costas viradas, ignorava com uma pinta do caralho o pôr-do-sol, que parecia sangrar depois de mais uma jornada de calor infernal. E para piorar tudo, o tabaco que comprara ao Zé Naifas arranhava-me a garganta…

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Se era um sinal que eu esperava… este servia.

Levantei-me, vesti a gabardine e preparava-me para fechar a porta quando a minha assistente, Conceição, que preferia ser chamada São mas eu tratava sempre por Coração, entrou a correr. Por razões óbvias e saltitantes, apreciava quando ela o fazia, mesmo sabendo que não trazia boas notícias…

– Não se vá embora que está aqui a dona Emília num grande estado de aflição!

– Outra vez?

A dona Emília tinha apartamento no prédio em frente mas passava o dia a cirandar pelo nosso e andava sempre à procura de um pretexto para meter o nariz. Eu deixava, porque além de cota era boa como tudo, mas nunca me deixara pôr-lhe a pata – e não foi por falta de tentativas. Tinha o cu duma diva e as mamas duma porteira e isso dava-lhe um glamour sopeiro que só algumas mulheres têm. Quando ela irrompia pelo gabinete, só precisava de 15 segundos para imaginá-la a abocanhar-me a narça.

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– O que é que foi agora? O gato comeu-lhe o brinco? O rato roeu-lhe a rolha? Ou a mobília voltou para o sítio original?

Eram invariavelmente coisas mínimas, que ela, um ser dramático, aumentava até confundir com casos desesperados. No entanto, hoje parecia mais agitada e sem a teatralidade que costumava usar como se fosse a última moda. Talvez, desta vez, a coisa fosse séria.

– Bem, manda-a entrar e já se vê.

Dona Emília vinha, como sempre, num dos seus vestidos negros, de saia até ao joelho. Tinha-me dito que achava que lhe dava um ar enigmático. Não dava. Apenas a fazia parecer uma viúva, coisa que não era nem nunca tinha sido. O único noivo que alguma vez tivera deixara-a uma semana antes do casamento. Diziam que daí lhe vinham os “problemas”… Toda ela era este tipo de intensidade Dickensiana.

– Sente-se aqui, dona Emília e tente acalmar-se. Quer um copo de água?

Não lhe podia dar nada do bar, senão não tinha mão nela.

Ela recusou as minhas gentilezas. Entrou pelo escritório e acendeu um cigarro, com as mãos a tremer.

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– Não, obrigado, Detective Sarilhos, fico de pé. Não conseguirei acalmar-me enquanto não souber o que se passa comigo. Sabe lá o que me aconteceu…

– Diga-me e saberei. Sabe como eu trabalho...

– Sei, e nunca me falhou. Mas desta vez o caso é tão bicudo que temo que nem o senhor consiga trazer luz ao assunto.

– Deixe-me ser eu a julgar isso. Para já, estou às escuras, é verdade. Por isso preciso que a dona Emília se sente, se acalme e me ilumine. Olhe, deixe-me desapertar-lhe o vestido para poder respirar melhor. Vejo-a muito constrangida...

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Mal sentiu um mínimo de contacto humano a sua resistência quebrou. Atirou-se para os meus braços e tive que lhe apalpar as mamas um bocado, até serenar.

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Mais arejada, pude então refastelar-me no sofá e acender o cachimbo, duas ferramentas essenciais nas artes milenares da investigação.

 – Então, conte-me o que se passou.

– Bem, resumindo a história, eu levantei-me como todos os dias, só que com muita fome. Por isso, em vez de tomar banho lavei-me só por baixo.

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– Depois vesti-me rapidamente e saí para tomar o pequeno-almoço na mercearia. Nisto começo a ver tudo andar à roda, como se o mundo fosse um carrossel. Devo ter desmaiado de fraqueza e caminhado como uma sonâmbula, porque quando dei por mim estava de novo à porta do meu prédio e já era de noite!

– Notável! Inaudito! Eu diria mesmo, espantoso!! Prossiga…

– Realmente calcule o meu espanto quando vi que o dia inteiro tinha passado e eu não fazia a mais pequena ideia como, o que tinha feito ou onde tinha estado. E isto com tanta roupa para passar... Nada mais que pequenos fogachos de memórias difusas navegando à deriva na minha mente. Tudo o resto era uma densa névoa. Mas o pior nem foi isso, Detective Sarilhos...

– Ai não? Há pior?

– De repente, uma brisa providencial entrou-me por debaixo da saia... como se fosse o vento do destino a avisar-me do que aí vinha... e... foi quando percebi...

– Percebeu o quê?

– Que não tinha cuecas...!

– Homessa, perdeu as cuecas?!

– Pior, Detective Sarilhos... Veja por si mesmo: roubaram-mas!

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  *

*   *

Era de facto misterioso. Uma mulher sai para a rua vestida de manhã e volta para casa à noite sem cuecas. Do que aconteceu no meio, dos motivos para tão indiscreto rapto ou desaparecimento, não se fazia a menor ideia. Podia, de facto, ser uma fraqueza. Mas isso não explicava como uma pessoa acorda com a pintelheira à mercê dos elementos, nem como o dia de repente se faz noite. Havia ali coisa...

– Já nem entrei em casa, vim logo para aqui, pois eu sei que o Detective Sarilhos está sempre pronto para acudir uma dama em apuros.

– Fez bem, minha senhora, fez bem.

– Acha possível desvendar este mistério, Detective Sarilhos?

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Apaguei o cachimbo, porque o caso não carecia de meditações e porque o momento pedia uma pausa dramática que transmitisse sabedoria. Se repararem, o avô mocho, que era sempre a patente mais alta do bom senso, tinha frequentemente um cachimbo. Claro que isso foi antes de se começar a falar dos efeitos nocivos do tabaco nas aves nocturnas. O avô mocho do presente masca pastilhas de nicotina...

Enfim, por muito que me custasse, o problema não apresentava à partida dificuldades analíticas, requeria meramente energia e acção. Mais tarde iria ao terreno proceder a inquisições. Para já, era altura de assumir a persona profissional e intuitiva que me garantia o rectângulo maior nas páginas amarelas. Isso significava pôr mãos à obra.

Não conseguia esquecer a imagem dela a abrir-me as pernas e precisava urgentemente de libertar a tensão que atacava o meu próprio centro nervoso… Na minha cabeça, claro, o gesto repetia-se com bastante mais lascívia do que ela fizera na realidade, mas nunca fui acusado de falta de imaginação. Fosse como fosse, a verdade é que as “vergonhas” da minha cliente me deixaram com uma tesão dos diabos!

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– Não há tempo a perder! Levante a saia e abra as perninhas: preciso de examinar imediatamente o local do crime!

Crente no seu bom detective, ela nem hesitou: fez o que eu lhe disse e ainda se pôs na posição de franguinho, para facilitar as vistas.

Saquei da lupa e ajoelhei-me à sua frente, observando com toda a atenção uma cona de lábios carnudos, extensa de comprimento e toldada por uma copiosa pintelheira negra.

Aproximei-me mais e cheirei-a. Era, sem nenhuma dúvida, uma cona que passara por histórias e aventuras... Ainda pulsava, num movimento simpático automatizado pela memória recente do que tinha vivido.

O odor era tão forte que se libertava em várias facções: havia suor interno; havia suor estrangeiro; havia traço de cu; havia excedentes genéricos que só o olfacto não chegava para descortinar...

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Meti, pois, a língua e passajei-a de alto abaixo, lentamente, pelos lábios de fora e de dentro, e depois meticulosamente por toda a extensão pilosa do rego, sempre com o máximo tacto linguístico, para não perturbar os sabores.

A sua riqueza de elementos somava-se na perfeição à opulência aromática: havia salivas várias, que se distinguiam pelo grau alcoólico; havia temperos de diversa ordem, tanto vegetais e minerais como gasosos; e havia inúmeras qualidades de esporra, da mais doce à mais amarga, cristalizada um pouco por todo o lado.

Viam-se caspinhas de meita seca polvilhadas desde o rabo às virilhas, como o quadro de um Polock convertido ao minimalismo.

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Uma teoria começou imediatamente a formar-se no meu espírito. Mas precisava de mais provas para a suportar...

– Vou ter que fazer uma peritagem mais profunda – avisei, sem que a minha dama em apuros pronunciasse qualquer tipo de protesto.

Arregacei a manga como um bom doutor e enfiei-lhe dois dedos pela racha, até bem ao fundo. Era quente e esponjosa, com um músculo interior proactivo. Depois, sem contemplações, já que o caso suscitava urgência, comecei a meter e a tirar em bom ritmo.

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Dona Emília era uma daquelas mulheres que nunca precisarão de um lubrificante, porque a sua própria fluidez trata do assunto. Começou-se logo a vir... Quando a manuseava mais depressa, espirrava... Quando lhe roçava a ponta dos dedos em anzol, lá no ponto, se o fizesse energicamente, começava a desaguar... O líquido simplesmente pulsava de dentro dela e cavalgava sobre as margens beiçosas até encontrar um declive para escorrer...

De vez em quando eu tirava os dedos para analisar a matéria. Ela gemia, contrariada. Mas eu sabia o que estava a fazer. Não se chega à posição proeminente onde cheguei sem ter adquirido um conjunto muito específico de talentos. Ou sem desenvolver uma capacidade reflexiva de os utilizar, durante horas intermináveis, tanto na teoria como na prática. Um bom detective é a sua confiança. E ela sabia, haveria de o dizer, que estava em boas mãos.

Assim, deixava-a queixar-se o tempo que ela queria. Depois enfiava-lhe os dedos outra vez, na cona e também no cu, já que estava nas redondezas. E ela voltava a ronronar como um velho router sobreaquecido.

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E assim se começaram a avolumar as evidências, que se iam juntando na bimby mental do grande detective...

Mas era tempo de abrir o livro e surpreender com novas estratégias. Flexibilização é uma palavra-chave em qualquer negócio, e as artes investigativas não fogem à regra. É sempre produtivo pensar fora da caixa, por isso, despi as calças e exibi-me à cliente de pau em riste... Só faltava um fundo do powerpoint para fazer um postal comercial.

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– Sinto-me tão segura nas suas mãos, agora que decidiu tomar conta da minha ocorrência, Detective Sarilhos!

– Infelizmente, nisto dos mistérios nem sempre tudo está nas nossas mãos. Por exemplo, veja a dona Emília, tentei chegar ao fundo do problema por via digital, mas os dedos foram inconclusivos... Vou ter que introduzir a sonda.

– Oh, é mesmo necessário? – perguntou ela, fazendo-se entendida.

– É impreterível, madame! A verdade depende da nossa coragem em confrontá-la a si mesma até às últimas consequências!

Ela nem percebeu que aquela frase não queria dizer nada. Traduziu a inevitabilidade, encolheu os ombros e abriu mais as pernas. Postas assim as coisas, separei-lhe as bordazinhas para o lado e enfiei-lhe o caralho lá para dentro.

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Começámos logo os dois a dar ao cu.

A minha vizinha podia não saber por onde tinha andado mas, por toutatis, sabia foder! A forma como se mexia debaixo de mim, controlando os meus movimentos antes que eu controlasse os dela, parecia saída de um case study de uma escola de gueixas! Não tive outro remédio senão aumentar o ritmo. De contrário, vinha-me já!

– Peço desculpa pela turbulência mas é uma sonda pneumática, não há outra maneira de a fazer funcionar.

– Oh, não se preocupe. A verdade exige sempre uma certa dose de sacrifício... – diz-me ela, a revirar os olhos com a língua a pender do canto da boca e a gemer cadentemente.

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– E o estúpido do pombo a dizer-me para ir para casa!

– Disse alguma coisa, Detective Sarilhos?

Mal percebi que tinha deixado escapar aquilo em voz alta... Tive de improvisar.

– Disse que estou quase pronto para apertar a bisnaga...

– A bisnaga?

– É uma pomadinha que vou pôr lá dentro antes de puxar a sonda, para não a magoar... Mas não se preocupe que eu depois lambo tudo.

– Faça como entender, Detective Sarilhos. Eu confio plenamente em si!

– Ainda bem, assim é que é... Agora toma, toma a pomadinha... AAAHHHHHH! Toma mais pomadinha, toma... AAAHHHHHH! AAAHHHHHH!

– Ai, Detective Sarilhos, acho que também vou apertar a minha bisnaguinha...

– Deveras, madame? Só mais um restinho de pomadinha... AAAHHH!

– Nem sabia que tinha uma... AAAAAAAAIIIIIIIIIIIIHHHHHH!

E veio-se também ela, de novo, debaixo de mim, ainda com ele entalado e a bolsar lá dentro. Quando me tirei dela ainda me estava a vir e esguichei-lhe um bom bocado na barriga e nas mamas. Ela tinha as pernas a tremer e uma cascata de geleia branca escorria-lhe da cona.

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Fiz o que tinha prometido: lambi tudo… Cada gotinha daquela gosma comum que ambos tínhamos expulsado do nosso paraíso!

Feito isso, limpei a boca à manga da camisa dela e pus-me de pé, pronto ao serviço. Na verdade, precisava de um leite maltado se queria voltar em condições de lhe pregar a enrabadela que ficara a faltar. Fantasiava com aquele cu desde a primeira vez que lhe vi as mamas...

– Muito bem. Vou agora até à rua onde conduzirei um conjunto de entrevistas a testemunhas e suspeitos. Nesta fase das investigações, qualquer certeza absoluta será sempre prematura. Ainda assim, atrevo-me a antecipar que...

Ela até parou de se vir para me dar a atenção. Se fosse um filme, teríamos um efeito de violinos crescentes e bombos ribombantes a avisar para um momento revelador...

– ... Antecipo que a dona Emília esteve primeiramente na lavandaria; daí foi para uma oficina de automóveis; depois passou pelo barbeiro; e mais tarde disse boa noite ao senhor Joaquim do vídeo clube. Finalmente, dois pescadores fizeram a gentileza de a trazer para casa!

Ao ouvir este conjunto de suposições bombásticas, Dona Emília por pouco ia tendo um chilique. Tive que a segurar para não cair.

– Mas... como...?! Como é possível saber isso só com uma foda...?

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– Minha querida, se em vez de lhe dar o plano geral lhe mostrasse cada um dos passos que me conduziram a ele, achá-los-ia tremendamente simples e, por consequência, achar-me-ia a mim tremendamente mundano...

A minha falsa modéstia, que na realidade não passava de auto-elogio mal disfarçado, não reduziu em nada a admiração que a minha cliente sentia pelos meus dotes investigativos, que quase lhe pareceram mediúnicos. Com a voz tremelicada, disse:

– Não sei como consegue, Detective Sarilhos, mas o senhor... é um génio!

– Elementar, minha querida! Mas nunca me digas aquilo que eu já sei... Volto já!

Doíam-me as virilhas e tinha a cabeça da gaita a soluçar, mas era um homem numa missão e um homem numa missão não pára para verter águas...

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O misterioso caso da mulher sem cuecas - Parte II

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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