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02 setembro, 2021 As dádivas da noite - Parte I

Eu era apenas o gajo que ia a passar, na hora certa, no local exacto...

Esta história é tão verdadeira quanto a vossa imaginação permitir. Mas não duvidem em nenhum momento da honestidade dos actos praticados. Se se passou assim foi porque as pessoas envolvidas quiseram. Quiseram concretizar “uma fantasia”! Não era a minha fantasia.

As dádivas da noite - Parte I

Eu era apenas o gajo que ia a passar, na hora certa, no local exacto. Mas, por via do destino, vi-me completamente imerso nela. E é essa a história que vou contar…

Há dias conheci um tipo num bar. Digo “conheci” porque foi mais que uma conversa de bar típica entre dois homens. Realmente começámos “a conversar”. De coisas, disto e daquilo e do resto. Descobrimos variadíssimos aspectos em comum. Acabámos por conviver como velhos amigos e, ao fim da noite, penso que já o éramos.

Portanto, quando o sino tocou anunciando o fecho da madrugada e ele me convidou para ir a sua casa, aceitei com alegria a possibilidade de estender mais um pouco a viagem que estávamos a partilhar. Eram apenas alguns quarteirões.

Assim que entrámos no apartamento ele ligou a música, um pouco alta demais para as horas, e rapidamente acabámos, também nós, a subir de tom, quantas mais bebidas brancas, da boa garrafeira que ele tinha, íamos devorando. Os dois estávamos bastante ébrios, já, mas sem vontade de parar. Em nenhum momento, diga-se, ele mencionou que poderíamos estar a perturbar alguém… A música e o barulho, tudo era tranquilo, assegurava.

A dada altura o meu amigo precisou de ir à casa de banho, o que me deu tempo e espaço para observar mais atentamente o que me rodeava. O apartamento era simples mas organizado com bom gosto, transmitindo uma atmosfera de conforto e paz, sem abdicar da funcionalidade. Via-se que tinha o “toque feminino”, embora em nenhum lado se encontrassem evidências da presença duma mulher. Lembro-me de notar que não havia retratos de família. Nem de família nem de outro tipo qualquer. Aparentemente, ele não era adepto dos instantâneos para mais tarde recordar – ou não queria que alguém os visse...

Estava nesta análise, tão detalhada quanto turva, quando o meu amigo voltou à sala, a rir-se que nem um perdido. O que lhe tinha dado tanta graça só ele sabia, mas soltava grandes gargalhadas e todo o seu corpo soluçava. Era uma dessas pessoas que se riem com o corpo inteiro. Finalmente lá se acalmou e, a limpar as lágrimas, após uma pausa dramática, disse-me:

Se eu te dissesse que, naquele quarto ali ao fundo do corredor, está uma gaja toda nua, de cu para o ar, à espera que alguém a vá foder… o que é que dizias?

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Não sei se foi a expressão dele ou o teor da conversa que de repente trouxe para a mesa, mas então fui eu que desatei às gargalhadas.

Quer dizer, obviamente já tínhamos falado de mulheres, bastante longamente até. E já nos tínhamos rido muito, com muitas coisas. Quando o ouvi dizer aquilo, acreditava que estávamos na mesma dinâmica de galhofa do resto da noite. Nunca me passou pela cabeça que a imagem que ele me sugeria pudesse ser real. Foi preciso ele insistir, para eu perceber que falava a sério…

Esperou que eu parasse de rir e virou-se para mim com um sorriso que, na altura, achei enigmático:

Não acreditas? Ela adora que eu traga visitas... Nem quer saber quem é. Só lhe interessa que um desconhecido chegue e se monte em cima dela enquanto está a dormir. Por isso é que dorme toda nua e naquela posição. Está “à espera”…

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Completamente apanhado de surpresa, baralhado com a cena, eu tentava alcançar o verdadeiro alcance das palavras que ouvia.

Mas… uma mulher? Qual mulher?!

Seria possível que ele pagasse a uma profissional por aquele “serviço”? A ideia atravessou o meu imaginário, mas a realidade era ainda mais peculiar…

Com um tom de voz firme, que parecia transportar uma centelha de orgulho, o meu amigo revelou:

A minha mulher.

Olhei para ele sem saber o que dizer e ele devolveu-me um grande sorriso. Percebia, claro, que me tinha apanhado.

Na altura, tenho que confessar, interpretei pessimamente a situação. Na posse de poucos dados, ainda assim a minha leitura dos acontecimentos vinha inteiramente dominada pelo preconceito. Vi um pobre homem, abatido, que carregava a cruz de viver com uma mulher que se oferecia a outros homens. Que devia estar completamente subjugado por ela, para aceitar a situação. Um homem resignado, um “corno manso”…

Eu não conseguia perceber. Só a ideia de imaginar um estranho na cama com a minha mulher me dava vómitos! Naquele momento, todo o meu respeito por ele caiu por terra.

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Perante a minha visível hesitação, o meu amigo tentava explicar melhor:

É a cena dela... Percebes?

Começou a rir-se outra vez com gosto. Eu não percebia se era genuíno ou desespero. Fosse o que fosse, parecia o riso de um louco… A coisa mais louca duma noite louca!

Ele voltou a recompor-se e parecia ter ganho uma nova energia. Virou-se para mim, agora assertivamente, inclinando-se como se quisesse mesmo ter a certeza de que eu compreendia o que me ia dizer.

Ouve, não sei o que estás a pensar, mas… Acredita: não é só uma cena dela. É uma cena nossa. Uma cena minha! Fui eu que a conduzi para isto… Percebes? Eu tinha a fantasia de ver a minha mulher ser comida por outro gajo. Por outros gajos... Na altura ela não tinha vontade nenhuma disso, a sua educação tornava-lhe a ideia horrível. Mas depois, a pouco e pouco, pensou no assunto e… acho que se começou a excitar com a ideia. E um dia disse que estava bem, se era o que eu queria, ela ia experimentar. Percebes? Ela fê-lo por mim! E o melhor de tudo: gostou...! Eu adorei. E a partir daí temos repetido.

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Apesar das explicações, eu continuava sem saber o que dizer. Ele continuou:

Tem outras vantagens para mim, sabes? Não foi calculado, mas a verdade é que quando as coisas se juntam tão harmoniosamente, começamos a pensar que devemos estar a fazer alguma coisa bem... No meu caso, sempre gostei de sair à noite para beber copos. A minha mulher procurava uma vida mais caseira e ressentia-se comigo por a deixar tanto tempo sozinha ao serão. Por ela, experimentei ficar em casa. Mas descobri rapidamente que assim era eu que ficava ressentido com ela! E sabemos o que os “ressentimentos” podem fazer a um casamento… Vão minando a relação e um dia, quando damos por isso, já não conseguimos olhar um para o outro sem raivas. Já não vemos a mulher ou o homem que amamos, mas o “responsável”, o “culpado” por não sermos felizes… Percebes? Sem ter sido planeado, a verdade é que o nosso arranjinho aventureiro também resolveu esse problema. Agora eu saio à noite até às horas que quero, até encontrar um “amigo” com quem possa ter uma conversa. Se a conversa for interessante, convido-o para minha casa. A minha mulher fica à espera. Não interessa se está acordada ou a dormir… ela espera. Por mim e por aquele que eu trouxer.

Admito que tudo aquilo era demasiado esquisito para mim. A minha primeira tentação, confesso, foi levantar-me e ir embora. Quer dizer, eu não tenho preconceitos nenhuns com coisas de sexo. Cada um sabe de si e do que gosta. Mas aquilo “era a cena deles”, como ele disse. Estava longe de ser a minha cena.

E, no entanto, tudo mudou com uma pequena frase, composta por apenas três palavras, também elas, por sinal, bastante pequenas:

Queres ir ver?

Imediatamente, o meu cérebro desligou das moralidades do mundo e senti a picha dar um salto dentro das cuecas.

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A expectativa de ver uma mulher nua é um interruptor poderoso que consegue ligar e desligar um homem a qualquer momento. Para mais, uma mulher proibida, que nunca vimos, “a mulher doutro”… Podemos estar a ter a conversa mais profunda, inteligente e interior das nossas vidas… Raios, podemos estar na vertigem de compreender o sentido da vida!… Se no nosso campo de visão aparecer uma mulher nua, o cérebro desliga imediatamente e encolhe até ao tamanho dos testículos. E então não há nada a fazer: a partir daí são eles que mandam!

Era assim que eu estava a ficar e era isso o que o meu amigo me prometia: uma mulher completamente nova, avulsa, desconhecida e, sobretudo, nua!

Levantei-me de um salto e olhei para ele ainda por um momento. Ele fez que sim com a cabeça, libertando-me de qualquer hesitação. E assim me lancei à descoberta dos tesouros que me prometiam e… esperavam.

Depois de, no corredor mal iluminado, ter aberto por engano a porta da casa de banho e depois a da despensa, acertei finalmente no quarto que procurava. E então… vi-a!

Havia várias luzes acesas, todas indirectas; atrás de um quadro, atrás de uns livros, escondidas aos cantos. Isso permitia distinguir tudo perfeitamente e, ao mesmo tempo parecer obscurecido. A chamada média luz. Era um ambiente bem pensado para o impacto que procurava provocar. E, meus amigos, se resultava!

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Ela estava deitada de bruços sobre a cama, que ficava logo de frente para a porta. De modo que a primeira coisa que se via ao entrar era a racha da cona, perfeitamente delineada no meio das pernas, apenas ligeiramente abertas e flectidas.

Naquela posição ficava com as nádegas expostas e elevadas. Eram redondas e amplas, como se tivessem sido desenhadas para lhes metermos a mão. À medida que me ia aproximando, ia tendo uma visão mais abrangente do seu corpo. Não era muito alta, por volta de um metro e sessenta e pouco, e tinha as carnes cheias, ainda que não em demasia. Era uma mulher madura, completamente sensual, linda… Um mulherão!

Já muito perto da cama, percebi que a posição das pernas, flectidas sem esforço, advinha do facto de estar a dormir sobre um travesseiro. Tinha-o na barriga e isso dava espaço às mamas para fugirem do peso do corpo e saírem derramadas pelos flancos. Eram mamas grandes, com a forma de uma enorme azeitona, com mamilos largos como medalhões e bicos pronunciados. O que qualquer alarve chamaria “um par de tetas monumental”!

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Olhar para aquela mulher assim, nua, adormecida, proibida, precária… dava-me uma tesão capaz de partir um trem de cozinha da Vista Alegre!

Não sei porquê, mas nessa altura tive o instinto de olhar para trás. O meu amigo tinha parado à porta do quarto e olhava-me enquanto eu observava a sua mulher nua. Da forma em que estava deitada, um homem que se aproximasse por trás tinha o ângulo perfeito para a penetrar, fosse em que buraco fosse. Claro que isso não era obra do acaso... Era óbvio que estas pessoas, este casal, sabia o que queria e trabalhava para acomodar o melhor possível os seus desejos. Investiam nisso…

Apesar do entusiasmo restaurado, e de sentir cada vez mais urgente a ideia de foder, continuava sem atinar com as palavras. Por não saber o que mais dizer, perguntei:

– E agora?

– Agora é a tua vez. Faz como quiseres.

– Como quiser?

– Sim, como te apetecer. Se queres um broche mete-lho na boca, se a queres foder enfia-lho na cona, se a queres enrabar… Estás a ver...

Sim, estava a ver, e o que via, toda aquela carne nua e suculenta, era um convite para a loucura e para o paraíso...!

(Continua na próxima quinta-feira...)

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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