23 março, 2023 A mulher que não fazia broches
Ele que a perdoasse mas ela era assim mesmo, não fazia porque não fazia mamadas...
Os motivos eram vários, mas ainda assim menos definitivos que as desculpas. Ora era porque lhe dava vómitos, ora era porque lhe fazia doer o maxilar, ou porque ele vinha muito suado, ou porque não gostava do sabor, ou porque cheirava a carne velha, ou porque os astros não estavam alinhados... Todos os dias era uma nova!
No fim, que era o que interessava, recusava-se sempre. Ele que a perdoasse mas ela era assim mesmo, já casara com ela sabendo desse particular, não fazia porque não fazia mamadas, broches, boquetes ou sexo oral, chamasse-lhe ele o que lhe chamasse.
Ele não lhe chamava nada, nem lhe podia chamar puta, pois o comportamento dela era precisamente contrário à maior das especializações da profissão mais antiga do mundo. Resignava-se, pois claro, mas a frustração ia com ele para todo o lado, não lhe dava tréguas. O simples gesto de ir à casa de banho e desembainhar o pau para mijar lembrava-o da sua permanente tragédia. Já não sabia o que fazer…
Tentou levá-la a um psicólogo mas ela insurgiu-se:
– Para quê, também queres que o chupe? Olha o tarado que me saíste...
Mostrou-lhe vídeos, deu-lhe livros, escreveu-lhe versos cheios de rimas sugestivas, broche com fantoche, pátio com felatio, garupa com chupa-chupa, mas nunca lhe conseguiu cativar o interesse.
Lambeu-a ele a ela, que se desvairou toda, veio-se por todo o lado, com certeza agora percebia o potencial, pensou ele... Só que não.
Por fim fez-lhe um ultimato, não queria passar o resto da vida a imaginar que nunca mais se iria esporrar numa boquinha suculenta de mulher. Disse-lho com todas as letras:
– Ou me chupas a gaita ou bato com a porta e vou-me embora!
– E vais para onde, se não tens onde cair morto? – respondeu-lhe ela, sem medo nenhum das suas ameaças. – Aguenta, filho, que eu também aguento muita coisa... – rematava.
E isto que, no resto, ela nunca fugira às responsabilidades conjugais. Deixava meter dedos, deixava meter língua, deixava introduzir dildos e leguminosas, dava o cuzinho como uma porteira esfomeada…. Estava sempre pronta para uma foda. Mal intuía que ele tinha tesão, começava logo a baixar as cuecas, escancarava-lhe a pintelheira a fumegar e chamava:
– Anda cá, paizinho, vem fazer meninos com a tua mulherzinha!
Só aquilo de chupar pilas não a interessava, não lhe dava jeito, tinha amigas que faziam e gostavam mas não era para ela.
Já ele não era verdadeiramente infeliz, pois não lhe faltava alimento, ela abria-lhe as pernas sempre que ele queria. Mas vivia com esse tormento, sentia falta duma língua quente a derreter-lhe a cabeça do corneto, ansiava por uns lábios grossos a abocanhar-lhe o pescoço palpitante do caralho.
Muitos anos de desconsolo foram necessários para que ele se aquietasse na sua própria desistência, rendido às evidências: dali nunca arrancaria saliva nenhuma para lhe envernizar o tarolo!
Mas tudo mudou um dia, como sempre muda, infelizmente da pior maneira...
Foi ele que levou a malta das cartas lá para casa, na noite em que faltou a luz na sociedade onde costumavam jogar à batota. Ela fez café, serviu vinho e não se opôs, gostava da companhia, duma boa festazinha espontânea. Dava-lhe um motivo para se vestir bem e fazer inveja aos outros homens com a sua sensualidade natural. Além disso, ela própria tinha um bom bluff e não raras vezes acabava as noites ganhando consideráveis maquias.
Não foi exactamente assim naquela noite, pois então o azar ao jogo teimou em confirmar, jogada a jogada, a sorte que tinha ao amor... Por volta das duas da manhã, encontrando-se já despojada de toda a verba investida durante o serão, e sem nada mais de valor para apostar, deu-se o impensável.
Verdade seja dita que só o fez por sentir total confiança no desfecho. O par de reis que tinha em mãos, acompanhado por dois solícitos valetes, garantiam-lhe, a uns bons 90 por cento, fazer naipe vitorioso e limpar a mesa, onde à altura já se juntavam mais de 100 euros. Confrontando-se precisamente com o marido, apostou o que sabia ter valor para ele, por mais que odiasse fazê-lo:
– Sim, caramelo, ouviste bem: aposto um broche!
A ele quase lhe saltaram as lágrimas dos olhos, porquanto podia ser, e era, carente de bisca lambida, mas tal não o habilitava a ser estúpido. E sabia que, para ela apostar assim, era porque estava absolutamente certa da vitória!
“Tão perto e ao mesmo tempo tão longe”, pensou.
Mas aceitou a aposta, claro, enquanto há vida há esperança...
O que ela não esperava era que, em face da sugestiva promessa, os outros parceiros, que anteriormente pareciam desinteressados da jogada, tivessem reconsiderado e decidido todos ir a jogo! O que significava que, perdendo, não só ela teria que executar um broche ao marido mas, também, aos restantes comensais…!
Nervosa, ela riu às gargalhadas para disfarçar o receio. Na verdade, a situação, ainda que perigosa, não deixava de ser lisonjeira para a validação da sua sensualidade. Sentiu mesmo um traço de humidade perpassar-lhe a racha, molhando-lhe as cuecas…
Mas, por qualquer motivo, talvez o sexto sentido feminino a carburar, a partir desse momento começou a sentir dificuldades em engolir…
Enquanto isso, os respeitáveis adversários – respeitáveis até esse momento! – começaram a olhá-la doutra maneira. Nas suas cabeças desfilavam agora imagens e fantasias, cada qual mais luxuriante.
Ainda que eles não tivessem feito nada (para já!), ela sentiu-se instintivamente rodeada, como se tivesse caído numa emboscada da qual não poderia sair. Pareciam, pois, cada um por seu lado, estar a adivinhar o que se iria seguir…
Chegado o momento de pôr as cartas na mesa, o pior aconteceu: os seus dois reis, mesmo acompanhados pelos inúteis valetes, não chegaram para as quatro quinas que o marido depositou no pano verde. Não havia como dar a volta: ela tinha perdido a aposta!
O que se passou a seguir significou o pior e o melhor dia da vida do marido enjeitado. Por fim teria o seu tão desejado broche, mas tê-lo obrigava a partilhá-lo com outros cinco violinos, que começavam já a baixar as calças e a exibir as respectivas ferramentas, de formas e feitios diversos.
Aí ela sabia que não podia escapar: por muito que lhe desse vómitos, por muito que os paus hasteados à sua frente cheirassem a carniça antiga, por muito suados que viessem independentemente da conjugação dos astros, sabia que as dívidas do jogo são sagradas...
Então bebeu um bom trago de vinho, como para enxaguar antecipadamente a boca para o que a esperava, e pôs-se de joelhos. Estava pronta!
Chupou primeiro o marido, longamente, porque ele fez tudo para fazer durar a mamada…
Sentia-se como o homem que perdeu o paraíso mas enfim o reencontrou! Ainda assim, não se quis vir na boca dela...
Quando ela começou a chupar o segundo, bastante maior e mais grosso que o dele, pôs-se atrás dela, levantou-lhe a saia, baixou-lhe as cuecas e meteu-lhe o nabo babado no cu!
Ela protestou mas também gemeu e, imediatamente, um cheiro a sexo arrecadado irrompeu pela sala, ofuscando o aroma do tabaco que até aí ia definindo a atmosfera.
Continuou a enrabá-la enquanto ela chupava os outros, um a um primeiro, depois vários ao mesmo tempo.
Eventualmente, acabou por receber na boca, na cara, nos cabelos, na roupa desconjuntada, os jactos de esporra que eles disparavam ao atingir o orgasmo.
Doía-lhe o maxilar, via estrelas no céu da boca, sentia já a língua morta de lamber, sugar e mamar tanto caralho, mas nunca se queixou. Apostas são apostas.
Só continuava, levemente, a queixar-se do marido, que marrava em cima dela como se lhe quisesse partir o cu:
– Ai, paizinho, que bruto! Isso não era parte da aposta... – reclamou ela.
Mas ele, cego de tesão, não estava pelos ajustes:
– Aguenta, filha, que eu também tenho aguentado muita coisa...
Disse-o no exacto momento em que, finalmente, lhe desentupiu o olho do cu, deixando-o aberto e gotejante.
Então sim, voltou a enfiar-lhe a picha nas goelas e veio-se profusamente, em golfadas enormes e pastosas.
– Engole tudo, querida, engole o leitinho todo do teu marido!
Finda a cobrança, acabaram todos a bater palmas, vencedores por uma vez do invencível destino dos jogos de azar.
Uma alegria contagiante e unânime iluminava o pequeno salão, dominado agora pelo odor a picha, a esporra, a rabo exposto e saciado.
O que tinha começado tão torto, encontrara maneira inusitada mas certa de se endireitar. Por isso, todas as partes estavam felizes.
Tanto mais que, como sempre acontece nos jogos e casinos, o bolo maior saiu à casa. Porque a partir desse dia, e durante todas as seguintes noites de jogatana lá em casa, não mais ela recusou receber pau e abocanhar caralho na sua boca gulosa.
Nem o dele, refira-se, nem o dos outros...
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com