09 março, 2023 A amante desprezada
Pequeno diário de uma mulher enjeitada carente de piça.
13h07
Porque é que um um gajo se dá ao trabalho de arranjar uma amante se depois não a vem foder?! Esta era a pergunta que me passava pela cabeça sempre que chegava a hora marcada do nosso encontro e ele não aparecia...
O nosso acordo, ao início, era que ele me avisava com uns dias de antecedência. Depois passou a ser apenas na véspera. E agora é quando lhe apetece, às vezes meia hora antes. Isto porque tem uma vida muito ocupada, diz ele, “com muitas responsabilidades”. Como se eu também não tivesse mais que fazer senão esperar sua excelência quando lhe dão os apetites!
Ainda por cima, não é que ele me dê alguma coisa que se veja. Não me arranjou casa, nunca me pagou a renda, vá lá um jantar numa tasca de vez em quando, uma espelunca qualquer num beco escuro para não correr o risco de algum dos seus amigos importantes o surpreender.
Também porque eu disse-lhe sempre que não queria nada dele, nunca quis que ele me visse como uma prostituta e, acima de tudo, nunca quis sentir que a nossa troca fosse uma transação.
Mas, foda-se, há mínimos, não?! Uma raminho de flores, uma caixa de bombons, um perfumezinho barato… Pois nada, só umas fodas cada vez mais apressadas, nos intervalos da sua disponibilidade, porque sua excelência tem “responsabilidades”. Bardamerda!
E eu que nunca dificultei... Nunca lhe pedi nada, nunca exigi que largasse a mulher, porque obviamente ele nunca o faria – os homens nunca o fazem, por algum motivo são os clichés ambulantes que todas conhecemos.
Não lhe pedi fins-de-semanas só nossos, férias em resorts paradisíacos, nem sequer parceria romântica no euromilhões, para podermos dizer que tínhamos uma coisa só nossa...
A única coisa que lhe pedi foi que respeitasse os nosso encontros, para saber que ele me considerava, para não me sentir uma parva ao serviço de sua majestade… Mas nem isso ele já faz. Portanto, volto a perguntar, qual o sentido de querer uma amante?!
Com esta são pelo menos umas dez vezes que me falha, digamos, nas últimas quinze vezes que combinámos. Mais uma vez, avisa-me com uma hora de antecedência.
Aí vou eu, que não estava nada à espera, lavar a cona, não muito porque ele não gosta, passar a esponja pelas mamas, rapar apressadamente os sovacos, vestir a lingerie mais porca que tenho, porque é o que a mulher dele não lhe dá.
Aí vou eu meter gel e enfiar o plug no cu, para depois não me doer tanto, porque isso ele não dispensa, foi para isso que arranjou uma amante, porque isso a mulher nunca lhe deu.
Aí fico eu, toda pronta, toda puta, mais nua que vestida, a tremer de frio e de excitação, com um naco de borracha no cu, de perna trocada e pintelheira à mostra, à espera. E o que faz o estafermo?! Liga a dizer que: afinal, desculpa, mas não consigo ir, aparecerem aqui uns clientes importantes, fica para a próxima, eu depois ligo a avisar, ok? Não, simplesmente não aparece, não avisa, não diz nada!
E podem passar até 15 dias até ligar de novo, cheio de pressa, a dizer que me prepare, que lave a cona mas não muito porque ele não gosta, que passe só uma esponja nas mamas e rape os sovacos que ele daqui a meia hora estará cá para me dar uma foda que nunca mais esquecerei...
Ainda se fosse! Mas nem isso, um amante normal, normalíssimo, sem empenho, sem imaginação, sem tempo… És toda boa, adorei, mas tenho que ir, tenho uma reunião agora às 3 e meia.
E eu?! Ainda não me vim…!
Sabes entreter-te sozinha, não precisas de mim para isso, diz-me o imbecil...
Pergunto-me se faz o mesmo à mulher e, se sim, e já que ele nunca a irá deixar, porque não a deixa ela?! Um gajo sem sal, sem açúcar, sem tempero de espécie nenhuma, que trata as mulheres como lixo... Se calhar ela gosta... Eu cá não, sou muito mulher, sou muito eu!
Se digo isto não é para me queixar, é porque ele disse que vinha à uma e são uma e um quarto, ou seja, sou eu, de perna aberta, à espera dele no quarto, e ele nada, nem uma merda dum telefonema a desmarcar!
Se alguém me puder explicar o que tudo isto significa, por favor, não se acanhe, porque eu já não percebo patavina!
13h59
Esta é nova! Agora liga-me a dizer que não pode vir à hora marcada mas que tem uma aberta às 4 e meia. Uma aberta?! Aberta estou eu aqui à espera dele!!
O que é suposto eu fazer agora?! Esperar, de perna aberta, de pintelheira fria, até às 4 e meia?! Com uma narça de plástico enfiada nas nalgas?! É que já me dói o cu!
Vou tirar isto, aliás, não sei porque me dou ao trabalho, nunca está mais de cinco segundos lá dentro, nem sequer chega a doer, vem-se logo, nem pede desculpa...
Já sou mais eu que tenho vontade que alguém me pregue uma enrabadela como deve ser, porque ele, um coninhas com ejaculação precoce, nunca o faz, fica desvairado só de olhar para o buraco, aberto e lubrificado, mal o mete e esporra-se todo. E logo a seguir: bem, tenho que ir, o trabalho não espera. E eu, caralho?! E o meu desejo, foda-se?! Quem é que me trabalha a mim?! Quem é que me vai ao cu?! Quem é que me faz vir?!
Vá, diz ele, não sejas parva, não precisas de mim para isso...
Pergunto-me, aliás, olhando para o plano geral das coisas, para que raio preciso dele?! Se alguém souber, por favor, que me diga…
Nem sequer dorme comigo. Não tenho um homem para me agarrar à noite, não tenho um macho que me agarre à noite, bem vistas as coisas, não tenho nada que me agarre aos dias e dias que passo sem saber nada dele, sem que se digne dar-me um telefonema a dizer que tem saudades minhas, que sente tesão por mim, que anseia pelo nosso próximo encontro, que aí é que me vai partir a cona toda, aí é que me vai rebentar o cu, aí é que se vai esporrar todo na minha boca de porca...
Nada, positivamente nada! Um traste, um inútil, um imbecil!
E eu, uma parva, aqui feita estúpida, de perna aberta, à espera dele…
Vou mas é ver a novela da tarde, o gajo que se foda, estafermo cabrão filho da puta!
14h32
O que eu devia fazer era arranjar o meu próprio amante... Isso é que o punha em sentido. A ver se ele gostava... Assim não se perdia tudo, aliás, não se perdia nada... Ele ligava a dizer que vinha, eu lavava apressadamente a cona mas não muito, passava a esponja pelas mamas, a lâmina pelos sovacos, enfiava o plug no cu, a lingerie sem cuecas e, quando chegasse a hora e ele não aparecesse, ligava ao meu amante e perguntava-lhe: o que estás a fazer?
Eu estou aqui, com a coninha lavada, com os mamilos tesos, com os sovacos lisos como o rabo de uma foca bebé, com os pintelhos arrepiados de frio e tesão… Não queres vir cá aquecer-me? Não queres vir cá foder-me? Não queres vir cá enfiar-me esse caralho de garanhão no cu?
Aposto que o punha cá em cinco minutos. Aposto que em meia-hora o punha a esporrar-me a boca toda... Isso é que eu devia fazer!
Mas não, aqui estou eu, feita parva, à espera de sua excelência excelentíssima, com as bordas enregeladas e um ramo de figueira enfiado nas nalgas, a ver o tempo a passar, a criar príncipes e monstros na minha expectativa, já sem sequer acreditar que algum dia as coisas irão ser diferen… Esperem, estão a bater à porta! É ele, só pode ser ele!! Viva!!
Para se ver como são as coisas… A vida é uma coisa maravilhosa! Eu aqui a queixar-me e a desesperar e afinal ele veio, porque não consegue estar nem mais um minuto longe de mim!! Finalmente teve uma aberta e quer abrir-me toda!
O meu amorzinho lindo, espero que seja ele, o meu amante, a minha paixão, o meu mais que tu...
14h38
Não era ele. Era só o carteiro... Bah!
00h16
O que é que querem, uma mulher não é de ferro... Sim, fodi o carteiro.
Pelos vistos ele estava a precisar tanto como eu. Mal abri a porta percebi que gostou do que viu. É que com a expectativa, nem me lembrei de me vestir, vejam lá... Abri-lhe a porta com a cona lavada, os pintelhos arrepiados, os mamilos tesos, os sovacos lisos, a lingerie de mulher da vida… Nem tive tempo de olhar bem para ele.
E o melhor de tudo foi quando o meu amor, que entretanto teve outra aberta, chegou e deu com outro homem todo enfiado em mim, até ao fundo do meu cu!
Nunca ninguém me tinha enrabado assim! Nunca ninguém me tinha feito gemer assim! Nunca ninguém me tinha feito vir assim!
Até o meu queridinho concordou, ele que conhece tão bem os meus gemidos e tão mal os meus orgasmos...
O pobrezinho ficou tão perturbado com o que viu que não me quer largar. Fodemos a tarde toda. Depois jantámos e fodemos a noite toda. Agora está aqui a dormir ao meu lado, quis passar a noite.
Antes de adormecer, depois de lhe bater uma punheta, até falou em casamento.
Eu não acredito que ele alguma vez vá largar a mulher. Eles nunca largam… Mas, quem sabe se é desta que fazemos uma parceria no euromilhões, para termos uma coisa só nossa?
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com