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29 setembro, 2022 Sem Palavras

Passeávamos muito, sem dizer uma palavra. Ao fim do dia íamos para a casa dele...

Nunca falámos. Foi assim desde o início, na noite em que nos apresentaram. Eu tinha dito à minha amiga que andava precisada de homem, não tanto de paixão mas de picha, de um bom caralho que me levasse, no mínimo, à periferia de um orgasmo. Ela pensou nisso quando o trouxe até mim. Não o conhecia bem mas tinha ouvido coisas sobre ele.

Sem Palavras

Olhámos um para o outro e acho que posso dizer que os dois gostámos do que vimos. Mas vimos logo, também, que não tínhamos nada para dizer. O que não nos impediu de foder no final dessa mesma noite, já com o dia a clarear, no banco de trás do carro dele.

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Começámos com beijinhos inocentes e como ele não se decidia, puxei-lhe pela mão e meti-lha debaixo da saia. Na altura, eu já escorria e quando me acariciou as mamas, depois de me massajar a racha, vinha com os dedos molhados do meu sumo.

Fui eu que tratei dele, que lho pus para fora. Não era muito comprido mas era grosso, os meus dedos mal lhe conseguiam abraçar o diâmetro.

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Apertei-lho algumas vezes, arrancando-lhe suspiros profundos e isso acabou por motivá-lo em definitivo. Galgou para cima de mim, um bocado desajeitado pelas limitações de espaço, mas não me importei, porque quando me penetrou e o senti entrar em mim, a grossura dele pôs-me a electricidade a correr pelo corpo todo.

Ele aguentou-se bem, nem demasiado rápido nem demasiado longo, e esporrou-se dentro, o que não é de todo a minha preferência, gosto de ver a explosão, mas vinha quente e deu-me conforto.

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Não me deixou perto do orgasmo mas gostei da viagem, encaminhou-me, e chegada a casa, tratei do assunto pelas próprias mãos. Vim-me duas vezes a pensar no caralho dele e, no geral, fiquei com boa impressão.

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No dia seguinte, encontrámo-nos para almoçar. Com isso ficámos a saber que nem para ele, nem para mim, tinha sido uma coisa duma noite. Que talvez pudéssemos experimentar qualquer coisa juntos, talvez não necessariamente um futuro, mas algo comum.

Ainda assim, tirando os cumprimentos iniciais, olá estás boa, olá e tu como estás, dormiste bem, sim e tu, percebemos rapidamente que não tínhamos mais assunto. Ficámos a olhar um para o outro, outra vez, em silêncio, um pouco tímidos no início, menos a seguir.

Depois da sobremesa, como a ele nada lhe ocorria e a mim ainda menos, fodemos na casa de banho do restaurante e quando chegou a conta já nos sentíamos mais à vontade, íntimos até.

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Era nítido para ambos que não tínhamos nada a ver um com o outro. Ele trabalhava numa serração, o que não me interessava minimamente. Eu estava na repartição e ele não podia estar mais desinteressado sobre o meu dia. Eu gostava de artes e cultura, que não lhe diziam nada, e ele gostava de bola, o que me aborrecia de morte.

Passávamos as noites no cinema, onde não se podia falar, o que nos convinha, mas também não víamos os filmes. Ficávamos nas cadeiras escuras a beijar-nos e a apalpar-nos. Ele metia-me a mão dentro das cuecas, eu punha-lhe o pau para fora e chupava-o.

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Depois íamos para o carro, eu batia-lhe punhetas e ele fazia-me minetes. No fim da noite, levava-me a casa e fodia-me à canzana, contra a porta. Vinha-se nas faces nuas do meu rabo, a meu pedido, deixava-me a escorrer e ia-se embora. Era descomplicado. Eu andava feliz.

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O tempo foi passando e fomos ficando mais próximos, mais cúmplices no nosso silêncio. Era como se ele se estivesse a cagar para mim e eu para ele. Não tínhamos silêncios desconfortáveis. Pelo contrário, era a nossa forma preferida de comunicarmos um com o outro.

Passeávamos muito, quilómetros e quilómetros, a pé ou de carro, sem dizer uma palavra. Ao fim do dia íamos para a casa dele.

Umas vezes fazia eu o jantar, outras fazia ele, outras mandávamos vir. Depois eu ia dormir, ele ficava na sala a ver os programas da bola.

Quando ele chegava à cama, não dizia nada. Se eu estivesse de costas ia-me ao cu, se eu estivesse de frente ia-me à cona. Fazia-me sempre vir e foi aí que eu percebi que talvez fôssemos algo mais do que meros amantes, almas gémeas talvez.

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A nossa vida era, pois, quase inteiramente sexual. Para a vida social recorríamos a outros processos. Saíamos muitas vezes com os amigos.

Aí, era como se dentro de nós emergissem seres diferentes. Ele não parava calado, falava de tudo, parecia que sabia tudo sobre tudo, chegava a irritar. Já eu parecia uma gralha, não sabia nada de nada, mas não queria saber. As palavras vazavam de mim como um acumulado que só precisava da última gota para transbordar.

Eram serões muito divertidos, que nos enchiam de bons sentimentos, os quais derivavam em tesão, que ia aumentando com a passagem das horas.

Quando nos reencontrávamos para voltar a casa, invariavelmente acabávamos num bosque qualquer, cheios de urgência, a foder como coelhos, porque não podíamos esperar até chegar ao quarto.

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Agradeci cem vezes à minha amiga por nos ter apresentado naquela noite. Era o homem ideal para mim, roçava-me as bordas e roçava a perfeição. Sabia foder-me como eu gostava, nunca falhava um orgasmo, e não tinha que aturar as suas merdas masculinas, nem ele as minhas paranóias de mulher.

Infelizmente, como diz o povo, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.

Uma tarde, sem nada o fazer prever, encontrei-me com ele para almoçar como fazíamos quase todos os dias. Antes de sairmos do carro pedi-lhe para o mamar um bocado, o que ele permitiu até explodir na minha boca.

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Ainda ia a  lamber os lábios quando entrámos e ele me apresentou a senhora sua mãe, que já estava na mesa. Fiquei petrificada, pois isso significava avançar um passo na relação.

Senti o medo subir-me pelas pernas, até estacionar no centro da minha vulva, matando-me qualquer resquício de tesão que ainda pudesse ter...

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Não sei, nunca percebi, o que leva as pessoas a quererem melhorar aquilo que é perfeito. Como eu temia, pediu-me em casamento...

Nós nunca falávamos. Mas dessa vez deixou-me sem palavras.

Levantei-me da mesa prometendo voltar brevemente, ia só à casa de banho. A caminho para os lavabos saí pela porta da rua e nunca mais voltei.

Armando Sarilhos 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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