26 fevereiro, 2021 O chantagista
– Então muito boa tarde, Dona… ora deixe-me cá ver… Dona Emília. Emília Fernandes, 48 anos, doméstica. Devo confessar que, depois de passar brevemente os olhos pelo seu dossiê, me ofereci expressamente para a entrevistar.
Está confortável? Posso oferecer-lhe alguma coisa para beber? Não? Bem, tente relaxar, quanto mais cedo despacharmos isto mais depressa pode voltar para casa e para o seu… ora deixe-me cá ver… Edmundo. Edmundo Fernandes, 61 anos, torneiro mecânico, desempregado. Portanto, mais velho 13 anos que a senhora, certo? Vejo que casou cedo, aos 16. Grávida, claro. O seu marido tinha 29.
Suponho que seja frequente, no campo, este tipo de casamento… Está calor, há tempo e espaço para a contemplação, toda a gente se conhece, os homens vêem as raparigas florescer, deixarem de ser meninas, ganhar corpo… Andam por ali agachadas em trabalhos… Um dia, um encontro fortuito à beira de um riacho, ninguém à vista… É fácil deitar umas palavrinhas, um pequeno jogo de sedução. Elas são influenciáveis, muitas já brincaram aos médicos com os meninos, sentem o fogo no corpo… Deitam-se, não há nada mais saudável que suspirar de amores…
Claro, 9 meses depois vêm as consequências e o destino irremediavelmente traçado. Mudança para a cidade grande, habitação no bairro social, emprego precário. Ela nas limpezas, ele nos trabalhos pesados, ambos mal pagos. Poupar é uma palavra fora do seu vocabulário, vivem cercados na pobreza calma dos sobreviventes...
Peço desculpa, estou a divagar. Acho-a interessante, porque a senhora é um cliché, e eu tenho absoluto fascínio por clichés. Apaixona-me o que é banal, o que é mundano e sujo. Sabe, o ouro, o limpo, o imaculado são coisas que ferem a minha sensibilidade. Prefiro o óleo queimado, a lama, o fedor, porque aí é possível encontrar a verdade humana. Uma coisa limpa não cheira a nada, não tem genuinidade. Não há nada puro em algo impolucto. Mas há muita verdade no corpo de uma prostituta depois de fazer sexo consecutivamente com seis desconhecidos. A verdadeira pureza está na decomposição inevitável e natural de todas as coisas, sobretudo as humanas.
Mas não quero confundi-la. Nem veio aqui para ouvir as minhas teorias disparatadas… Penso que chegou a altura de me apresentar. Chamo-me Carlos Augusto Milverton e sou um dos sócios fundadores da empresa que a seleccionou como vencedora de um concurso para donas de casa, com um prémio no valor de mil euros.
Duas coisas que tem que saber desde já: primeiro, esse concurso nunca existiu, foi apenas um pretexto para a trazer até nós; segundo, não há qualquer prémio ou recompensa da nossa parte, mas precisamente o contrário: é a senhora que terá de nos pagar! E, garanto-lhe, fá-lo-á por ser do seu exclusivo interesse…
Na verdade, a empresa de fachada que a contactou não passa de um pequeno grupo de detectives privados que investigam por conta própria e vendem depois as informações ao melhor preço. Percebeu? Talvez perceba melhor se eu usar um termo mais simples: nós somos, minha cara senhora, os seus chantagistas!
Quer saber o que diz o seu dossiê, coligido por um dos nossos melhores investigadores?
«Emília Fernandes, moradora em… bla, bla, bla, bla, bla, bla… mantém desde há pelo menos 2 meses uma relação extraconjugal com Germano Sabre, dentista. Os encontros são consumados no horário da consulta, a uma frequência semanal, no laboratório prostético contíguo ao consultório, e pontualmente assistidos pela funcionária. Ambos, médico e funcionária, são divorciados, razão pela qual estão fora da nossa esfera de acção.
Anexas as provas fotográficas, recolhidas pela câmara oculta instalada por nós em… bla, bla, bla.
Uma vez que a família Fernandes usufrui de baixos rendimentos, recomenda-se extorsão no montante máximo de mil euros.»
Portanto, Dona Emília, para não a fazer perder mais tempo, isto é o que temos sobre a mesa… Hipótese um: a senhora paga-nos mil euros e nunca mais ouve falar de nós; hipótese dois: a senhora não nos paga e o seu marido recebe em mãos um envelope com as provas fotográficas da sua traição.
Compreendo que esteja nervosa. Mas, convenhamos, é o que acontece quando cometemos indiscrições, tornamo-nos vulneráveis... Pelo que sabemos, o seu marido é um homem trabalhador, não se mete no álcool e nunca lhe bateu. Não será, talvez, o homem mais afectuoso do mundo, mas sempre lhe foi dedicado e nunca lhe deixou faltar nada. Será um rude golpe para ele descobrir a sua traição. Um golpe do qual pode até nem recuperar… Já vê que está tudo nas suas mãos.
Há ainda uma hipótese três, que é uma prerrogativa apenas dos sócios maioritários. Quando achamos oportuno, permitimos à nossa vítima formas de pagamento alternativos. Pode ser qualquer coisa. Não exagero se lhe disser que já fomos pagos com porcos e galinhas. No meu caso, não pretendo ser tão excêntrico. Gosto de si. Gostei assim que vi as suas fotografias com o dentista. A senhora tem um corpo verdadeiro, um corpo de fêmea, de mulher a sério. Por isso, estou disposto a conceder-lhe essa última hipótese.
O que lhe proponho é o seguinte: durante a próxima meia-hora, a senhora compromete-se a fazer tudo o que eu mandar. Seja o que for, sem questionar. Se o fizer, as fotos serão suas, o seu casamento está salvo e nunca mais me verá na sua vida.
O que me diz? Quer 10 minutos para pensar? Não? Muito bem. Tinha esperanças em que nos puséssemos de acordo. Sendo assim, não percamos mais tempo… Abra as pernas.
Não se faça de parva, percebeu o que eu disse... Sem questionar, esse é o acordo. Então porque espera? Abra as pernas! Mais. Puxe a saia para cima. Devagar. Isso.
Desabotoa a camisa. Tira as mamas para fora do soutien. Deixa estar, eu ajudo… Lindas! Adoro esses mamilos largos e rosados…
Agora baixa as cuecas. Ouviste o que eu disse. Aha… Era isto que eu queria ver! Abre mais, filha. Mais, até descolares os lábios... Linda! Amo essa pintelheira negra, é simplesmente maravilhosa! Deixa-me apalpar essa carpete felpuda…Humm, macia…
Não estás excitada? Toma, mete isto na boca para ver se te inspiras. Isso, até bem ao fundo. É grande, não é? Na nossa família somos todos assim, grandes caralhos… Todas as nossas mulheres têm andares esquisitos, porque para além do tamanho temos muita líbido e não dispensamos fazer o amor duas ou três vezes por dia. Coitadas, andam sempre todas partidas… Eu daqui ainda vou hoje foder a minha esposa, mais lá para a noite. Está habituada. Se não tem é como se falhasse um remédio, ninguém a atura.
Mas fica descansada que não te deixo sem te empacotar meio litro de esporra no cu. Eh, pssht, calada. Anda cá, assim. Debruça-te na mesa. Levanta o cu. Mais! Afasta as pernas um bocado. Tens uma cona linda, o teu marido só pode ser um homem feliz.
No entanto, o que te trouxe até mim foi… isto! Eh, não grita, é só um dedo. O teu marido não te enfia o dedo no cu de vez em quando? Bem, pelo aperto suspeito que não. É terreno tabu no casamento? O teu marido nunca te enrabou, nem uma vez? Nem o dentista? É pena… Já viste o tamanho do cacete que te espera, não vai ser fácil enfiá-lo todo nesse cuzinho…
Mas ainda temos… 20 minutos. Havemos de lá chegar. Vês, vou só meter a cabecinha… Vá, pshiu, calma… Assim… Aguenta agora… Ahh, pronto, a cabeça entrou… Vá, não grita, aguenta! Vá, vou meter mais um bocado…
Sabes, nós não éramos ricos, mas tínhamos uma empregada. Uma empregada novinha com quem, passado um mês, o meu pai e os meus irmãos já se tinham deitado. Eu era o mais velho, já tinha namoradas, e não me interessava aquele pedaço de carne só porque era fácil. No entanto, havia uma lição que ela ainda não tinha recebido e precisava garantidamente de receber. Um dia puxei-a para o meu quarto e pu-la como tu estás agora, debruçada na secretária. Baixei-lhe as cuecas e nem lhe disse bom dia, enfiei-lhe esta narça gigante no buraco do rabo. Gritou, chorou, sangrou…
Mas saiu dali com a lição bem sabida. Uma mulher que se dedique às limpezas tem obrigatoriamente que levar no cu. Porquê? Porque pelo tempo que passa dobrada, agachada, de cu para o ar, tem que saber que mais cedo ou mais tarde vai levar com um por trás. Logo, é uma cortesia profissional ter o buraco devidamente experimentado.
É essa lição que também vais levar daqui hoje, querida Emília, doméstica de pintelheira épica, com o melhor rego de nalgas que já vi!
Agora sim, és uma mulher a sério! Este cacete monstruoso que neste momento te empurra o cagalhão pelo intestino, é o derradeiro certificado de habilitações da tua carreira! Agora sim, podes dizer que és uma mulher da limpeza!
Desculpa, mas vou gritar como um elefante enquanto me venho dentro do teu…
Ah ãh ah ãh… Aaaaaãããããaaahhhhhhhhh!!!!!!!!!!...................
Minha querida senhora… Espero não a ter assustado com o meu urro. Às vezes consigo ser um animal. A minha mulher está-me sempre a dizer... Quando monto uma fêmea como a senhora ou como a minha mulher, e a minha mais velha vai pelo mesmo caminho, torno-me apenas num macho, sem qualquer acompanhamento racional. Não sou mais do que um pénis humano com pouca cabeça e muita vontade.
Enfim, quando quiser é livre de partir. Leve as fotografias, são suas. São um bom trabalho, se um dia quiser publicá-las sei quem lhe paga um bom dinheiro. Há muito público adepto de uma boa dona de casa, assim pintelhuda e de coxas fartas como a senhora. Mas não se levante, fique o tempo que quiser para se recompor…
De resto, as nossas contas estão saldadas. Foi um verdadeiro prazer conhecê-la, Dona Emília Fernandes. Se porventura o futuro quiser que nos reencontremos, não será com certeza um momento para esquecer…
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com