28 outubro, 2021 As monotonias do sexo conjugal
Repórter Sarilhos investiga!
Sérgio e Isaura estão casados há 4 anos. São um casal perfeitamente normal, com as ambições e as dificuldades de qualquer casal. O que porventura os distingue de outros como eles é a abertura com que falam de temas que, para muitos, ainda são tabu. Por exemplo, sobre o sexo no casamento.
“Ao princípio não nos largávamos”, conta Isaura. “Era uma vez por dia, pelo menos”, confirma Sérgio. “Bastava que eu fosse ao quarto mudar de roupa, ou estivesse a tomar duche, ou me passeasse pela casa só de t-shirt… O Sérgio atirava-se logo a mim!”
“Andava sempre de pau teso”, explica o marido.
“É natural quando o amor é novo, quando ainda há tudo para conhecer. De resto, foi assim logo que nos conhecemos, percebemos imediatamente que éramos ambos pessoas muito sexuais”.
“Há várias coisas que suportam um casamento”, entende Isaura. “Para certas pessoas é a comunicação, o contar tudo um ao outro, passam o tempo a falar. Para outras é a aventura, fazem tudo juntos, como uma equipa. Para nós foi sempre o sexo”. “Não somos as pessoas mais eloquentes, acho”, reforça Sérgio. “Não precisamos de muita conversa. A nossa conversa é outra…”
Um episódio, entre tantos, simboliza bem a forma como o amor funcionava para eles:
“Uma vez o Sérgio foi numa viagem de negócios ao estrangeiro, esteve uma semana fora. Lá arranjámos um fuso que convinha a ambos e nos primeiros dias falávamos ao telefone. Até percebermos que pouco ou nada tínhamos a dizer”. “Eu estava atascado no trabalho e percebi que, se a mim aquilo já pouco dizia, muito menos diria à minha mulher. Deixámo-nos disso”, remata Sérgio.
“Quando Sérgio chegou eu estava a cozinhar. Como sempre, tinha a música alta e nem dei por ele entrar. Então, de súbito, senti a saia levantar e as cuecas a baixar e quando dei por ele estava-me a ir ao cu! Havia uma semana que não nos víamos e nos seguintes 15 minutos continuei sem o ver, porque estava de costas viradas para ele!”, conta Isaura, rindo.
“Às vezes estávamos noites inteiras sem dizer uma palavra. E isso não nos incomodava, nem a um nem a outro”, narra Sérgio. “Até que, do nada, a Isaura vinha ter comigo, abria-me a braguilha e começava a chupar-me o caralho”.
“Também houve aquela vez em que, não sei porque cargas de água, recebemos a visita dum casal que tínhamos conhecido num bar. Eles estavam a falar da vida deles, que eram felizes a fazer isto, que só se sentiam bem a fazer aquilo, etc. Falavam, falavam e falavam. Vendiam a apologia do diálogo como se fosse a última bolacha do pacote, um começava as frases e o outro acabava-as. Já não os podíamos ouvir!”
“A dada altura, a Isaura levantou-se e disse que ia buscar bebidas. Eu fui atrás dela para ajudar. Não dissemos uma única palavra, chegámos à cozinha e fodemos como animais em cima da bancada. Nem sequer tivemos a decência de fazer pouco barulho”, completa Sérgio.
“Viemo-nos praticamente ao mesmo tempo e gritámos como dois perdidos. Obviamente, quando chegámos à sala eles sabiam o que tínhamos estado a fazer. Quer dizer, como não…”. “Nem chegaram a tocar nas bebidas, cinco minutos depois arranjaram uma desculpa e foram-se embora. Não sei o que eles pensaram, mas ficaram sem vontade de dizer mais nada!”
Claro que, depois do idílio, começaram os tradicionais problemas. “Depois de 4 anos, já não havia surpresas. Eu conhecia o corpo da Isaura de cima abaixo e a Isaura conhecia o meu de baixo acima. E um dia percebemos que já pouco fodíamos”.
“Nessa altura, quando se percebe uma coisa assim, vêm-nos muitas coisas à cabeça. O amor acabou? O casamento acabou? Fosse o que fosse o que um dia nos tinha unido, parecia definitivamente esgotado. Cheguei a pensar em procurar outros homens.”
“Passámos pelas fases todas. Falámos em dar um tempo, considerámos o divórcio… Até que percebemos que o que estava a acabar connosco era a rotina. Por exemplo, a Isaura sempre andou em casa sem cuecas, e eu sempre a adorei por isso. Mas a partir de um certo momento, era apenas uma imagem banal, uma cona da vida, só mais um instantâneo da nossa paz quotidiana. Deixou de haver uma ligação directa entre a nudez e a tesão. E essa ideia caiu-nos em cima como uma condenação. Percebemos que se queríamos continuar a apostar na nossa relação, tínhamos que matar a rotina para impedir que ela nos matasse a nós”.
“Foi quando experimentámos ir para sítios onde geralmente não iríamos. A primeira vez foi no dentista. Eu tinha consulta e o Sérgio foi comigo. Disseram-nos para esperar, que era rápido, dois minutos no máximo. Então peguei-lhe pela mão e fomos os dois para a casa de banho. Mal entrei baixei as cuecas e levei-lhe a mão à cona:
– Faz-me vir!
E o Sérgio masturbou-me.”
“Foi tudo tão rápido que quando a Isaura foi para a consulta eu nem sabia onde estava. Nunca a tinha visto tão molhada, os meus dedos patinavam por dentro e fora dela. Às tantas batem à porta, é a menina da recepção a dizer que o doutor está pronto para a atender. E aí, em vez de parar, ainda acelero mais o pulso, e a Isaura vem-se nas minhas mãos, a morder-me todo para evitar gritar. Ainda tenho as marcas.”
“A partir daí, tudo mudou”, garante Isaura. “É que nem esperámos, foi logo a seguir”, acresce Sérgio. “Agarrei nela e entrámos num cinema. Depois de algum convencimento, conseguimos comprar bilhete para um filme que ia a meio. Ali, escolhemos o sítio mais refundido e ainda antes de me sentar já tinha baixado as calças. Com a boca cheia de algodão, o broche estava fora de hipótese. A Isaura bateu-me uma punheta e esporrei-me todo na alcatifa. Só não me ouviram porque era uma cena de tiroteio.”
Depois deste “dia de estreia”, são já incontáveis os sítios onde levaram mais longe o propósito de liquidar as monotonias do sexo conjugal:
“Escolhemos sítios e situações a que não estamos habituados, ou que não gostamos por aí além. Por um lado, o desconforto aumenta emoção, por outro, nada nos distrai”.
“Já fodemos em sítios que não podemos dizer”, ri Isaura.
Para mencionar alguns dos que podem ser revelados, admitem que são visitas regulares em provadores de lojas de roupa, salas de espera, balneários, arrecadações, vãos de escada e, claro, casas de banho de variadíssimos estabelecimentos ou transportes.
“Três ou quatro vezes já fodemos na rua, em sítios recônditos e onde passava pouca gente. Mas é uma excepção. Preferimos as quatro paredes, onde sabemos que há gente próxima mas não nos podem ver”.
Até hoje nunca foram apanhados, mas… “ainda não sabemos se um dia não quereremos ser… Quem sabe, pode acrescentar ainda mais excitação. Mas ainda é cedo para saber que rumo iremos tomar…”
O que fica, no entanto, da história de Sérgio e Isaura, é que nunca desistiram. Em vez de sucumbir às tentações naturais da modernidade, como a separação, optaram por ser criativos e, juntos, descobriram formas alternativas de recuperar a tesão perdida.
“Andamos outra vez sempre acesos. Tanto que no outro dia até voltámos a foder na cama!”
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com