22 dezembro, 2022 Conto de Natal
Se ao menos soubessem as festas de que ela precisava! Porque andava precisada!
Miranda não era natalícia. Irritavam-na as musiquinhas de sinos e xilofone, os programas de televisão, a confusão nas lojas, a falsa simpatia de toda a gente que lhe desejava boas festas. Se eles soubessem...
Se ao menos eles soubessem as festas de que ela precisava! Porque o termo era mesmo esse, andava precisada!
De alguém que a mimasse, que lhe beijasse o pescoço, que lhe agarrasse no cu com as duas mãos, que lhe fizesse muitas e boas festas na greta pulsante que lhe encharcava a pintelheira dentro das cuecas.
Para Miranda, o Natal era isso e apenas isso, uma quadra de irritações que lhe acendia as mil luzinhas catrapiscantes do apetite sexual! Não sabia explicar porquê...
Não tinha traumas. Nunca fora de rabanadas, queria antes ser enrabada. Não gostava de peru, preferia que lhe fossem ao cu. Não tinha nenhuma simpatia pelo menino nas palhas, porque o que necessitava era de um homem na cama.
Nem sequer suportava o Pai Natal, porque ele não era capaz de lhe dar a prenda que ela mais queria: qualquer coisa como vê-lo com as grandes calças de veludo pelos joelhos e o pau feito, de barbas brancas, apontado às cabeçadas na sua direcção! Mas essa prenda, um belo caralho vermelho da Lapónia, ele nunca lhe metia no sapatinho, nem na boca, nem noutra ranhura qualquer...
Miranda era solteira já há bastantes anos. Era-o por opção. Sentia-se bem sozinha, livre, independente. Fodia regularmente, o que lhe apetecia. Emancipada. Mas o Natal punha-a de maus modos, a solidão apertava como um torno, estrangulava-lhe todas as virtudes.
Não se sentia boa pessoa, como era suposto na quadra da paz e do amor. A falta de amor, no caso o carnal, não a deixava ter paz.
Mais consolada ficava, na noite de consoada, com o Coelhinho da Páscoa, que era como chamava ao seu vibrador, munido a pilhas duracel. Esse nunca lhe falhava.
Agora os anjos, os reis que atravessavam desertos, as virgens e os carpinteiros, a estrela polar, o idoso das estepes equipado à Benfica, as ovelhas e os burros, os elfos e os belfos, nada dessas criaturas lhe dizia o que quer que fosse. Miranda era uma jóia de moça o ano inteiro, mas no Natal até as amigas diziam que ficava insuportável... Era a sua cruz.
E o pior era que os humores, que lhe azedavam o corpo e a alma, basicamente matavam qualquer solução alternativa a passar o Natal sozinha. O que a deixava num impasse frenético: apesar de sexualmente furiosa, a sua outra fúria, os seus maus fígados, afastavam qualquer tipo de hipótese com qualquer tipo de parceiro habitualmente interessado. Bastava olharem para ela e perdiam o interesse.
Nem as mamas maduras, mas perfeitamente desenhadas, nem o rabo firme trabalhado no pilates, nem o papo de cona que exibia orgulhosa sob as leggings, inspiravam desejo nos homens, porque então o mau feitio se sobrepunha a todos os seus aspectos desejáveis. Era como se lhe tivessem rogado uma praga, um suplício: davam-lhe a maior tesão da sua vida, mas impediam-na de a satisfazer!
E o caso é que não foi por ter feito algo, ou por ter mudado alguma coisa, que esse Natal foi diferente dos outros.
Talvez os anjos, afinal, sempre existissem...
Naquele dia, um senhor foi à loja. Miranda não o tinha visto até ele o ter chamado de dentro do provador. Tinha uma perna dentro das calças e outra fora, viam-se-lhe os pintelhos sair pelas cuecas, e não queria nada dela, apenas queixar-se a alguém.
- Está a ver o que eu lhe digo, menina? É insuportável...
Ele queixava-se do cheiro. E com razão. Era intenso, salgado, orgânico. Impossível de não notar. E foi isso que surpreendeu Miranda, apesar de conhecer perfeitamente as razões da sua origem. Ela tinha estado ali, há menos de 20 minutos, a masturbar-se.
Porque nessa altura, como em todos os Natais, precisava de se masturbar umas seis, sete vezes por dia. Só não sabia que o seu cheiro era tão poderoso que se entranhasse nas carpetes, nas cortinas do provador da loja.
Miranda sentiu uma enorme vergonha e não conseguiu bloquear duas grandes lágrimas, que lhe escorreram de cada um dos olhos. E o senhor, meio em pânico, apiedou-se dela e aproximou-se para a consolar, para descobrir aí que a fonte do cheiro que o importunava era em tudo semelhante ao que exalava dela.
– Mas… Este cheiro é da menina?
Ao que ela respondeu sem palavras, baixando apenas as leggings justas e revelando as cuecas ensopadas, que em seguida baixou também, libertando uma onda de vapor sexual que quase os atordoava a ambos!
Sim, para Miranda foi um bom Natal. O anónimo senhor tratou bem dela. Esfregou-lhe bem a racha, até ter os dedos brilhantes. Chupou-lhe os bicos das mamas até ela gemer. Cheirou-lhe o olho do cu, que lambeu até ele se abrir palpitante. Abriu-lhe bem a boca e enfiou lá um belo caralho, que não era da Lapónia mas de Odivelas, mas que a Miranda soube melhor que um kit do deserto transportando ouro, incenso e mirra.
Cinco minutos depois, uma multidão rodeava o provador, levado pela curiosidade de saber quem emitia aqueles sons libidinosos que pareciam doutro mundo.
Chamaram o gerente, que desviou a cortina para investigar, e assim os apanharam em flagrante delito, o senhor a penetrar Miranda por trás, com um dedo completamente enfiado no seu ânus, e ela, com a pintelheira a escorrer e as mamas a dar, ao ritmo dos solavancos desvairados com que ele a fodia.
Todo um quadro, que escandalizou mas também inspirou quem o viu, por ser absurdamente real.
Sem saber o que fazer, o gerente fechou as cortinas e esperaram todos, os funcionários e os curiosos, que os amantes terminassem.
Mal saiu, descomposta e arfante, Miranda, meio despida, foi despedida. E, no entanto, a importância do momento para ela foi absolutamente outra.
Foi como se lhe quebrassem o feitiço.
A partir daí nunca mais passou um dia, fosse qual fosse a altura do ano, em que não sentisse nas entranhas um gigantesco espírito natalício...
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com