06 abril, 2020 Não acertas uma - I e II
Agarra de tal forma no meu corpo que, em meros segundos, fiquei de rabo empinado sobre o sofá.
No tempo dos nossos avós e bisavós, os relacionamentos começavam devagar, com calma, não havia pressa, contudo até eles não estavam imunes à chamada tentação, ao pecado carnal. Por vezes, fomentado através do álcool tomado numa festa ou num convívio familiar. Contudo, hoje é tudo mais rápido. Desde sempre que a mente da sociedade evolui como também as nossas técnicas de engate.
Enquanto esperava por um romance, por um perfeito conto de fadas, conheci o Adolfo. Não foi apenas no seu nome que eu concentrei, mas também no seu sorriso que aparecia muito raramente. O Adolfo era o meu cubo de Rubik. Nunca consegui resolver nenhum e pensava que seria ele que iria resolver. Enganei-me, mais uma vez.
Conhecemo-nos através das redes sociais e através de várias conversas a nossa “relação” foi-se construindo aos poucos. Aos poucos ia tendo a minha confiança, o meu coração.
Um verdadeiro cavalheiro. Os meus olhos cegaram e cegavam de cada vez que nos víamos pessoalmente. Tratou-me sempre com uma determinada gentileza, carinhoso e educado; contudo, vi um olhar que nunca mais queria ver quando o contrariei numa ideia. Política. Tudo girava à volta disso. Estando a viver numa sociedade livre, onde temos liberdade de expressão, eu simplesmente exprimi as minhas ideologias, não o querendo enfurecer.
- Chega! - diz ao bater com o punho na mesa.
Estávamos sentados num café demasiado fino, com pessoas demasiado importantes para se ter uma atitude daquelas. Fiquei espantada e incomodada com tal situação, sentia-me como uma miúda a ser repreendida pelo pai.
- Tenho que ir. - Diz ao olhar para o relógio. - Quero-te pronta às 19 horas.
- Vamos a algum sítio?
Sem pronunciar uma única palavra ou som que fosse, levantou-se da cadeira, deu-me um beijo na testa e afastou-se. Fiquei sem perceber o que tinha acabado de acontecer. Olhei ao meu redor e ainda havia pessoas a olharem na direcção da nossa mesa. Sentia-me incomodada, mas mesmo assim terminei o meu cigarro.
“Mas onde vou eu hoje à noite?”, pensei.
O que eu tinha conhecido do Adolfo ao longo das nossas longas conversas na Internet estava aos poucos a demonstrar-me o contrário.
Às 19 horas, como pretendido, lá estava ele a tocar-me à campaínha. Apareço à janela com um sorriso na cara e digo:
- Desço já!
Nem um sorri consegui dele, apenas um olhar matador.
Passam alguns minutos até que, finalmente, desço as escadas e vou ao seu encontro. Encostado ao seu Audi R8 negro, ao ver-me a saltitar enquanto ia ao seu encontro com um sorriso grandalhão, desencosta-se e abre-me a porta do lugar do passageiro.
- Não mereço um beijo? - digo-lhe depois de me sentar no carro.
Novamente, sem uma palavra. Fechou-me a porta do carro e vem sentar-se no lugar do condutor. Nem uma palavra. Estou a ficar um pouco assustada e incomodada com aquele silêncio, por isso digo-lhe:
- Então, onde vamos nós senhor Adolfo?
- Tudo a seu tempo.
Com aquela resposta fiquei sossegada no meu canto e não disse mais nada. Fiz tal como uma menina bem mandada.
Vejo que me leva para longe da zona urbana e segue por caminhos que eu nunca tinha visto. Entre estradas sem iluminação e ruas demasiado estreitas, ele finalmente pára o carro. Uma vivenda com uma vista estrondosa! Os meus olhos brilhavam e fiquei de tal forma boquiaberta que demorei a regressar a esta dimensão novamente.
- Lúcia, vens?... - diz enquanto me estende a mão – Anda lá sua tola.
- Não trancas o carro??
- Estás com receio de alguma coisa?
- Só a tua segurança. - respondo cabisbaixo.
Sinto-me um pouco desorientada. Demasiado luxo, demasiado brilho, tudo era demasiado. Fiquei maravilhada com a sua vista privilegiada sobre a cidade, com a sua casa na colina, a vista era arrebatadora. Capaz de tirar a respiração a qualquer um, menos ao Adolfo.
- Que estás a fazer aí parada? Anda-me ajudar aqui na cozinha.
Com tanto para observar, com tanto para examinar, que nem tinha reparado que ele me tinha deixado sozinha naquela divisão.
Fui ao seu encontro.
- Quando me fazes um tour da tua mansão? Nem sei onde fica a casa-de-banho! - digo-lhe entre risos.
- Prova isto … - diz-me esticando o seu dedo coberto de natas.
Fiquei um pouco reticente, pois não esperava uma atitude destas vindo dele, não assim, não agora.
- Não queres provar?
- Do teu dedo Adolfo?
- Preferes uma colher é? - responde-me com um olhar desafiador.
Pego-lhe na mão e coloco a ponta do seu dedo na minha boca, rodopiei a minha língua ao longo da sua ponta do dedo, mas tenho uma boca demasiado gulosa, quis provar mais, por isso meti-o todo na minha boca. Abri os olhos e fixei os meus olhos nos dele.
- O que achas? - diz com um olhar fervente.
- Não está nada mau. - digo com um pequeno sorriso na cara.
Tudo no Adolfo me encantava, deixava-me maravilhada, contudo, havia certas atitudes dele que me deixavam um pouco de pé atrás.
Aquela era a primeira vez que estava em sua casa e senti que ele não queria muito mostrar a casa, os seus recantos, os seus pequenos segredos.
Jantamos na mesa da cozinha, algo que ele disse que foi ele mesmo a confecionar. Nunca tinha comido algo tão saboroso. Começamos com uns cogumelos recheados com bacon e queijo brié para depois termos um belo bife de atum, acompanhado com algumas batatas cozidas e alguns vegetais. Estava maravilhoso. Mas eu tinha que perguntar:
- E as natas, afinal, eram para o quê?
- Tenha calma…
Levanta-se da mesa e começa a orientar as coisas para o seguinte passo: sobremesa.
Trouxe com ele dois pratos com profiteroles, os meus estavam cobertos com caramelo enquanto que os dele tinham chocolate.
- E as natas, homem? - estava demasiado curiosa – Afinal para o que é?
- Tu não consegues ter calma, não é?
Não me disse mais nada, mesmo que eu quisesse. Desfrutámos do resto da refeição, até que depois da minha última garfada, por debaixo da mesa, a sua mão começa a subir-me calmamente a saia do vestido. Eu deixo-o continuar com aquele seu acto de loucura, pois o vinho já me estava a fazer efeito.
- Vamos à sobremesa? - diz ao chegar ao meio das minhas pernas.
Com os meus lábios colados nos dele digo-lhe ofegantemente:
- Sim. Por favor…
Pega-me pelo pulso e leva-me para o andar superior. Entre tantas divisões com a porta aberta ele levou-me para a única que tinha a porta fechada. Receei um pouco, pois estava em território desconhecido, quase como que em território inimigo.
Estando cega decido ao álcool e à tesão que eu sentia deixei-me levar. Deixei-me levar, mas é com os erros que aprendemos. Se não tropeçarmos, nunca aprenderemos a verdadeira e crua realidade da nossa sociedade.
Ignorante, ingénua, apaixonada. Não passo apenas de uma mulher à procura de um pouco de prazer, mas com um pouco de envolvência. Ternura, carinho, segurança. Tudo o que ela precisa, e ele mente, dissimula apenas para obter o seu prémio, apenas e meramente a sua satisfação.
- Não tenhas receio. É apenas o meu escritório.
- Mas porque não usar o quarto, a tua cama?
Aperta-me o pulso e com toda a sua determinação coloca-me dentro daquela divisão.
- Que estás a fazer? Estás a aleijar-me o pulso.
- Desculpa-me. Por vezes não tenho noção da força que exerço sobre a outra pessoa. - diz-me num tom que eu desconhecia.
Senta-se no sofá que existe naquela divisão. Eu junto-me a ele, sento-me no seu colo e encosto a sua cabeça contra o meu peito. Dou-lhe alguns mimos, carinhos e digo-lhe calorosamente:
- Não faz mal. Hás-de aprender.
Ficámos assim ainda durante algum tempo, enamorados, ouvindo apenas o batimento do coração. Beija-me, com tanta ternura e carinho. Nunca tinha recebido um beijo assim. Aos poucos, vai-me deitando sobre o sofá. Coloca-se no meio das minhas pernas. A sua mão começa a subir a minha cintura, mas pára ao sentir a minha tanga, rapidamente a faz descer.
- O que estás a fazer?... Não era melhor irmos para o quarto, onde há uma cama?
Não me responde. Limita-se a beijar-me e a continuar a sua demanda. Estava determinado e eu um pouco alcoolizada para ter o discernimento de me ir embora daquele local, daquela situação.
A primeira penetração foi feita com pressa, ele estava com pressa não sei para o quê.
- Estás a magoar-me.
- Aguenta. Tu consegues.
Quando me responde dá-me uma estocada tão forte que me faz contrair o baixo ventre.
- Adolfo, está a magoar-me.
Mete-me a mão na boca, de tal forma que me tapa o nariz. Mal consigo respirar e a aquela situação está a deixar-me cada vez mais desconfortável. Debato-me com as suas mãos, para tentar ter acesso a ar fresco.
- Está sossegada...
Mas eu não consegui assossegar, pois queria respirar. Deixo escapar uma lágrima.
- Não vale a pena chorares agora. Tu queria isto sua puta.
Agarra de tal forma no meu corpo que, em meros segundos, fiquei de rabo empinado sobre o sofá.
- Vamos lá provar isto.
- O que estás a fazer?
Quando acabo de falar ele limita-se a encostar-me a cara sobre a almofada e depois diz:
- Morde a almofada, que o dono deixa.
Ao acabar de pronunciar aquelas palavras ele penetra-me no ânus. Foi a primeira vez que o fiz. Não gostei, nunca mais repeti e nem quero.
- Tu gostas. E este cu é tão bom. - Dá-me uma dentada tão forte na nádega direita que fiquei com aquela memória horrenda durante semanas.
Grito e debato-me, mas em vão. Agarra-me pelos cabelos de forma violenta, puxa-me até perto de si e diz-me junto do meu ouvido:
- Podes gritar o que quiseres que ninguém te irá ouvir Lúcia.
Deixo cair mais uma lágrima.
Continuam as penetrações violentas. Aperta-me o pescoço de tal maneira que perdi os sentidos.
Acordo nua, desorientada. Olho em volta e vejo que estou num quarto que não é o meu, numa cama que não é a minha. Olho para cima da mesa de cabeceira e vejo uma moldura, que está virada para baixo. Viro-a. É uma fotografia de uma mulher lindíssima, com uns olhos de cortar a respiração a qualquer um, segurando num pequeno rapaz com uns caracóis doirados perfeitos.
“Mas onde raio estou?”, penso.
Olho para a outra mesa de cabeceira e vejo um envelope, contendo apenas o meu nome.
Sento-me na cama. Tenho o pescoço dorido e sinto a minha cintura moída.
“Mas o que se passou ontem à noite?”
Respiro fundo e abro a carta. Retiro um cheque em branco e uma pequena carta dizendo:
“Deixei em branco, pois não sei quanto queres. Dá a ti mesma o teu próprio preço, todos neste mundo têm um preço.
Se eu alguma vez te quiser encontrar, sei onde e como o fazer.
Até qualquer dia, minha querida Lúcia”
O meu coração palpitava, as lágrimas escorriam-me pela cara, pois tinha sido enganada este tempo todo e ainda se achou o melhor do mundo ao deixar-me um raio de um cheque? Estes homens são nojentos, repugnantes.
Vesti-me e saí daquela casa desejando nunca mais na minha vida o ver e pedindo aos Deuses que a sua morte, quando chegasse esse momento, que fosse violenta.
Ainda hoje não me recordo muito bem daquela noite. Tenho por vezes flashbacks, mas nada em concreto. Sobre o Adolfo e sobre a sua vida demasiado agitada, nunca mais soube de nada, pois em todos as redes sociais e serviços bloqueei-o de forma a nunca mais me conseguir contactar.
Foram seis meses que passei iludida. Iludida com os romances que andava a ler. Demasiadas leituras e nenhuma prática. Nenhuma prática em como me relacionar com os homens, contudo esta experiência deu-me apenas mais uma prova de como o lobo vem sempre vestido de ovelha.
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...