20 setembro, 2015 Fetichismo quem?
Ou o que julgavas não gostar...
A primeira vez que tive contacto com pornografia deve ter sido pela tenra idade dos 13 anos. Éramos cerca de 5 amigos todos da mesma turma e juntámo-nos todos na casa de um, numa bela tarde de gazeta escolar voluntária.
Todos nos recordamos dos saudosos tempos da era do VHS e de como as capas coloridas da secção da pornografia ornamentavam os escaparates dos clubes de vídeo.
A mim, aquilo fascinava-me. Não só as cores mas também aqueles títulos imaginativos e ainda hoje sonho em ter um emprego cuja função é apenas escrever centenas e centenas de trocadilhos com nabos, roscas, rabos, porcas e bocas.
Sonhar é bom hoje em dia e naquela altura também, dado que esses filmes eram-me inacessíveis e tanto mais que a Internet era uma coisa futurista e nem pensada ainda.
No entanto, tivemos a sorte que o dono da casa descobriu uma cassete numa gaveta do guarda-roupa dos pais uns dias antes, com o nada suspeito título de "cassete avariada", escrito a caneta de feltro no autocolante lateral já meio gasto.
Sentámo-nos todos no sofá em filinha como um bando de pinguins em fase de cio e admirámos o espectáculo em movimento. Tudo era fascinante e novo para nós.
A primeira esporradela na cara de uma gaja meteu-me bastante nojo para ser sincero (quem diria...). Mas houve algo que nunca tinha visto e logo percebi que aquilo mexia comigo: uma gaja a ser comida por trás, de rabo empinado e a ser agarrada pelos cabelos.
Diríamos nós hoje em dia que isto é totalmente banal, mas ponham-se na mente inocente de um miúdo com 13 anos e pensem como um.
Aquilo nunca tinha sequer sido pensado ou sequer imaginado e no entanto, foi o suficiente para eu ter visto e sentido algo mais forte que o normal.
Aquela imagem tinha mexido comigo, tinha feito rosnar e salivar a líbido, se a mesma fosse uma cadela Rotweiller esfomeada. Pensei logo, para mim mesmo, que no desejado dia que fodesse uma primeira vez era aquilo que iria querer fazer.
O que foi mesmo que mexeu comigo? O acto? A posição? A submissão da mulher naquela situação em que é fodida sem poder fazer muito mais?
O que é que mexe contigo? Comigo? Connosco? Porque é que a mim aquela imagem mexeu mais e aos outros foi apenas mais uma posição entre muitas?
O nosso cérebro é maravilhoso. Podes ter o maior caralho do mundo, mas o teu maior orgão sexual está na cabeça de cima e é esse que, quando estimulado da maneira certa, consegue fazer com que atinjas sensações e estados de alma como nunca sentiste antes.
Foder alguém no corpo todos conseguem, penetrar a alma poucos o fazem bem ou se sentem dispostos a soltar-se para tal.
Chamem fetiche ou gosto. Para mim, são rótulos que designam a mesma coisa, sendo que poderemos diferenciar no carácter de intensidade de ambas as expressões.
Um fetiche está usualmente associado a algo que saia da norma, enquanto um gosto está ligado a algo mais mundano, sendo que é uma preferência pessoal de cada um. No fundo, é o que mexe connosco, o que nos sabe bem ou enaltece algo que já estamos a sentir.
"Eu não tenho nenhum fetiche" - pensas tu. Pensas tu. Tens? Como é que sabes que não tens?
Eu até ter levado a primeira chapada no focinho a foder, não sabia que gostava de sentir dor enquanto o tinha metido lá dentro.
Se me perguntassem antes se gostava que me batessem no acto, eu chamava a pessoa de lunática.
A própria imagem para mim era ridícula, mas assim que apanhei uma soltinha que decidiu arriscar, que viu no meu olhar que eu tinha a alma a pedir um bofetadão e mo espetou com toda a força, fazendo-me gemer de seguida, eu percebi que aquilo era algo que já estava em mim, mas que nunca o tinha solto.
Tudo bem que de seguida lhe agarrei no pescoço meio a sufocar, a chamei de puta e o espetei até ao fundo, fazendo-a gemer ainda mais. Acabámos os dois nessa noite com marcas. Ela habituada a levar e a dar tal tratamento. Eu a tremer em pensamento sobre o que se tinha passado.
Porque é que gostei de levar? Porque é que gostei de inflingir dor? Ela sorriu a passar por mim e diz "vi logo o teu género...". Terei um fetiche? Não sou masoquista. Nem sádico. Longe disso. Mas gosto. Tenho um gosto, só isso.
Serei estranho? Fugirei assim tanto à norma? Óbvio que não. Fugir à norma seria negar o que nos dá prazer e nos sabe bem. Fugir à norma é negar a nossa essência.
Loucos os que se negam a eles mesmos em prol de uma moral interna que decidimos erigir para nos mantermos dentro de um padrão comportamental.
E será considerado um fetiche algo tão simples e corriqueiro como a simbiose prazer/dor? Não sei. Fetiche assume muitas formas e feitios, partes do corpo, situações, role play e demais adornos físicos e mentais. Preocupa-me pouco o que lhe chamam. Preocupa-me mais com quem o posso fazer e me possa entender na mesma medida.
Se mexe contigo... explora. Se não sabes se mexe contigo... experimenta..
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Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.