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27 fevereiro, 2024 CISS Porto duplicou os atendimentos com testes de clamídia e gonorreia

Centro disponibiliza tratamentos e também faz testes a VIH, sífilis, hepatites B e C.

O Centro Integrado de Saúde Sexual do Porto (CISS Porto) “duplicou” os atendimentos nos últimos dois anos, sobretudo devido ao alargamento dos serviços, nomeadamente para a realização de testes de VIH, sífilis, hepatites B e C, bem como de testes rápidos de clamídia e gonorreia, além de consulta médica complementar. 

CISS Porto duplicou os atendimentos com testes de clamídia e gonorreia

Após 20 anos de atividade, o CAD Porto - Centro de Aconselhamento e Deteção Precoce VIH/SIDA transformou-se no Centro Integrado de Saúde Sexual do Porto (CISS Porto). Esta reconfiguração do serviço surgiu no âmbito da necessidade de "alargamento da intervenção", como explica ao Classificados X o coordenador do CISS Porto, Luís Pimentel.

O CAD disponibilizou, entre 2002 e 2018, "o aconselhamento e a deteção na área do VIH/SIDA", mas, desde então, a unidade começou também a fazer a "deteção de outras infeções sexualmente transmissíveis [ISTs], designadamente sífilis, hepatite B e hepatite C", como salienta Luís Pimentel.

Contudo, esse serviço envolvia apenas o "aconselhamento e testes no momento", nota ainda o coordenador do CISS Porto, destacando que as pessoas que precisavam de tratamento eram referenciadas para unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Assim, a reconfiguração surge perante o reconhecimento da importância de ter também no mesmo espaço "a intervenção" no sentido de tratar as pessoas, reforça Luís Pimentel.

Entretanto, foram surgindo outras respostas, como a consulta de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), um método de prevenção para a infeção por VIH que é, habitualmente, cedido apenas pelos hospitais do SNS. O CISS tem uma parceria com o Hospital de Santo António, no Porto, que permite a realização de uma "consulta descentralizada" nas suas instalações.

É uma facilidade para os utentes que, assim, não precisam de ir ao hospital para conseguirem a medicação da PrEP.

Consultas sem marcação, gratuitas e para todos

O CISS Porto está inserido no Centro de Cuidados de Saúde Primários Porto Ocidental da Unidade Local de Saúde Santo António e integra a rede do SNS. Com a reformulação que foi finalmente concretizada, após alguma demora burocrática, é possível disponibilizar um "tratamento atempado" às pessoas, como reforça ao Classificados X a médica Rita Maciel Barbosa que faz parte da equipa multidisciplinar do CISS.

Além da médica que está ao serviço na unidade, esta equipa é composta por quatro enfermeiros, três psicólogos, dois assistentes técnicos e dois motoristas.

Com a ajuda destes profissionais, o CISS disponibiliza diversos serviços, entre os quais uma consulta aberta, sem marcação prévia, para a realização de testes de deteção de VIH, sífilis, hepatites B e C, e para aconselhamento.

Trata-se de uma consulta aberta de acesso universal, tanto a cidadãos nacionais como estrangeiros, independentemente da área de residência. O atendimento é gratuito, anónimo e confidencial.

Mas há também consultas médicas nas instalações da Unidade Fixa do CISS que requerem um agendamento prévio. Os utentes que, na consulta aberta, apresentem sintomas de ISTs são referenciados para estas consultas, para confirmação diagnóstica e para receberem tratamento.

Os casos de resultado reativo nos testes de deteção, nomeadamente ao VIH, continuam a ser referenciados para tratamento hospitalar imediato.

As pessoas também podem ser encaminhadas para as consultas médicas programadas por outras entidades/organizações, ou porque tiveram um teste positivo, ou porque têm sintomas de ISTs.

Podem ainda chegar dos Centros de Saúde do SNS, "pela especificidade dos testes que temos", como explica Rita Maciel Barbosa.

"Temos testes rápidos de clamídia e gonorreia e em situações de dúvida de diagnóstico, os colegas [médicos] podem referenciar para a realização destes testes específicos", explica a médica do CISS Porto.

Unidade Móvel faz saídas diurnas e noturnas

Para lá do atendimento nas instalações do centro, o CISS tem também uma Unidade Móvel que se desloca pelos 18 concelhos do distrito do Porto, embora atue sobretudo nas zonas de Porto e Vila Nova de Gaia.

Também faz "percursos direcionados para populações específicas", como sublinha Luís Pimentel, referindo o caso dxs trabalhadorxs do sexo. Esses percursos são definidos mensalmente e são divulgados no Facebook do CISS Porto.

O planeamento da Unidade Móvel também é divulgado no Instagram do Plano AproXima.

Nesta Unidade Móvel que faz saídas diurnas e noturnas, as pessoas podem ter acesso a testes de deteção de ISTs (VIH, sífilis, hepatites B e C) e a aconselhamento. Quando há testes positivos, são encaminhadas para as consultas médicas no centro, caso o pretendam.

Para xs trabalhadorxs do sexo, Rita Maciel Barbosa reforça ainda o "acrescento" em termos de Planeamento Familiar, nomeadamente com a disponibilização de métodos contracetivos como pílulas, Dispositivos Intrauterinos (DIU) e implantes. "Tem sido uma resposta que temos dado com bastante sucesso", aponta.

CISS Porto Unidade Movel V1

Testes de clamídia e gonorreia são “mais-valia"

O CISS Porto está "em ampla expansão", segundo Luís Pimentel que destaca que, desde 2022, o centro conseguiu "duplicar" os atendimentos, ultrapassando já o número de utentes que tinha em 2019, antes da pandemia.

"Nestes serviços, o passa-palavra é importante", destaca o coordenador do CISS, notando que muitos utentes são "referenciados por outros utentes" que estiveram no centro, o que atesta a qualidade dos serviços prestados.

Este aumento de afluência estará relacionado com o alargamento dos rastreios para além do universo do VIH, da sífilis e das hepatites. "Os testes para pesquisa de clamídia e gonorreia  na consulta médica sujeita a marcação, têm sido uma mais-valia", destaca Rita Maciel Barbosa.

A médica também nota que a possibilidade de "tratamento imediato" é outro fator que incentiva as pessoas a procurarem o CISS Porto. "Com sintomas, numa semana estão a ser consultados e tratados", sem terem necessidade de se deslocar ao hospital ou a um centro de saúde, realça.

Rita Maciel Barbosa refere que tem havido uma maior procura destes testes à clamídia e à gonorreia, sobretudo entre a população do sexo feminino, "porque já estão sensibilizadas para a questão, não só por serem trabalhadoras do sexo que têm mais riscos, mas por terem múltiplos parceiros, ou simplesmente situações de risco".

"Plano AproXima também nos ajuda"

Para este trabalho tão fundamental que o CISS Porto realiza em termos de saúde pública, tem sido importante a "interação" e a "articulação" com o Plano AproXima, conforme destaca Luís Pimentel.

"Os serviços só existem em função dos seus utentes", nota o coordenador do CISS Porto, sublinhando que "o feedback e o retorno" que recebem do Plano AproXima "também ajuda", nomeadamente a "ir adaptando os serviços conforme as necessidades" das pessoas.

"Esta resposta social do Plano AproXima que é excelente ajuda-nos nesta aproximação", por exemplo, "a acertar linguagens" e a "atualizar as respostas" disponibilizadas, reforça Luís Pimentel.

A promoção da saúde sexual, a prevenção e a deteção precoce de ISTs são os grandes focos do CISS Porto. E, neste âmbito, é essencial "fechar o ciclo de transmissão" das ISTs, chegando aos "parceiros dos utentes diagnosticados", como reforça Rita Maciel Barbosa.

Para isso, é preciso "sensibilizar" as pessoas nesse sentido, para que convençam os/as parceiros/parceiras a deslocarem-se também ao centro para fazerem testes. Conforme as ISTs e situações, estes parceiros podem ter "critérios" para serem "tratados, mesmo sem serem testados", salienta ainda a médica do CISS.

Plano AproXima leva o apoio até trabalhadorxs do sexo

"Aceitação incondicional do outro" e "escuta ativa"

O "feedback dos utentes" tem sido muito positivo, segundo Rita Maciel Barbosa, sobretudo porque "todos são tratados como iguais", como reforça.

"Ainda bem que há um lugar assim onde se fala abertamente e honestamente sobre assuntos de maior intimidade", dizem as pessoas que vão ao CISS, de acordo com a médica.

Para isto contribui uma filosofia de "personalização" que pretende "dar respostas individualizadas", com uma perspetiva de "aceitação incondicional do outro" e de "escuta ativa", salienta Luís Pimentel.

Estes "princípios fundamentais" são incutidos em todos os elementos da equipa do CISS Porto, nota o coordenador da unidade, realçando a importância de conseguir um nível de "estigma e discriminação zero".

Todos os profissionais contratados para a equipa têm "obrigatoriamente" formação, numa vertente teórico-prática, sobre a "forma como acolher, como aceitar" e como "não projetar nos utentes" eventuais preconceitos que possam ter, refere ainda Luís Pimentel.

O objetivo é permitir que a pessoa possa "sentir-se à vontade para se exprimir", para "expor os seus medos", sem que haja uma "avaliação" moralista dos seus comportamentos, acrescenta o coordenador do CISS.

"Qualquer pessoa pode dirigir-se ao CISS"

O facto de o CISS integrar o SNS é uma vantagem que permite dar uma resposta global, em termos de saúde, incluindo até "articulação com a consulta no âmbito da medicina transexual", como reforça Rita Maciel Barbosa.

Mas apesar de ter esse suporte importante como entidade pública, o centro mantém algumas "dificuldades do ponto de vista técnico e de diagnóstico que limitam um pouco o potencial de ação", nota Rita Maciel Barbosa.

A médica gostaria, por exemplo, de poder fazer o teste do Papanicolau com pesquisa de HPV (Vírus do Papiloma Humano) em "determinadas populações de elevado risco, como é o caso das trabalhadoras do sexo".

Contudo, existem algumas "dificuldades burocráticas", por exemplo com imigrantes sem o visto de residência - "o sistema informático já não permite inscrevê-las e eu já não consigo realizar este exame mais específico", destaca, frisando, contudo, que ainda é possível fazer o Papanicolau normal. 

Porém, "são pequenos desafios que vão sendo colmatados" e que estão devidamente sinalizados para "melhoria" nos próximos tempos, realça ainda a médica.

Em todo o caso, e indo ao encontro da missão do SNS do acesso universal à saúde, o CISS Porto também quer "estar disponível para todas as pessoas", chegando "universalmente às várias populações, independentemente da área de residência e da nacionalidade", como reforça Luís Pimentel.

"Qualquer pessoa pode dirigir-se ao CISS e nós daremos a resposta", vinca o coordenador do centro.

CISS Porto cartaz V1

Contactos do CISS Porto

Morada: Rua da Constituição, 1656, 4250-162 Porto

Telefone: +351 22 041 22 50

E-mail: cadporto@arsnorte.min-saude.pt / cissporto@arsnorte.min-saude.pt

Site do CISS

Instagram do CISS

Facebook do CISS

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Especial Associações - Anda conhecer melhor quem apoia trabalhadorxs do sexo:

Abraço Aveiro

Acompanha Peniche

APF Alentejo

Associação Existências

Autoestima

GAT Almada / GAT Setúbal

Liga Portuguesa Contra a SIDA

Obra Social das Irmãs Oblatas

Porto G

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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