06 junho, 2018 A realidade da prostituição e o preconceito/estigma associado às trabalhadoras do sexo
Hoje venho-vos falar de algo que me preocupa e constato por observação, experiências e pesquisa bibliográfica de estudos sociológicos.
Num próximo artigo irei falar sobre as vantagens e prós de ser trabalhadora do sexo, mas hoje abordarei a realidade em Portugal, como também as diversas dificuldades das Trabalhadoras do Sexo (TS) e desvendarei um pouco a cortina por detrás da profissão.
Não sou de todo portadora de toda a verdade mas esta é a minha opinião sobre os factos que observei, vivi e estudei.
Em Portugal não é ilegal ser trabalhadora do sexo, mas sim ser explorada por terceiros. O corpo de uma mulher a ela lhe pertence e a ela cabe decidir o que faz com ele.
Escrevo este artigo para o grande público e para os homens que nos procuram para que possam entender melhor a nossa profissão. Porque sim, é verdade, é uma profissão mas que simplesmente não é aceite, nem bem vista pela sociedade portuguesa (e não só, noutros países também).
Uma trabalhadora do sexo é antes de mais uma pessoa, um ser humano que deve ser respeitado e dignificado tanto como os demais da nossa sociedade.
A profissão pode ser iniciada por necessidade, como também pelo gosto por sexo, por tesão e gosto pela profissão. Tem as suas vantagens e desvantagens e cabe a cada mulher que envereda por este caminho pesar os prós e contras.
Apesar da ideia comum na sociedade, esta não é uma profissão nada fácil... Exige esforço, trabalho, dedicação, jogo de cintura e força mental e emocional.
É uma profissão de risco (à excepção das webcamgirls que não sofrem tantos riscos a não ser a exposição da sua imagem) e tem associada alguma precariedade. Não temos direito a baixas, contrato de trabalho, acesso a créditos, apoio de psicólogo, etc...
Para quem não sabe, temos o trabalho de fazer anúncios num ou vários sites, realizar sessões fotográficas que exibam os nossos melhores atributos, gastar dinheiro na nossa promoção a nível da Internet, pagar aluguer do quarto onde atendemos, atender inúmeras chamadas constantemente (nem todas agradáveis), trabalhamos bastantes horas com prejuízo para a nossa vida pessoal, temos dificuldade em conciliar uma vida amorosa com este tipo de profissão, etc.
Quando o cliente chega ou nós vamos ao seu encontro, temos que estar sempre no nosso melhor: bem dispostas, com um sorriso, cheirosas, bem vestidas, sexys, com tesão, bem cuidadas com roupa sexy e provocante... Se o cliente paga, em principio tem direito àquilo que muitas vezes não arranja lá fora, e sem necessidade de laços afetivos e de compromisso.
Existe um grande estigma e preconceito associados a prostituição levando a que as trabalhadoras do sexo vivam uma vida dupla e escondida. Não podemos dizer às pessoas quando nos perguntam qual a nossa profissão. Como dizer de forma descontraída e assumida sem vergonha, pudores e medo:
- Sou trabalhadora do sexo/prostituta ou acompanhante de luxo ou webcamgirl...
Não podemos declarar IRS porque mesmo que quiséssemos passar recibos verdes os clientes não o desejam devido a necessidade de anonimato e sigilo. Não podemos contar a familiares e amigos e assim a nossa liberdade fica limitada. Para as mulheres que têm filhos, a coisa torna-se mais complicada porque devido ao preconceito e estigma existentes podem perder a custódia dos menores caso se saiba a sua profissão.
Apesar de serem uma minoria, há clientes que chegam a maltratar verbalmente e até fisicamente as trabalhadoras do sexo.
Depois existe a questão do convivío a low cost... Meninas!! Se ninguém praticasse preços abaixo dos 40/50 euros não aconteceria o que acontece hoje em dia que para mim é degradante: fazer sexo por uns míseros 20 ou 10 euros. Sei que nada posso fazer quanto a isso porque cada uma é livre de praticar os preços que deseja, mas colegas, vale a pena pensar nisso, não?
O anonimato é outra questão, usamos nomes ditos "artísticos" (pseudónimos) e não podemos mostrar a nossa identidade nos anúncios que colocamos, sob pena de sermos reconhecidas e os riscos que isso acarreta.
O estigma e preconceito que existem em relação às trabalhadoras do sexo é tão grande na nossa sociedade e ainda existe um longo caminho a percorrer para que haja abertura de mentalidades e uma forma diferente de ver a profissão.
A dificuldade da profissão em ser reconhecida parece girar em torno da questão do preconceito, estigma e o do não respeito pelo trabalho das trabalhadoras do sexo sem reconhecimento da sua dignidade e dos seus direitos como profissionais, trabalhadoras e mulheres...
Assim vos deixo com muito em que pensar...
Até para a próxima semana!
Beijos molhados onde quiserem,
Diana Pereira
Diana Pereira
Escritora irreverente e crítica, com um olhar diferente sobre o mundo do sexo e da sociedade. Mulher sensual e provocadora, multi-facetada, escort de luxo, massagista, dominatrix e webcamgirl...
Alguém que irá trazer uma lufada de ar fresco e uma perspectiva inovadora.