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02 novembro, 2020 O galo da capoeira - Parte I

Nem sabes o que te acontece!

O meu nome é Jéssica. Tenho 34 anos e trabalho num call center para uma rede bancária num edifício em Lisboa, Entrecampos, mais propriamente. Dou-me bem com toda a minha equipa, mas somos muitas gajas juntas. Querendo ou não, volta e meia sente-se aquele olho gordo que se ressente no cabelo, na pele ou nas unhas. Gajas sendo gajas! Por mais que se dêm bem existe sempre aquele zum-zum de fundo de uma que fala da outra.

O galo da capoeira - Parte I

Um dia, um santo dia, dão-nos a noticia de que teremos um novo elemento na equipa. “Foda-se! Mais uma cobra para o ninho”, pensei, mas qual não é o meu espanto quando trazem o novo elemento para assistir ao briefing e percebo que afinal de contas não é uma cobra, mas sim um belo Galo! Uau!!

Não sei se fico contente por haver um macho pelas bandas a acalmar as galinhas ou se tenho pena dele por lhe irem cair todas em cima.

Ele apresenta-se.

- Olá. O meu nome é Maurício e venho de Caxias. Sou o vosso novo colega e no que precisarem de mim, estou ao vosso dispor.

“Começas bem rapaz!” , pensei! Ofereces-te já… assim de forma tão… voluntária e nem sabes o que te acontece!

Escuta-se um murmurinho. Parecem ratas de sacristia. Percebe-se nitidamente do que falam. A chefe de equipa olha para elas e abana a cabeça, como quem diz “ Por favor meninas, menos! ”. Eu só me consigo rir.

Distancio-me da grupeta para que não me incluam no pacote e olho fixamente para ele, tentando perceber o que sentiria naquele primeiro contacto com a equipa. Sinto-lhe um certo desconforto. Decerto que sabe que é um rapaz interessante aos olhos e de caras que já entendeu que o mulherio ficou doido com a sua chegada.

No decorrer da sua primeira semana de trabalho não teve assim tanto contacto connosco pois ainda teve em algumas formações e avaliações até poder efectivamente estar no terreno e tratar do trabalho, propriamente dito, diretamente com o cliente, mas após tudo isso, nos dias que se seguiram foram muitos os convites e ofertas que este rapaz recebeu para almoçar, lanchar…

Elas não lhe davam descanso. Até as casadas gostavam de lá meter o dedinho só porque sim. Por sorte de todas elas, o galo até que era um tipo simpático. Foi o que lhes valeu!

Continuava a observá-lo de longe.

Um dia cruzamo-nos no elevador à entrada do edifício. Era hora de entrada.

- Bom dia Maurício

- Bom dia Jéssica.

- Preparado para mais um dia de Natal? – ri-me.

Ele entendeu que me referia às mães natal da equipa e das tantas prendinhas que o rodeavam.

- Tenho pena de ti. Deve ser chato, mas a vida não é justa mesmo. Se fosse nem eu estava aqui a aturá-las. – ri-me uma vez mais.

- Nem me digas nada. Haja alguém que entenda o esforço que faço para fazer de conta que não me incomoda quando na verdade faço um esforço enorme só para ter que continuar a vir.

- Leva na desportiva e olha, aproveita o que conseguires. Tem dias que a Madalena trás uns biscoitos de canela que são brutais e a Selma que faz uns sumos naturais que logo de manhã revitalizam até a alma. Pode ser que as apanhes nesses dias. – rio-me até mais não.

Ele acompanha-me.

Chegamos ao nosso andar. Vamos entrar. As portas do elevador abrem-se.

- Bom! Chegámos ao nosso destino das próximas horas. Boa sorte rapaz!

- És engraçada, mas não tem piada. – ri-se. – Mas já agora, foi bom falar com alguém tão normal quanto eu.

- Ah! Não digas isso. Existem por aí outras tantas por aí também normais. O problema é que o índice de carência está muito elevado.

Rimo-nos.

Passaram-se uns pares de horas até à hora de almoço. Dei a minha saída e fui até aos elevadores. Ia almoçar à rua. O refeitório do edifício não é propriamente espectacular.

- Espera! Espera! – Oiço ao longe.

Olho para trás. Vejo o Maurício vindo na minha direcção a correr a acenar com o braço esticado ao alto.

Pensei “Mas o que é que este quer agora?! Ainda me põe as galinhas a cochichar, tu queres ver!!??”

- Já guardei o elevador Maurício. Agora podes respirar e entrar calmamente. Então era isso?

- Também, mas não só !

- Ui! Então ?

- Faz-me companhia ao almoço?

- Oi?!

- Vá lá!... Almoça comigo! És a única rapariga que aqui me parece normal e gostei de falar contigo. Ainda me aparece aqui outra tresloucada a fazer-me um convite para me sentar com ela e depois não consigo dizer que não.

- Ahhhh! Só me estás a convidar para não teres que dizer que não a outra. Sou o teu escudo, portanto.

- Não digas isso!

- Digo sim, mas se é isso que queres... tudo bem!

- Sério?! – um sorriso rasgado começa a formar-se na sua cara – Boa!!

- Claro que é sério! Pagas tu o almoço então queridinho!! – Faço aquele meu ar de gozo e rio-me de forma pouco discreta.

- Boa boa! Nem negoceias é logo a disparar.

- Tens muito a perder! Não existe negociação possível.

- Ahahahah , tens razão. A paciência é uma delas. Então vá, vamos lá que eu pago.

Entramos no elevador. Ficamos em silêncio pois não estávamos sozinhos. Chegando ao último piso ele agarra-me no pulso e sem olhar para mim encaminha-me, dizendo-me:

- Anda vamos até àquele restaurante.

Nesse momento estranhei aquela sua atitude. Não estava à espera. Olhei para ele por conta disso. Ele olhou-me nesse mesmo momento também. Sorriu-me, mas eu não. Senti-me um pouco desconfortável. Na verdade nem sei bem porquê. Talvez por não achar muita piada a estar perto daquilo que todas cobiçam, mas também por sentir aquele contacto tão próximo de alguém que conheço tão pouco.

Chegamos ao restaurante.

- Desculpa ter-te agarrado daquela forma à pouco. Percebi que não achaste piada. Espero que não tenhas levado a mal. – diz-me.

- Ah! Deixa para lá. Já aqui estamos. Eu tolero. – ri-me para tranquiliza-lo da situação.

- Gosto de conversar contigo e queria mesmo na verdade estar num sitio mais isolado para poder falar melhor contigo sem ser só e apenas sobre trabalho e debaixo dos olhares de todas aquelas pessoas a controlarem tudo. Já percebi que tu também te conténs muito por estares no teu local de trabalho.

- Ena ena! Tanta informação junta e tanta coisa que tu observas. – respondi-lhe com um ar admirado.

- Não leves a mal mais uma vez, mas é verdade. Olho para ti e desde que falamos a primeira vez no elevador que senti que gostava de ter mais a tua companhia para poder conversar contigo e conhecer-te melhor.

- Ok! É legitimo e aqui estamos nós.

- Então... fala-me sobre ti.

- Então... chamo-me Jéssica, tenho 34 anos, vivo no lado de lá da margem, mais precisamente em Almada. Conheces?

- Sim, conheço. Gosto de ir até Cacilhas beber uns copos.

- Então, és daqueles que gosta mais de beber copos na rua que numa pista de dança.

- Sem dúvida que sim! E tu ?

- Sem dúvida! – respondi-lhe.

- Eu sabia que tu eras a minha onda!

Nesse momento ri-me entre dentes.

- Então e que mais? – pergunta-me.

- Então... vivo em Almada no meu T2 com o meu cão, um rabugento chamado Skar que me dá enormes dores de cabeça, mas que no fundo é um mimo à procura de mais mimo.

- Eu não queria dizer, mas tenho que o fazer.

- O quê?

- Dizem que os animais são parecidos com os donos! – ri-se.

- És tão engraçado ó lindinho!

- Eu sei que sou! – ri-se mais ainda – Então e namorado tens?

- Não! Já fui operada ao apêndice. Já não tenho dessas coisas. – começo-me a rir na sua cara.

Ele faz uma cara meio estranha.

- Que foi ?

- Não percebi essa piada. – responde-me.

- Não mesmo ou sentiste-te ofendido?

- Ah ?!… Como assim ?!

- Acabei de rotular homens/namorados de apêndices, aquela coisa que não serve para nada que retirando não faz falta nenhuma. A piada acabou de perder a piada. E eu a pensar que eras gajo para me acompanhar.

- Ahhhhhhh! – começa a rir-se.

- Só agora é que te ris?! Já vais tarde! Agora até me fazes sentir mal.

- Mas teve mesmo piada. Hei-de contar essa um dia a alguém, mas não podes ser assim. Não são todos apêndices.

- Por favor, poupa-me! Nem vamos começar com essa conversa.

- Começo sim!! Mas descansa que também acabo já dizendo que eu não sou apêndice e que comigo eras bem capaz de te divertires muito.

Até parei de mastigar. Olho para ele com um ar sério.

- Não estavas à espera desta, não é? Eu sei que não, mas é verdade. Mas vá... Eu calo-me já não vás tu ter uma indigestão a meio do almoço e depois tens que ir embora e eu ainda preciso de ti para voltar lá para o meio da galinhagem.

- Meu Deus, quem és tu?? Onde é que eu me vim meter?? – abano a cabeça e começo a rir-me.

- Também não sei, mas olha…

- Sim…?

- Hoje é sexta!

- Sim, e... ?!

- Depois é fim de semana...

- Sim, e...?!

- E não trabalhamos!

- É, não é? Que bom!

- Sim! Então hoje vens sair comigo!

Alexa

Alexa

Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...

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