04 maio, 2023 O beijo negro
Gastão era um notável deputado
Gastava latim sem gaguejar
Era tão poderoso como emproado
Já nem cagava, mandava cagar
Homem recto, alvo de louvores
Nunca se lhe conheceu inconfidência
No entanto, mal sabiam os eleitores
O que em verdade lhe ia na consciência
Gastão era bem casado com Ester
Mas transportava um infame segredo
Queria porque queria que a mulher
Na cama lhe desse o “beijo negro”
Não era que duvidasse de si mesmo
Ou fosse dado a taras desviantes
Mas sentia uma comichão no rego
E já nem fodia as criadas como dantes
Por muito que o visse com um sábio
A mulher quedou-se horrorizada
Queria ele que ela metesse os lábios
Por onde sua excelência merdejava?!
Tamanha presunção nunca se viu
Jamais se prestaria a tal vergonha
Ele que fosse para a puta que o pariu
Não fora educada para a peçonha
Mas sua mente ficou a reflectir
E o desejo não mais se aquietou
Até que um dia, apanhando-o a dormir
Deixou-se de merdas e provou!
Lambeu, beijou e não desprezou
E Gastão acordou com um suspiro
Ela achou doce, ele gritou
Esporrou-se todo como um crente lascivo
Nesse dia não comentaram o assunto
Dia seguinte ele chegou com o presente
Um strap-on mais teso que defunto
Para ela pôr no seu rabinho carente
Outra vez a madame se insurgiu
Mas desta feita foi-se rápida a vergonha
Enfiou-lho até ao fundo e admitiu:
A obra nasce quando o homem sonha!
Vivem hoje em lúbrica harmonia
Fraco seria doutra forma o deputado
Se não lutasse, a bem da democracia
Pelo direito de a mulher lhe ir ao rabo!
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com