21 mai, 2020 Filme Noir
A porta não tem fechadura nem precisa. É a casa mais segura do bairro...
A primeira luz da manhã começa a mastigar a madrugada. A porta não tem fechadura nem precisa. É a casa mais segura do bairro. Fernando acaba de entrar. Pousa o saco vazio, ajoelha-se para abrir o cofre e começa a transferir maços de notas para dentro do saco. Toca o telemóvel. Vê que é Gilda. Mete o saco no cofre, que não fecha. Levanta-se e atende.
Fernando: Sim?
Uma voz de mulher, brasileira.
Gilda: Fernando?
Fernando: Sim.
Gilda (Hesita, parece que vai começar a chorar. Consegue controlar-se): Já resolveu os seus assuntos?
Fernando: Estou a tratar disso. Como estás?
Gilda: ...Impaciente. Você tinha razão. Quando se decide uma coisa, dá uma pressa...
Fernando: Vou demorar um bocado, ainda, mas estou despachado à hora que marcámos.
Gilda: Fernando... Tem a certeza que quer levar isto por diante?
Um ruído de cortinas a abrir. Uma rapariga entra na sala e olha para Fernando. Marisa. Fernando já a viu mas não a conhece. Está sempre lá por casa. Fernando olha para o rabo da rapariga. Ela sabe e flirta com isso.
Fernando (ainda ao telefone): Vou estar à espera onde combinámos.
Gilda: ...Está bem.
Fernando: Não tragas bagagem, apanhamo-la quando passarmos para ir buscar a tua mãe. Falaste com a tua filha?
Gilda: Está tudo certo. Ela encontra com a gente no restaurante.
Fernando olha Marisa de alto a baixo, sorri sem sorrir. A rapariga está distraída, a olhar para um puto que adormeceu no sofá à frente da televisão. Tem um frasco de maionese no colo e dorme tão serenamente que Fernando nem o tinha visto ali.
Fernando (ainda ao telefone): Óptimo.
Gilda: Te vejo, então.
Fernando: Sim. Até logo. ...Gilda?
Gilda: Sim?
Fernando: ...Nada... Tu sabes. Até já.
Fernando desliga o telefone. Marisa aponta para o puto.
Marisa: O que é que este está aqui a fazer?
Fernando: Pensei que fosse teu.
O puto dorme profundamente, sentado no sofá. À sua frente a televisão passa um filme em que um homem chicoteia furiosamente as nádegas duma mulher nua. O puto dá um pequeno gemido, sabe-se lá o que se passará nos seus sonhos. Sexo e violência, as primaveras banais da televisão…
Fernando pega na nuca de Marisa e empurra-a naturalmente para a casa de banho. Encosta-a de frente para o lavatório, levanta-lhe a saia minúscula e baixa-lhe as cuecas só até onde é preciso, a meio do rabo. Abre as calças, que lhe caem pelas pernas e puxa o caralho para fora. Aponta-o bem ao centro do olho do cu de Marisa e empurra leve mas firmemente.
Marisa: Aí não! Assim não, foda-se!
Fernando: Cala-te. É como eu quiser.
Marisa: Aaaaai! Cabrão de merda!
Fernando ouve um som metálico vindo da sala. Acabou de enterrar-se até meio no cu de Marisa. Tem urgência em metê-lo todo, sentir os tomates a esfregar o rabo dela. Empurra mais um bocado, muito duro.
Fernando: Parece que o teu filhote acordou. Se naquele dia tivesses levado com ele assim nada disto acontecia, não é?
Marisa: Filho da puta!
Fernando puxa Marisa pelos cabelos e empurra-a com muita força, agora. Entrou todo. A rapariga grita de dor.
O grito acorda o puto no sofá. Desperto, olha para a figura agachada perto do cofre, um homem com cerca de 20 anos, barbudo e cabeludo. Segue o acontecimento com os olhos sem emitir um som. Acena com a cabeça ao sinal que o intruso lhe faz e volta-se de novo para a televisão.
Fernando vem-se copiosamente dentro do cu de Marisa. Grunhe como um condenado. Essa merda de se meter com cinquentonas cheias de problemas… já devia ter aprendido a lição. Muita conversa, pouca foda. Fernando aperta as calças e deixa Marisa ajoelhada na casa de banho. Vai ao quarto e volta à casa de banho, arranja-se ao espelho, ignora as imprecações da rapariga. Antes de sair atira meia dúzia de pacotes de heroína para o colo de Marisa.
Muito calmamente, volta ao quarto e vem de lá com uma mala de viagem. Pousa-a, veste o casaco e agacha-se à frente do cofre. Abre-o e descobre que está vazio. O saco do dinheiro desapareceu!
Fernando pensa, sem entrar em pânico. Finalmente acha que percebeu o que aconteceu. Corre para a divisão onde geralmente estão os junkies. Apenas lá está um. Ao sentir Fernando entrar, o junkie olha para Fernando e sorri. Fernando agarra-o e atira-o de cabeça contra a parede. O jovem fica desnorteado. Fernando agarra-o pelos colarinhos.
Fernando: Onde está o dinheiro? Responde! O que é que fizeste à merda do dinheiro?
O junkie está tão desnorteado e tão drogado que não é capaz de dizer nada. Fernando tira uma pistola do bolso do casaco e aponta-lha à cabeça.
Fernando: Vou falar devagar para tu perceberes. Onde está o saco do dinheiro que estava dentro do cofre?
Junkie (a gaguejar): Não sei nada de dinheiro nenhum, patrão.
Marisa aproxima-se pelas costas
Marisa: O Eduardo...
Fernando: O quê?
Marisa: Foi o Eduardo!
Fernando (confuso): Qual Eduardo?! Como?
Marisa: O estúpido do teu filho junkie esteve aqui. Ele viu...
Fernando: Viu o quê?!
Marisa (começa a rir, estupidamente, quase a chorar): ...Viu o pai a foder a namorada dele...
Fernando está calmo, mas sente a raiva a estilhaçar-lhe as paredes do crânio. Anda de um lado para o outro com a arma na mão. Leva uma mão à cabeça.
Uma voz vinda de onde?
Entregou a alma a Deus, mas Deus vendeu-a ao diabo.
Abana a cabeça enquanto anda de um lado para o outro. Repentinamente, sem aviso, sem se recordar de ter pensado nisso, de ter decidido fazê-lo… vira-se para o junkie e dá-lhe um tiro na cabeça!
O homem cai todo junto, nem sequer gritou.
Quando se volta, Fernando vê o puto à porta com o frasco de maionese nas mãos. O puto presenciou a cena toda.
Fernando olha-o nos olhos.
Fernando: Mas afinal quem és tu?
Marisa grita e aponta para o morto.
Marisa: É o puto dele, caralho!
Fernando hesita e depois aponta a pistola ao puto. Engole em seco.
O puto não se mexe.
Fernando: Vai ver os desenhos animados.
O puto continua sem se mexer.
Fernando: Anda!
O puto abala espavorido.
Fernando agarra Marisa e encosta-lhe a pistola à boca.
Fernando: Há quanto tempo foi isso?
Marisa (sem medo): Não sei... cinco minutos.
Fernando olha-a cheio de raiva. Por fim parece acalmar. Encosta-lhe a pistola à face e vai descendo, percorre-lhe o corpo, esfrega-lhe o cano metálico na cona. Marisa ri.
Marisa: Há bocado não estavas assim tão duro...
Fernando estrebucha mas controla-se. Mete a pistola no bolso, agarra na mala de viagem e sai porta fora.
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com