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04 Mayo, 2023 O beijo negro

O beijo negro capa

Gastão era um notável deputado
Gastava latim sem gaguejar
Era tão poderoso como emproado
Já nem cagava, mandava cagar

O beijo negro 1 

Homem recto, alvo de louvores
Nunca se lhe conheceu inconfidência
No entanto, mal sabiam os eleitores
O que em verdade lhe ia na consciência

O beijo negro 2

Gastão era bem casado com Ester
Mas transportava um infame segredo
Queria porque queria que a mulher
Na cama lhe desse o “beijo negro

O beijo negro 3

Não era que duvidasse de si mesmo
Ou fosse dado a taras desviantes
Mas sentia uma comichão no rego
E já nem fodia as criadas como dantes

O beijo negro 4

Por muito que o visse com um sábio
A mulher quedou-se horrorizada
Queria ele que ela metesse os lábios
Por onde sua excelência merdejava?!

O beijo negro 5

Tamanha presunção nunca se viu
Jamais se prestaria a tal vergonha
Ele que fosse para a puta que o pariu
Não fora educada para a peçonha

O beijo negro 6

Mas sua mente ficou a reflectir
E o desejo não mais se aquietou
Até que um dia, apanhando-o a dormir
Deixou-se de merdas e provou!

O beijo negro 7

Lambeu, beijou e não desprezou
E Gastão acordou com um suspiro
Ela achou doce, ele gritou
Esporrou-se todo como um crente lascivo

O beijo negro 8

Nesse dia não comentaram o assunto
Dia seguinte ele chegou com o presente
Um strap-on mais teso que defunto
Para ela pôr no seu rabinho carente

O beijo negro 9

Outra vez a madame se insurgiu
Mas desta feita foi-se rápida a vergonha
Enfiou-lho até ao fundo e admitiu:
A obra nasce quando o homem sonha!

O beijo negro 10

Vivem hoje em lúbrica harmonia
Fraco seria doutra forma o deputado
Se não lutasse, a bem da democracia
Pelo direito de a mulher lhe ir ao rabo!

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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