17 Oktober, 2019 O Clube Secreto
Ela abriu uma pesada cortina vermelha e foi como se entrássemos num mundo completamente novo...
Depois de cerca de uma hora de viagem, Lurdes parou o carro numa rua estreita, debaixo de um candeeiro apagado. A partir daí, conduziu-me a pé por mais meia dúzia de ruelas esconsas até pararmos à porta de um edifício antigo que, logo à primeira vista, não se podia dizer que inspirasse boas sensações. Mais pareciam as ruínas de um bairro que logo na origem não tivera boa fama…
A decadência do lugar não esmoreceu a coragem da minha acompanhante, que num gesto natural, de quem parecia habituada a fazê-lo, tocou à campainha. A porta abriu-se de imediato, sem que se vislumbrasse vivalma atrás dela, e passámos para um pequeno hall de paredes de tinta descascada e teias de aranha nos cantos.
Lurdes sacou (não sei exactamente de onde, pois deixara a mala no carro) de um cartão magnético, que passou num discreto leitor e fez abrir uma segunda porta que dava para a divisão seguinte.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a música. Clássica, elegante, a destoar por completo com o lugar. Depois, mais focado, vi nas paredes o que parecia uma colecção de máscaras, todas elas de faces de animais. Algumas tinham sido retiradas, pois viam-se espaços livres entre elas. As que faltavam estavam assinaladas com um ponto vermelho em baixo e outras, igualmente marcadas com o ponto vermelho, ainda se encontravam nos respectivos suportes.
Como me visse um pouco desorientado com tudo aquilo, Lurdes disse nas minhas costas:
– Escolhe uma que não esteja marcada.
Demorei-me um bocado, pois apesar de muitas estarem reservadas, ainda assim a variedade era imensa. Finalmente peguei numa máscara de crocodilo, com o focinho muito longo. Coloquei-a e ouvi os risinhos de Lurdes atrás de mim:
– Uma escolha insólita, mas original… Acho que é a primeira vez que temos um crocodilo.
Só quando me virei para ela é que tive o primeiro sinal de que género de sítio poderia ser aquele… Lurdes estava completamente nua, apenas com a face coberta pelo que parecia ser uma máscara de coelho!
– Aqui não temos nomes. Eu sou a dona Lebre. Prazer em conhecê-lo, senhor Crocodilo.
Eu estava tão atarantado que nem percebia exactamente o que ela me estava a dizer. Os meus olhos faziam-lhe um scan total, desde os mamilos rosados, muito largos, até ao tufo triangular de pintelhos que lhe atapetava a cona. Era linda!
– O prazer é meu – respondi finalmente.
– Do que é que estás à espera? Tira a roupa…
Atendi à sua ordem como um soldado acabado de promover. Mal me desembaracei das minhas vestes, e depois de me analisar vagamente, Lurdes perguntou:
– Preparado?
Longe disso, mas fez-me sentido dizer que sim.
Então ela abriu uma pesada cortina vermelha e foi como se entrássemos num mundo completamente novo.
Há uns bons 10 anos que Lurdes e eu trabalhávamos juntos e nunca a tinha visto como mulher. Quer dizer, logicamente via-a passar e era atraído pela sua beleza. Sabia vestir-se, sabia andar, toda ela era ligeira e fluída. Sobretudo, sabia o efeito que provocava quando divagava pelo escritório com a sua leveza sem peso, como se nunca tocasse com os pés no chão. Mas a verdade é que eu nunca concretizara a atenção que ela me suscitava em desejo palpável, naquela ideia fixa que nos entesa a mente e nos faz pensar: “Ui, adorava comer aquilo!”
Por qualquer motivo, pelo ambiente profissional, pelo facto de estar acima de mim na hierarquia da empresa, fosse lá o que fosse, nunca sequer flirtara com ela. Isto até há uma hora atrás quando, no calor da festa de fim de ano, da música, das luzes e de vários copos de whisky velho, a beijei na boca como se fosse algo que desde sempre estivera escrito, como se fosse inevitável.
Lurdes ficou menos surpresa que eu quando nos largámos e eu quase nem a conseguia olhar nos olhos. Respondeu ao meu embaraço com um sorriso e aproximou-se de novo para me beijar na cara, como se me consolasse, mas passando a mão com suavidade sobre o volume que inchara dentro das minhas calças. Não era rapariga de alimentar equívocos, fiquei logo a saber…
E imediatamente fez-me uma proposta que não pude recusar:
– Está calor aqui. Vou dar uma volta. E tu vens comigo.
Segui-a até ao carro e deixei-me levar por caminhos estranhos durante uma hora. Mal trocámos uma palavra e quando lhe perguntei onde íamos, limitou-se a responder:
– A um sítio que eu cá sei.
Mal transpus as cortinas que divisavam o mundo como o conhecia daquele universo desconhecido, senti uma tontura. Nada parecia real! As vibrações da música, demasiado alta, entravam-me directamente no cérebro e por todo o lado só se via gente nua, mulheres altas de mamilos espetados e pintelheira fartas, e homens de pau teso.
Em comum tinham ainda o facto de todos usarem a máscara de um animal. Como Lurdes dissera, ali não havia nomes, apenas um anonimato que parecia saído das fábulas de La Fontaine. Ali ninguém era Inês, Joana ou Manuel mas, em vez disso, Lontra, Porca e Tigre.
Lurdes, aliás, dona Lebre, cumprimentava-os todos pelo nome próprio do animal que personificavam.
As paredes, de um tom avermelhado muito escuro, estavam forradas com quadros eróticos de pormenor, carnes misturadas, membros mesclados, beijos, braços e pernas entrelaçadas, rabos, mamas, pêlos, etc. Tudo sugestivo mas nada explícito. Cada um deles tinha uma legenda com um provérbio enviesado, tipo:
«Quem nunca foi enrabado que atire a primeira pedra»
«Quem vai ao mar tem que mamar»
«Em terra de cegos quem tem um olho é fodido»
«Em casa de ferreiro espeta-lhe o pau»
Etc…
Um musculoso negro com cara de pássaro e um caralho teso de uns bons 20 centímetros parou à nossa frente e apresentou-nos uma bandeja com copos altos, de uma bebida que não consegui logo identificar (depois descobri que era champanhe) e uma taça de comprimidos azuis, dispostos como se fossem aperitivos.
– Viagra? – perguntei, olhando para Lurdes. – Acabaram-se os amendoins?
Por baixo da máscara de lebre séria percebi que se estava a rir.
– O que é que achas? Tomo um?
– Tu é que sabes se precisas – respondeu, passando de novo a palma da mão suave sobre a minha picha, agora nua.
Olhei para baixo e percebi que estava teso. Peguei em dois copos, passei um a Lurdes e dispensei os comprimidos.
– Vou cirandar – disse-me ela.
– Espera… E eu?! Vais deixar-me aqui sozinho?
– Não te preocupes. Não vais estar sozinho durante muito tempo.
Olhando em volta, percebi que provavelmente teria razão. E não tardou um minuto. Os meus olhos pousaram inadvertidamente numa porca que apalpava uma girafa de pintelhos louros e esta, ao ver que a apreciava com olhos de quem queria comer, largou a companheira e aproximou-se de mim.
– Olá – disse, pegando-me na mão e levando-a até ao tufo amarelo no meio das pernas. Com o seu próprio dedo empurrou o meu dedo para dentro da cona, que estava gelatinosa e quente.
– Olá – repeti eu, começando a sentir-me à vontade com tudo aquilo.
Sem mais conversa, agarrou-me pelo caralho e puxou-me assim pelo meio da sala como quem procurava qualquer coisa. Finalmente avistou um sofá onde estava sentado um bode de pau feito. Apressou o passo e, sem me largar, abriu as pernas e enterrou-se naquele caralho erecto que parecia esperar qualquer coisa do género, dobrando-se depois de forma a apontar a minha verga ao buraco do cu. Virou o longo pescoço e olhou para mim, sem precisar de dar a ordem.
Meti a pila naquele cu que se me abria tão voluntarioso e de onde se destacava uma orla de pelos louros, meio enegrecidos pelo mel que lhe transpirava do ânus e que me excitou brutalmente. A dona girafa, que não tinha gemido ao enfiar-se no senhor bode, fê-lo mal sentiu a minha gaita trespassá-la, provavelmente porque crescera ainda mais dentro do buraco. E foi ela que começou a sacudir a peida de forma a tirar o melhor proveito rítmico daquela foda bipolar.
Eu mal precisava de me mexer e tive tempo de dar uma vista de olhos em redor. Agora via casais a foder por todo o lado, broches aqui, minetes ali e gemidos no ar a misturarem-se com os acordes violentos da música, de onde ribombava uma secção de tambores em crescendo de intensidade.
Tentei localizar Lurdes, mas não a vi em lado nenhum. De súbito, senti um dedo pontiagudo enfiar-se-me no cu! Olhei para trás, surpreendido e vi a máscara de lebre.
– Ainda bem que não cortei as unhas hoje.
Trazia o seu próprio caralho na mão, um touro de um metro e oitenta, bronzeado e condizentemente dotado.
Lurdes puxou-me para trás, fazendo-me desenrabar a girafa, e no seu lugar fez enfiar o touro. A girafa voltou a gemer e não pareceu incomodada pela substituição.
– Agora és meu até eu dizer! Abre a boca e fecha os olhos…
Fiz o que ela mandou e senti na língua o pequeno volume de um comprimido.
– Engole! – ordenou a minha lebre, posto o que se ajoelhou para me chupar o caralho acabadinho de sair do cu da outra… Vim-me logo.
– Engole! – disse eu, fazendo-a rir e quase a engasgando no processo.
Foi uma noite longa que não teria sido possível sem a magia do comprimido azul. Esporrei-me não sei quantas vezes, em não sei quantas bocas, conas e rabos, incluindo os da Lurdes.
Quando saímos, a sala cheirava a corpos quentes e a suor de pés e cus, um odor que ficava na fronteira entre o nauseabundo e o altamente lúbrico.
Quando nos vestíamos na sala das máscaras disse a Lurdes:
– Agora vais dizer-me que a primeira regra do Clube Secreto é que não falamos no Clube Secreto...
Ao que ela prontamente me respondeu:
– Que se foda essa merda! Amanhã quero-te no meu gabinete logo de manhã para te fazer um broche. Vou-te sugar esse caralho todo até implorares para seres meu escravo!!
Que mais podia eu responder perante uma ordem dada por um superior?
– Sim, chefe…
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com