10 Oktober, 2019 A minha mulher
A minha mulher é uma santa: uma santa!
A minha mulher só sai de casa para ir à missa. A minha mulher canta na missa. A minha mulher só sai de casa para eventos da paróquia. A paróquia da minha mulher é muito activa. A minha mulher ajuda na quermesse, mas a mim é que me saiu a rifa!
Se conhecessem a minha mulher percebiam o que eu quero dizer. Aquilo é com cada curva que parece o circuito do Mónaco!
Ela é uma condutora de primeira, apesar de só meter a segunda.
A minha mulher só pega no carro para ir comprar envelopes, papel de carta e selos de correio.
Assim que chega escreve logo uma carta.
Porque a minha mulher é tão virtuosa que trabalha em casa: escreve cartas a desconhecidos que precisam duma palavra amiga! Geralmente pessoas encerradas em sítios gradeados.
Tal e qual como eu disse: uma santa! Uma santa!
A minha mulher é duma classe de pessoas que já não existem: uma pessoa com classe!
A minha mulher veste lindamente.
A minha mulher fala magnificamente.
A minha mulher comporta-se majestosamente.
A minha mulher levanta-se de manhã e escreve logo uma carta.
A minha mulher se não existisse não poderia ser inventada, porque ninguém é assim tão bom nem escreve cartas como ela.
Ver a minha mulher a lamber envelopes é de lamber os dedos.
Ver a minha mulher a passar a língua nos selos até faz cócegas no céu da boca.
Quando fizeram a minha mulher, partiram o molde, essa é a verdade. Felizmente, não lhe partiram a cona toda, deixando-me a mim o obséquio.
Porque não pensem que, lá por ser tão virtuosa, a minha mulher se esquece de ser mulher.
Não. Antes de passarmos à acção, a minha mulher escreve uma carta. Depois despe-se toda até ficar como veio ao mundo, mas com muitos mais pelos na racha.
Assim toda nua, a minha mulher é uma carta aberta.
A minha mulher tem um par de tetas que envergonhavam a Samantha Fox. Tetas santas, como eu costumo dizer. Faz espanholadas melhores que as de Madrid!
A minha mulher tem uma verdadeira boca de incêndio: faz broches como quem engole os cones do trânsito!
A minha mulher tem uma cona de lábios gordos e grelo sobressaliente: faz-me vir só de olhar para ela!
Mal desentope a saia do rego, começa logo a escorrer como uma fonte santa: uma santa!
Depois escreve uma carta.
A cona da minha mulher é como a mala do Sport Billy, mas ao contrário. O Sport Billy tirava tudo da mala, a minha mulher mete tudo na cona.
No outro dia queria fazer um gaspacho e faltava-me pepino. A minha mulher alçou a perna, desviou o elástico da cueca de dentro das bordas e puxou de um pepino fresquinho, acabado de colher.
Com naturalidade, passou-me o pepino a cheirar a paloco e foi escrever uma carta.
A minha mulher faz coisas com o cu que não lembram ao diabo: porque o diabo com certeza não lava o cu com o afinco da minha mulher.
Como eu digo sempre: uma santa! Uma santa!
A minha mulher consegue apertar e desapertar a tripa como se fosse a boca de um peixe. De tal maneira que quando a enrabo é como se me batesse antes uma punheta.
Depois de a enrabar, a minha mulher reza três pais nossos e três clisteres.
Depois escreve uma longa carta.
Antes de me abrir as pernas, reza uma avé maria.
Quando lhe meto o caralho na boca, fica muda como uma freira.
A minha mulher é intemporal: ainda hoje bate uma pívia das antigas!
Na realidade, a minha mulher é um doce de pessoa: benze-se a cada jacto de esporra que lhe mando para as rendas do colarinho.
Depois escreve uma carta.
A minha mulher é tão boa que parece mentira!
E, por muito que me custe dizê-lo, neste caso o que parece… é!
Eu não gosto de dizer que a minha mulher é uma puta, mas é o que ela é.
A minha mulher não está – digo eu, quando me batem à porta.
– Não está? E sabe quando volta?
– Não sei. A minha mulher fugiu a semana passada com o carteiro.
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com