26 Mai, 2022 A Pensão da D. Judite - Capítulo 1
A "velha" adormecida...
Mal fiz 18 anos saí de casa determinado a tornar-me um homem. Não era dado à escola nem ao trabalho, de maneiras que vivia de biscates que me davam para pagar um quarto modesto na pensão da dona Judite, que era amiga da minha madrasta mas nem por isso me dava o desconto.
A minha madrasta não tinha marido há muitos anos, desde que o meu pai saiu um dia para comprar tabaco e nunca mais foi visto, e não gostava de me ver lá em casa porque atrapalhava-lhe os namoros. Por isso, viu com bom olhos quando avisei que ia deixar o lar à procura da minha independência.
O hábito de a espiar enquanto ela dava a cona e o cu aos seus amantes pode também ter contribuído para a sua alegria, dado que várias vezes me apanhou no acto e uma vez até tive que saltar da varanda para fugir do carteiro. Mesmo com as calças em baixo, nunca o tinha visto com tanta pressa a entregar a correspondência...
A pensão da dona Judite não tinha porras nem mordomias e o que lá se pagava era condizente com o serviço. O pequeno-almoço estava marcado para as 9, que era quando as pessoas entravam ao trabalho, pelo que nunca sujou uma chávena a servi-lo. O almoço e o jantar eram sopa seis dias por semana, substituída ao domingo por um prato de esparguete com ovos mexidos, por ser dia santo.
Dona Judite achava-se ela própria um bocado santa por ajudar um bando de pobres diabos que não tinham onde cair mortos, como eu e os outros sete inquilinos que alojava, mas a verdade é que as rendas eram suficientes para não ter que fazer mais nada, a não ser a sopa, os ovos mexidos e a lavagem dos lençóis uma vez por semana. O tempo que lhe sobrava dedicava-o a causas nobres, como ver telenovelas e ir à missa uma vez por dia, logo de manhãzinha.
Não havendo pão, porque o padeiro todos os dias se “atrasava”, dizia ela, a sopa vinha invariavelmente acompanhada com um sermão, que era a interpretação muito própria da Dona Judite do que o pastor tinha dito na homilia matinal. Quer dizer, o tema mantinha-se mas a interpretação costumava variar bastante de uma refeição para a outra, consoante os copos de vinho rosé que a Dona Judite debicara até ao momento, sendo que costumava debicar de manhã à noite. Tinha uma boa garrafeira e uns dias melhores e outros piores.
Depois, no seu quarto e a salvo de bocas cobiçosas, compensava as fraquezas do caldo com pacotinhos de bolacha Maria.
Ela mesma fazia questão de servir a sopa enquanto proliferava moralidades à volta da mesa, magnânima. Mas quando chegava ao pé de mim dobrava-se um pouco mais e ao puxar da concha dava-me sempre três ou quatro marradinhas com as mamas nas bochechas.
Era a sua forma de dizer que, apesar de não me achar ponta por onde pegar, ainda assim tinha lá as suas simpatias por mim. E gostava de um pequeno flirt, como qualquer mulher, independentemente da idade ou da condição.
Dona Judite podia ser uma santa mas nem isso a fazia usar soutien e costumava transportar o generoso par de mamas em decotes graciosamente pronunciados.
Cada vez que tinha que se dobrar para qualquer coisa era um espectáculo de variedades lá em casa... Eu adorava particularmente quando ela esfregava o chão e os dois enormes melões balouçavam enquanto ela espalhava a lixívia.
Não era uma surpresa que eu passasse os repastos de pau feito, acompanhando a sopa rala com a visão daquelas tetas suculentas, que os olhos também comem... Aliás, ficavam eles, os olhos – mas também o espírito – mais alimentados do que o estômago.
Quando todos saíam para o trabalho, depois do almoço, Dona Judite rezava mais um terço da garrafa e recolhia aos aposentos para fazer a sesta. Era certa como um relógio.
E foi precisamente numa dessas tardes modorrentas, em que a velha recolhia as vastas carnes e as mimava de papo para o ar, marinando o sono com roncos profundos que faziam tremer os bibelots nas prateleiras, que se deu o nosso “próquéquié”...
Um dia em que um biscate deu em nada, vi-me na rua desamparado, exposto aos elementos e desprovido de fundos para refrescos. Sem mais remédio, decidi voltar para casa e esperar pelo que a noite me poderia trazer. Mal sabia eu…
Subo as escada até ao primeiro andar e dirijo-me ao meu quarto, o último ao fundo do corredor. Assim que entro vejo imediatamente que a janela está aberta mas já não tenho tempo de fazer nada, com a corrente de ar a porta fecha-se com um violento estrondo atrás de mim.
O estouro foi de tal ordem que pensei imediatamente:
– Pronto, já acordei a merda da velha!
A medo, abro a porta de mansinho e tento escutar alguma reação ao enorme ruído que provoquei. Para minha surpresa, não ouço nada.
Saio para o corredor e reparo que o mesmo fenómeno meteorológico que fechou abruptamente a minha porta, teve o efeito colateral de escancarar a porta imediatamente à frente, que não era outra que a entrada dos cómodos da própria Dona Judite!
Já estava a imaginar o raspanete...
No entanto, nem um som, nem um movimento, emergiram da calma que reinava na alcova da velha.
Ainda receoso, fixei-me na luz que reflectia do quarto para o chão do corredor, mas nada parecia mexer. Então decidi aproximar-me e enfiar a cabeça pela porta e… foi quando a vi!
Dona Judite estava deitada na cama, aparentemente adormecida, toda destapada, com as mamas de fora e as cuecas em baixo!
Uma enorme pintelheira negra destacava-se no conjunto, atapetando tudo da colina da barriga para baixo, até se espalhar pelas virilhas como uma trepadeira encaracolada. Mas mesmo à distância e debaixo de todo aquele matagal, via-se-lhe perfeitamente a racha…
O meu coração disparou a mil à hora perante aquela visão, que tinha tanto de surreal como de sugestiva. Uma coisa era certa, a velha era boa todos os dias!
Em grande sobressalto, sem conseguir pensar claramente mas instintivamente temeroso de ser apanhado em flagrante voyeurismo, nem me ocorreu entrar para ver mais de perto todas as delícias que, sem saber, ela expunha ao mundo. Mas fiquei a vê-la por um bom bocado desde fora, acompanhando o sobe e desce das mamas nuas ao ritmo compassado da respiração, que ilustrava um sono profundo.
Não era preciso ser detective forense para adivinhar o que se tinha passado ali: a velha tinha estado a esgalhar a pássara e depois do orgasmo adormeceu. Como podem calcular, aquilo deu-me uma tesão de partir tijolos!
Subitamente ela mexeu-se e o meu acto reflexo foi fechar a porta e fugir. Não me arrisquei a voltar a abri-la. Ela não tinha acordado à primeira mas isso não queria dizer que não acordasse à segunda.
Voltei para o quarto, frustrado mas ao mesmo tempo eufórico e nem sequer perdi tempo a preparar o cenário... Encostei-me à porta, baixei as calças e bati uma punheta de rajada. Vim-me ali mesmo, em cima da carpete.
Ao jantar até a sopa me custava a engolir. Nunca mais conseguiria olhar para a Dona Judite com os mesmos olhos...
No dia seguinte, após o almoço, saí com todos os outros à hora de entrar para o trabalho, mas passados 20 minutos voltei para casa. Subi as escadas pé ante pé e, com muito cuidado com os ventos exteriores, não fosse mais uma corrente de ar comprometer os meus movimentos furtivos, entrei no meu quarto, confirmando no caminho que a porta da minha senhoria já estava fechada, indiciando portanto que já recolhera para a sesta.
Esperei mais um par de minutos e, não ouvindo nada nem ninguém, saí para o corredor e fui direito à porta da velha.
Olhei pela fechadura mas pelo ângulo da porta a única coisa que via eram as suas pernas nuas, que se agitavam impacientemente sobre a cama. Não muito depois, um estertor muscular fê-la espernear por instantes. Podia ser tudo uma fantasia minha, podia simplesmente estar com uma dor qualquer ou com alergias... Mas todo aquele reboliço parecia mesmo a velha a vir-se!
Mais frustrado que no dia anterior, mas também com o dobro da tesão, masturbei-me no mesmo sítio. Para prevenir aborrecimentos, desta vez atirei um jornal ao chão e só o esguicho inicial foi macular a alcatifa, que me tinha custado bastante a limpar. O grosso da esporradela caiu sobre a cara de uma popular influencer que afirmava ter encontrado o amor. Nesse momento, consegui relacionar-me quase inteiramente com os seus sentimentos...
Ao jantar, mais uma vez, não consegui comer. A sopa enrolava-se-me na língua como um osso duro de roer. Só me apetecia atravessar a sala e mergulhar para dentro das mamas da minha senhoria e morrer lá como o Tarzan nas areias movediças. Por essa altura, tudo o que acorria ao meu pensamento era “deboche”. Até me cheirava a borracha queimada...
A noite chegou e no silêncio do meu quarto, depois de ter esgalhado duas pívias a rememorar a pintelheira da velha, percebi que precisava de um plano mais elaborado se quisesse tirar verdadeiro proveito da oportunidade que me era dada. Assim como estavam as coisas, era como estar cheio de sede a olhar para uma vaca leiteira e pôr-me a galar-lhe as tetas em vez de lhas ordenhar… Um desperdício!
Depois de explorar umas quantas possibilidades, adormeci satisfeito com as minhas ideias e disposto a pô-las em prática mal o dia amanhecesse.
Às 8 e meia estava a pé. Até a cama rangeu, mal-humorada por lhe dar trabalho tão cedo... Mantive-me no quarto até ouvir todos saírem, porque se alguém me visse a pé àquelas horas da madrugada seria como avistar um fantasma. Nunca ninguém me tinha visto ali antes do meio-dia, era uma regra filosófica minha. Há quem nasça para o trabalho e há quem nasça para a sorna e essas pessoas devem separar-se naturalmente, dando a todos a realização que procuram.
Quando finalmente ouvi a porta da rua bater, o que só acontecia quando a Dona Judite a trancava antes de ir para a missa, saltei como uma mola e fui direito ao quarto dela. Costuma dizer-se que a sorte protege os audazes e foi o que me aconteceu. Assim que abri a porta, transgredindo mais uma vez o espaço íntimo da velha, descobri a solução que procurava: ao lado do guarda-fato, cuja porta do meio reflectia num enorme espelho a frente da cama, havia um biombo com motivos japoneses, não muito grande mas suficientemente alto para ocultar um conspirador entesado.
Já tinha pré-definido os tempos da invasão, agora tinha também a localização estratégica ideal para o meu esconderijo. Decidi que entraria em acção a seguir ao almoço.
Comi o mais rápido que pude e saí da mesa ainda os outros iam a meio, a pretexto de ter hora marcada “num sítio” para “fazer uma coisa”. Como ninguém dava particular importância ao que eu dizia, o meu anúncio não gerou qualquer tipo de comoção e saí tranquilamente sem que alguém sequer levantasse a sobrancelha.
Desci as escadas, abri a porta da rua e fechei-a com estrondo, mas sem chegar a sair de casa. Todos pensariam que eu tinha saído. Voltei a subir as escadas, agora o mais suavemente que consegui, e escapuli-me directamente para o quarto da velha.
Quase uma hora depois, quando finalmente ela entrou, eu estava quase a dormir atrás do biombo...
Mal ela fechou a porta entrei em pânico! E se ela fosse atrás do biombo, sei lá, trocar de roupa, mudar de cuecas, vestir lingerie especial para a sessão…? Não, ela não tinha nenhuma toilete especial no primeiro dia que a encontrei. E porque iria atrás do biombo se estava sozinha no quarto (pensava ela!) e podia despir-se à vontade sem ninguém a ver?
Estes pensamentos acalmaram-me, e mais ainda quando percebi, pelos ruídos que estava a fazer, que estava a mexer em coisas no guarda-fato, portanto, longe do meu coito.
Ainda assim deixei-me estar muito quieto, sem me atrever a olhar para a cama, até que comecei a ouvir pequenos suspiros.
E finalmente levantei o pescoço como um periscópio e arranjei coragem para ver…
A pensão da Dona Judite - Capítulo 2
Armando Sarilhos