22 setembro, 2015 Há um lugar onde crescem pénis às meninas quando fazem 12 anos
Não é uma metáfora! É um facto anatómico explicado pela ciência.
Numa remota ilha da República Dominicana, há meninas que viram rapazes quando atingem a idade da adolescência, lá pelos 12 anos. Não, não é uma metáfora qualquer sobre a igualdade de género! É um facto anatómico que se verifica com o crescimento de um pénis e que se deve a uma rara desordem genética.
Na aldeia de Salinas, no sudoeste da República Dominicana, há crianças que nascem meninas, mas que se transformam em rapazes quando atingem a puberdade, com o crescimento de pénis.
Estes casos são tão recorrentes na pequena comunidade que já são considerados normais, embora nos pareçam surpreendentes. E até já criaram uma palavra para descrever estas crianças especiais - "guevedoces" que, traduzido à letra, significa "pénis aos 12".
Na verdade, estes "guevedoces" apresentam características biológicas masculinas, mas os seus pénis não cresceram até eles atingirem a adolescência.
Estas crianças são criadas como meninas pelos seus pais, sendo inclusive baptizadas com nomes femininos. Isto acontece mesmo que as pessoas não saibam a que género pertencem os filhos.
É isto mesmo que conta Johnny, de 24 anos, que viveu como Felecitia até à puberdade e que relatou o seu caso à BBC2 para o programa "Countdown to Life – the extraordinary making of you".
"Lembro-me que costumava usar um pequeno vestido vermelho. Nasci em casa e não no hospital. Eles não sabiam de que sexo eu era.
Fui para a escola e costumava usar uma saia. Nunca gostei de me vestir como menina. Quando me compravam brinquedos de rapariga, nunca me interessei por brincar com eles. Tudo o que queria fazer era brincar com os rapazes.
Quando mudei, fiquei feliz com a minha vida."
Palavras que fazem lembrar o dilema daqueles que se sentem no corpo errado e que vivem como transexuais, como é o famoso caso do padrasto de Kim Kardashian que se assumiu como mulher e que fez sucesso como a brasa Caitlyn Jenner.
A causa do mistério
Este detalhe extraordinário da anatomia ocorre devido a uma rara desordem genética caracterizada pela falta de uma enzima no útero materno.
Esta enzima - 5-a-reductase - é responsável pela produção de uma forma específica das hormonas do sexo masculinas, conhecidas como di-hidrotestosteronas.
Quando estão em formação no útero materno, todos os bebés, sejam meninos ou meninas, possuem umas glândulas internas conhecidas como gónadas, elementos do sistema reprodutor masculino e feminino, e uma pequena protuberância entre as pernas que os cientistas apelidam convenientemente de tubérculo!
Pelas oito semanas de gravidez, os bebés meninos que possuem o cromossoma Y começam a produzir di-hidrotestosterona em quantidades generosas, o que faz com que o tal tubérculo cresça até se transformar num pénis.
No caso dos bebés meninas, não se verifica a produção dessa hormona, pelo que o tubérculo vira um clitóris.
É aqui que entra a tal enzima que falta aos "guevedoces" e que, logo, não despoleta a produção da di-hidrotestosterona. Assim, estas crianças, com todas as características genéticas masculinas, crescem aparentemente sem testículos e com um órgão sexual que se assemelha mais a uma vagina do que a um pénis.
Só na puberdade, com a produção massiva de testosterona, é que os órgãos sexuais masculinos "crescem". Aquilo que deveria ter acontecido no "quentinho" da barriga da mãe, acontece apenas aos 12 anos, em plena violência da adolescência (e por causa dela!).
Mas, mesmo perante essa transformação, os "guevedoces" apresentam, normalmente, menos pêlos faciais e glândulas da próstata menores, em comparação com a maioria dos homens.
Uma em cada 90 crianças desta aldeia remota da República Dominicana apresenta esta desordem genética, mas a situação é tão bem encarada pelos locais que muitos dos "guevedoces" mantêm os seus nomes femininos, mesmo após o crescimento dos respectivos pénis.
Ora aqui está um progresso de mentalidade bem interessante - porque, afinal, o que nos define é muito mais do que apenas um nome ou um pénis ou ainda a sua ausência.
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)