01 abril, 2015 Ejaculação assistida: trabalhadora do sexo fala sobre este serviço
Masturbar pessoas como serviço público de saúde e por sentido de dever...
Porque todos os seres humanos têm desejos sexuais e direito ao prazer. Eis o mote da associação White Hands que fornece serviços de ejaculação assistida, ou de masturbação, como se preferir dizer, a pessoas com severas incapacidades físicas. Veja como tudo se passa, nomeadamente do ponto de vista de uma das cuidadoras...
A White Hands é uma associação de beneficência japonesa que se dedica a prestar "cuidados de ejaculação para aqueles que têm severas incapacidades físicas como paralisia cerebral ou distrofia muscular", explica o seu fundador, Shingo Sakatsume, numa reportagem da revista Vice Japan que poderá ver no fim deste artigo.
Esta masturbação é vista como um serviço público de saúde e é prestada por profissionais certificadas e com formação adequada, nomeadamente no domínio clínico e médico. É também uma forma de retomar a ideia que privilegiou uma recente conferência, em Portugal, sob o lema "Nós os deficientes fodemos!".
Por volta do minuto oito do vídeo reproduzido em baixo, pode atentar na forma como se processa esta "ejaculação assistida". Trata-se de um ritual com regras muito precisas, a começar pelo uso de luvas e de uma toalha que se molha em água quente para limpar as partes genitais do cliente.
Na reportagem Sayori Tanaka, uma trabalhadora do sexo da White Hands, dá o seu testemunho sobre como tudo se passa, como começou esta actividade e o que sente a fazer este tipo de serviço...
"Eu costumava trabalhar como cuidadora, tanto com deficientes mentais como físicos.
Foi quando trabalhava com uma pessoa mentalmente incapacitada que comecei a considerar as dificuldades sexuais que estas pessoas enfrentam. Foi o que me levou a começar a fazer este tipo de trabalho.
Muitas pessoas com incapacidades mentais nunca tiveram uma experiência sexual e nunca aprenderam a lidar com os desejos que brotam dentro delas. Muitas vezes, nem conseguem compreender o que é que esses impulsos são.
Como resultado, esfregavam-se contra mim ou, se eu me deslocava da vista deles, ficavam desconfortáveis e começavam a magoar-se a si próprios. Não conseguem processar o estado de excitação que as afecta, por isso, alguns, simplesmente punham as calças para baixo e andavam assim.
Estas dificuldades sexuais arredam muitos dos nossos clientes de vidas completamente satisfatórias. Se tiverem uma ajuda para aliviar as suas necessidades sexuais ou se obtiverem apoio que as ajude a enfrentar a sua sexualidade, então talvez seja mais fácil para elas comunicar.
A White Hands acredita que esta espécie de libertação sexual é benéfica no sentido de melhorar as suas vidas. Acho que simpatizei com esta ideia.
O cliente de hoje tem 30 anos e tem paralisia cerebral. É uma pessoa muito franca e muito atenciosa relativamente às suas cuidadoras. Saúda-me sempre com um grande sorriso quando chego. Ajuda a criar uma atmosfera amigável. Ele tem um sorriso muito bonito. Também é muito considerado.
Mesmo que eu cometa um erro, ele é sempre paciente. É uma pessoa maravilhosa.
Geralmente, conversamos antes de eu começar a preparar tudo. Encontrar o ponto certo na nossa conversa para seguir para a preparação pode ser um pouco estranho, às vezes. É melhor se a conversa terminar de forma natural, mas isso nem sempre acontece. Tenho que manter a conversa curta, mas, contudo, longa o suficiente para ser amigável. Ainda estou a trabalhar na forma de terminar as nossas conversas de forma suave.
Os meus pais têm quase 70 anos de idade. Por isso, mesmo que seja o que eu faço como cuidadora, preocupa-me a forma como eles reagiriam se descobrissem que a sua filha massaja os genitais de homens como parte do seu trabalho. Eles ficariam, provavelmente, preocupados. Por isso não lhes disse.
Geralmente, vou a casa deles e tomo conta deles durante cerca de 30 minutos. Eu chego, preparo tudo, massajo-os, eles ejaculam e está feito. Adeus!
Parece tudo um pouco vazio. Eu penso que os nosso clientes anseiam por algo que seja mais envolvente emocionalmente.
Às vezes não é só fornecer cuidados. É difícil de explicar. Eu sinto uma espécie de dever."
Na reportagem da Vice, o fundador da White Hands conta ainda como, num evento a que foi, ouviu uma mãe de um filho com Síndroma de Down a dizer que ele era "um anjo sem quaisquer desejos sexuais".
"Mas, na verdade, o filho ficava excitado sempre que uma rapariga de uma banda de sucesso aparecia na televisão. Contudo, esta mãe escolhia ignorar isso, mesmo que estivesse à frente dela. Claramente, o problema é da mãe e não do filho", conta Shingo Sakatsume, salientando que "é a sociedade em geral a projectar as suas próprias convicções relativamente aos deficientes".
"Esta mãe estava cega pelo desejo dela de o filho ser um anjo, em vez de um ser sexual. As pessoas estão a empurrar os seus ideais para os deficientes. Esse é o problema", conclui o fundador da White Hands.
E um dos clientes da organização, Yuji Hosoya, que sofre de paralisia cerebral, refere que "as pessoas sentem-se desconfortáveis com este tipo de assunto" e reforça a ideia de que os deficientes também são seres sexuais.
"Os deficientes também são humanos. Nós também temos necessidades e desejos. Eu tenho desejos particularmente fortes. É natural que eu tenha necessidades sexuais porque sou humano. Muitas pessoas não entendem isso."
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)