21 setembro, 2024 Um país que precisa de justificação
Esta semana e pela segunda vez, ouvi uma psicóloga a explicar na TV porque diz as coisas que diz.
Parece que está tudo louco! Uns nada têm que justificar, enquanto outros têm que justificar tudo! Há certas regras que foram alteradas ao longo dos tempos, e outras que não acompanham os tempos de hoje.
O que foi dito, ou escrito, no século passado, passa para este século. Possivelmente, porque as pessoas que se mantêm nos cargos já vêm do século passado! Sendo assim, não há lugar para a mudança. Que coisa chata!
Esta semana e pela segunda vez, ouvi uma psicóloga que é figura pública a ter de vir explicar à TV o porquê de dizer as coisas que diz! Há uns tempos, outra psicóloga forense teve um processo disciplinar por uma opinião que deu.
A primeira psicóloga que aqui refiro até disse que não queria pertencer à Ordem, porque não poderia seguir as regras, pois não era assim. É uma psicóloga ativa que mantém o contato com os clientes, mesmo quando eles não estão em consulta.
Ela referiu também que 50 minutos é muito pouco para se processar emoções! Eu, sentada no sofá, pensei:
“Hum? Ela não quer pertencer à Ordem para não perder a liberdade de exercer conforme sente que deve? Esta é que eu não sabia!"
Fiquei com "pena" de a ver na TV a explicar-se, mas é verdade, quem sai fora da caixa, ou é considerado louco, ou diferente, e logo é rejeitado.
Mas este mundo não está cheio de loucos e diferentes que fizeram a diferença? Está, não está?
Eu quando exerci em Dallas, também tive esse problema com dois supervisores. Com o meu diretor, era tudo rosas! Mas com estes dois, a coisa complicou-se. Um ficou a falar sozinho porque me levantei e bati com a porta. Ainda há dois anos, estava a mexer nas minhas coisas de lá e era só reports: "Esta conselheira recusa-se a seguir as minhas sugestões." Ah, Ah, Ah, Ah!
Agora, rio-me, mas, na altura, foi complicado! Aliou-se a outra e quando dei por ela era um "gang up on me"! Ah, ah, ah...
O oficial de liberdade condicional ia ter connosco para fazer uma reunião uma vez por mês, para falarmos em que pé estavam os clientes. Patina dali, patina de além, ele perdeu a paciência, virou-se para mim e pediu-me para falar sobre as 50 mulheres que estavam na unidade - sendo 10 do outro e 10 da outra, e mais 10 de outro, cada um tinha 10 no seu "caseload". E eu falei de cada paciente na perfeição e ele sorriu!
O meu diretor, e mentor, tirou-me daquela unidade em tempo recorde e levou-me para a unidade ao lado do escritório dele. Como tal, tive um novo supervisor – mais uma voltinha no carrossel!
Embirrava comigo, PORQUE, quando chegava à unidade, em vez de estar no escritório a olhar para o infinito, eu ia-me sentar no sofá com as pacientes, e ficava ali, até à hora de ter que ir dar grupo ou palestra.
Entrava, parava, aproveitava para exibir as roupas loucas e dentes de ouro e dizia-me: “You are not one of them!"
Eu pensava: "O ignorante chegou. Props!" AH, AH, AH, AH!
Um dia disse-lhe:
- Sabe, quando me sento naquele sofá, fico a saber o que quero e o que não quero. No final, quando saio do sofá, sei tudo o que se está a passar com elas e entre elas.
Vocês, para saberem isso, para saberem o que eu sei, têm que as mandar despir as roupas civis delas, mandá-las vestir de novo a farda laranja da prisão, colocá-las em círculo, viradas para a parede, sem poderem fumar, ou falarem umas com as outras, e colocam um balde no meio do círculo para ver quem quebra primeiro e coloca lá os papelinhos com os segredos do que se anda a passar!
Se vocês fizessem o que eu faço, já não seria necessário tamanha humilhação contra as pacientes, pois saberiam de tudo o que se passa!
Por isso, acredito na técnica desta psicóloga que foi à TV e é comentadora. Ela mantém o contacto com os pacientes, e quando chegam a terapia individual, já é para processar as emoções sobre os acontecimentos que lhe foram dizendo durante a semana, por telefone ou mensagem!
Se um dia esperam que eu seja uma que diga apenas:
- O que pensas sobre isso?
- Como é que isso te faz sentir?
- Como achas que podias mudar isso?
Então, é para esquecer! Não é para mim, e dou como concluído o meu sonho e vou-me dedicar à apanha da amêijoa! Ah, ah, ah, ah...
Talvez, um dia, o mundo venha a entender que há pacientes que tentam fazer dos terapeutas uma extensão do pai ou da mãe. Por isso, não saem de terapia. Não avançam!
Talvez, um dia, os centros de tratamento venham a entender que há pacientes que fazem do centro de tratamento, colegas e conselheiros, uma familia, e que, por isso, estão sempre a voltar. E para poderem voltar, têm de recair... Muitos no caminho morrem.
Ainda bem que há psicólogos que apostam em sair fora da caixa, apesar do que sofrem nas mãos do público nas redes sociais. Mas há uma coisa que ninguém lhes consegue tirar: conseguiram criar uma relação de confiança com o paciente, pois o paciente sente que aquele, ou aquela psicóloga, se importa, que quer ajudar - e que não quer só "navegar na maionese", mas sim dar ajuda imediata para alívio imediato.
Não é isso que as pessoas que procuram psicólogos querem - alívio imediato para a sua dor? É, não é?
Bem, vou comprar uma rede de pesca... Para a amêijoa! Ah, ah, ah, ah...
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