28 setembro, 2020 Uma caminhada desconcertante
Dou-me ao prazer de ficar assim largos períodos de tempo...
Durante uma pandemia temos que ter cuidados redobrados e estarmos bem atentos às informações fornecidas. Contudo, ver a nossa vida reduzida a estarmos encarcerados em casa, 24 sobre 24, é um pouco revoltante. No meu caso, uma mulher solteira com 35 anos e que ainda mora com os pais, esta pandemia não veio ajudar em nada!
Aos poucos ia tendo alguns encontros, mas com esta situação toda fiquei reduzida a brincar com os meus dedos. Uma verdadeira tristeza…
Antes de ficarmos confinados fazia seis meses que não sentia o prazer de sentir um corpo nu, desprotegido, contra o meu. Agora, já vamos com quase nove meses dessa brincadeira de mau gosto.
Durante cinco semanas respeitei as regras: sair de casa apenas para compras essenciais, passando depois o restante dia vendo filmes ou séries, deixando para a noite as videochamadas quentes que recebia dos meus pequenos crushs que não eram mais do que meramente umas relações platónicas, pois no fundo sabíamos que o encontro nunca iria ser transportado da nossa imaginação para a realidade.
Havia noites em que ambos me ligavam ou então noutras vezes em que seria apenas um a ligar-me. A sua ausência não me incomodava, pois pressentia que uma pequena depressão estava para chegar.
Na sexta semana abstraí-me da minha vida social online. “Tenho que me desligar. Preciso de ir ver o mar”, penso.
Após uns dias chuvosos e bastante nublados, o sol finalmente apareceu. Eu não quis perder aquela oportunidade, por isso fiz-me à estrada. Como não podíamos sair do concelho onde habitamos dei-me ao luxo de vaguear pelas estradas remotas, explorando recantos que nunca tinha pensado antes em explorar.
A meio de uma estrada, com alcatrão bastante gasto e esburacado, avisto um caminho de terra batida. Paro um pouco enquanto observo o estado do caminho. “Não me parece muito mau. Mais buracos tinha esta estrada”, penso antes de engatar a primeira mudança e começar a guiar por aquele caminho entre pinheiros tão altos que não lhes conseguia enxergar o cume.
Ao chegar ao fim do caminho vejo que já lá estava um carro porém sem ocupantes. Estaciono a uns quatrocentos metros de distancia daquele veiculo.
Aquele local tem uma vista fantástica sobre o rio Tejo. Estou maravilhada com a paisagem sobre aquele céu tão azulão.
Escolho uma música na minha playlist , encosto-me ao banco um pouco mais inclinado e deixo-me ficar a fitar os ramos do pinheiro que está por cima do carro, enquanto estes baloiçam suavemente devido à leve brisa de vento que se fazia sentir. Dou-me ao prazer de ficar assim largos períodos de tempo até que oiço passos de alguém ou de algo que se encaminhava na minha direcção.
De orelhas bem atentas aos barulhos que me rodeiam, continuo sentada dentro do carro, até que oiço alguém a mexer no carro que está estacionado perto de mim. Do que consigo ver pelo meu campo periférico vejo um homem esbelto com um cabelo castanho avelã, que abre a porta e entra dentro do veiculo mas passado pouco tempo depois sai novamente. Oiço-o fechar a porta e começar a andar em direcção do meu carro. Aproxima-se da minha janela e diz-me de uma forma meio tímida:
- Boa tarde…
- Olá! Boa tarde. – respondo num tom surpreso.
- Costumo vir aqui algumas vezes e é a primeira vez que te vejo por aqui…
- Sim, vim à descoberta. É um sitio mesmo tranquilo.
- Sim, tens toda a razão. Deixa-me oferecer-te isto. – estende na minha direcção um livro e continua dizendo – É uma boa leitura para um sitio destes.
Fico sem palavras. Fico tanto encantada com a sua atitude quanto com o livro que me foi oferecido, até que finalmente consigo proferir algumas palavras:
- Agradeço imenso – digo-lhe enquanto sinto que as minhas bochechas começam a aquecer.
- Bem, deixo-te para apreciares o resto do dia. Até um dia. – afasta-se com um sorriso no rosto.
O homem mistério afasta-se, entra no seu veiculo e mete-se a caminho do seu destino.
Quando o deixo de ver passo os meus dedos pelo titulo para sentir o relevo da grafia, “O caminho para a felicidade”, viro o livro e leio a sua contracapa.
“Um livro até interessante”, penso.
Começo a desfolhar o livro e assim que o faço, logo na primeira página uma pequena mensagem:
“De nada serve sonhar se não caminharmos. Nunca percas a esperança!”
Seguido com uma assinatura: Eduardo Queirós.
O meu coração apertou-se, sinto que ficou mais pequenino. Passo os meus dedos por cima da mensagem para sentir se realmente tinha sido escrito naqueles milésimos de segundo quando entrou no carro.
Não me consegui segurar e começo a devorar o livro. O seu gesto deixou-me com um sorriso tolo na cara, pois não são todos os dias que apanho uma pessoa a ser gentil para comigo.
Regresso a casa, com apenas quarenta e cinco folhas para ler do seu pequeno livro. Tem uma leitura bastante acessível e a mensagem é bastante fácil de interiorizar.
Com a leitura terminada no mesmo dia em que a comecei, dei por mim a ter uma pensamento mais optimista nos dias que se seguiram, andando pelas ruas com um sorriso bastante rasgado mas com a devida cautela não esquecendo da situação que se encontra o nosso país. O seu nome soava na minha mente e a sua imagem atormentava-me durante a noite. Tinha que o procurar. Tinha que o encontrar.
Após duas semanas sem qualquer contacto com o mundo digital, dei por mim a vaguear pela rede social Facebook, numa tentativa furada de o encontrar.
Só o queria poder ver mais uma vez...
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...