PUB

03 agosto, 2020 Rapaz da Cabo - Parte 1

Ele olha-me com aqueles olhos de fome, de quem tem muita vontade de fazer algo que nunca lhe terá sido permitido e eu consinto...

Fazia imenso tempo que ele não me dizia nada. Já tinha tentado chegar a mim de todas as formas e feitios, mas nada. Sempre coloquei entre nós uma barreira que não lhe permitisse chegar perto. Não que ele não seja giro, é. É um tipo engraçado, bem disposto, bonito. Tem aquele ar de menino mau que toda a mulher gosta, inclusive, mas era eu quem não se sentia preparada para isso, fosse “isso” o que quer que fosse. E assim ele “desapareceu” do mapa.

Rapaz da Cabo - Parte 1

Um dia, estava eu a desempenhar as minhas funções no meu trabalho, muito concentrada no que estava a fazer e eis que ouço “Boa noite”. Aquela voz era-me familiar. Viro-me e vejo que é ele. Pensei “olha quem é ele”!

- Então Marco. Tudo bem?

- Estou bem sim e a menina como está?

- Não se nota? Estou bem também. Então diz lá o que vai ser.

- Podes dar-me uma imperial, se faz favor.

Rimo-nos ali pelo meio daquela pequena conversa, mas ficamos por ali mesmo. Notava que me olhava bastante. Sentia que tentava fazer conversa, mas não sabia como.

Deixei que as coisas ficassem assim mesmo sem lhe dar muita margem para conversa fiada, mas fui ou tentei ser atenciosa e retribuir-lhe os sorrisos que me mandava com sorrisos também.

- Então e estás bem? – perguntou-me.

Ele tentava dizer qualquer coisa e aquele acto desesperado de dizer qualquer coisa que já tinha dito, mas de quem quer falar porque sim fez-me rir, então respondi-lhe meio que com o riso a sair-me ao mesmo tempo que falo.

- Epá sim, estou bem! É trabalho como vês, não há muito para não estar bem, mas podia estar melhor!

- Estás a rir-te porquê?- pergunta-me.

E aí sim, começo a rir-me que nem uma perdida e por consequência ele também. Aquela coisa do riso gera mais riso.

Não lhe podia dizer que me estava a rir por causa da sua pergunta tola e repetida.

- Estou-me a rir de ti, porque te estas a rir, olha lá para ti!- e rio-me cada vez mais.

- Eu? Só me comecei a rir porque tu te começaste a rir.

- Não! Isso é mentira, mas vá! Deixa lá isso.

- Oh! Diz lá..

- Pronto está bem! Eu ri-me porque olhei para ti e essa cara fez-me rir. – e começo a gargalhar à vontade porque sabia o que ele iria entender.

- Então, mas estás a dizer que tenho cara de palhaço ?

- Eu já sabia que ias dizer isso e volto a dizer agora, foste tu que disseste, não fui eu.

Ele fica a mirar-me assim com meio sorriso e olhar serrado.

- Estou a ver que continuas a mau feitio de sempre.

- Hmmm e tão bom que é, não é? - rio-me.

Sorri-me e dá um trago na bebida enquanto me olha. Não responde. Aquela terá sido a sua resposta. Entendemos os dois.

- Então, mas conta-me coisas, como estão a correr as coisas para ti sem ser só o trabalho?

Eu sabia o que ele queria saber. Em tempos ele viu-me com outra pessoa. Não foi propositado, mas aconteceu. Naquele momento decidi dissuadi-lo de pensar que ainda estaria com alguém.

Respondi-lhe.

- Nada mais a acrescentar acredita. A minha vida é só casa trabalho, trabalho casa e o meu cão. Saio pouco, também não tenho assim muito tempo para grandes coisas. Uma folga apenas e quando eu acho que até poderá dar ou o trabalho me tira a vontade ou me tira o tempo.

- Hmm, estou a ver!

Eu sabia o que é eu ele estava a ver. Acabava de perceber que não existia outra pessoa.

- Então, quando é que abrimos aquela garrafa de vinho? – pergunta-me.

Eu sabia que ele estava à espera de uma porta entreaberta para bater e tentar entrar.

- Hmmm, não sei, temos que ver isso.

- Já percebi.

- Já percebeste o quê? – sorri-lhe – mas uma só não chega que assim não bebes. Uma é pouco.

Arregala os olhos.

- Sério? Por mim as que quiseres. Aliás, até podíamos jantar e beber uma garrafa antes do jantar, outra durante e outra depois.

- Isso já é muito tempo comigo. Não mereces isso tudo. – começo a rir.

- Não sejas assim Sofia, que coisa!

- Pronto, ok!

Ele olha-me com aqueles olhos de fome, de quem tem muita vontade de fazer algo que nunca lhe terá sido permitido e eu consinto. Olho de igual forma para ele, permito-lhe que me olhe, “desfilo” à sua frente enquanto trabalho e sei que me segue com o olhar e ainda lhe sorrio sem dizer nada.

Foi a forma que arranjei de lhe mostrar reciprocidade sem dizer “ok, bora”!

- Bem, já se faz tarde e vocês já estão a fechar. Está na hora de ir. Pensa no assunto do jantar e diz-me qualquer coisa.

- Sim eu vou pensar e digo-te.

- Vou ficar à espera.

E assim lá foi ele … e eu nunca lhe cheguei a dizer nada.

RapazDaCabo 2

Passaram-se 3 dias e o Marco retorna ao um local de trabalho.

- Então, mau feitio!

Quando o vejo e oiço a dizer aquilo começo-me a rir. Sei que tinha ficado de lhe dizer algo, mas como sempre faço, não disse nada. A minha dificuldade de andar atrás dos outros. Por mais que saiba que era algo combinado custa-me sempre muito a dar o primeiro passo de ir atrás. Penso sempre que não quero fazer esse papel.

- Então querido, como está?

- Eu estou bem e a querida?

- A querida está bem também. Posso servir-lhe algo?

Ele ri-se.

- Então não podes! Deves!

Rimo-nos.

- Então, diga lá o que quer.

- Não posso dizer, mas para já pode ser uma imperial.

Ri-me para a mangueira da imperial enquanto a tirava e respondi um mero “ai ai”.

Rimos os dois.

- Então e a operadora lá de casa. Tudo ok? Continuas a receber aquele valor inferior para pagar?

Fiz aquele olhar de quem interroga sem dizer nada.

- Sim ou não?

- Sim, mas porquê? Como sabes?

- Então. Agora sou eu que fiquei a cuidar da tua conta. Qualquer coisa sou eu que resolvo. Não estás com aquele problema de sinal na TV da cozinha? Já te disse, eu monto-te na cozinha, sem problemas.

O rapaz tinha a mania dos trocadilhos, está visto.

Começámos a rir.

- Sim eu lembro-me e agora que falas por acaso já me fez falta ter TV na cozinha.

- Então, é simples. Resolvo-te a questão da cozinha, ponho-te Netflix sem pagares nada e ainda te dou vídeo clube. Só tens que me convidar para jantar e abrir umas garrafas de vinho comigo, numa boa. Só ficas a ganhar.

Desta vez sou eu quem serra o olhar e lhe sorri.

- Realmente, não é mau pensado, não.

- Aliás, até podíamos fazer um serão após o jantar com Netflix e pipocas. Tens que ser tu a fazer já que dizes que sabes. Aproveitas para me ensinar porque a ultima vez que tentei correu mal. Queimei-as todas.

Ri-me muito.

- Como assim queimaste as pipocas? És mesmo um zero à esquerda na cozinha!

- Tens que me ensinar, confesso!

- Ok, Marco. Comida, bebida, filme e lição de cozinha. Parece-me bem.

- Então, para quando combinamos?

- Pode ser. Quarta para jantar, porque Quinta estou de folga. Para ti dá?

- Para mim, quando quiseres!

Passados uns dias…

“Hoje é quarta-feira”, penso. É hoje que ele vai lá a casa. Estou a trabalhar e penso nas voltas que tenho que dar para organizar tudo.

O telefone toca. É uma mensagem dele.

“Sei onde moras.

Espera-me à tua porta

pelas 19H30m. Beijo”

Pois claro que sabe, sabe da minha informação pessoal toda. Tem a minha ficha técnica de cliente. O que vale é que não acho que seja um psycho qualquer.

A campainha toca. Estou mega nervosa. Até parece que nunca fiz isto na minha vida. A questão é que o rejeitava e desta vez estava a recebê-lo em minha casa.      

Whatever. Abre a porta e vai”, penso para mim!

Abri. Do outro lado estava um mega sorriso à minha espera e cheiroso como tudo.

Os nossos olhares cruzaram-se e ambos parecíamos tímidos. Fiquei mais descansada por não ser a única a sentir-me assim!

- Entra! – disse-lhe.

- Com licença!

- Ai tão educados que estamos!

Claro que tinha que rapidamente quebrar aquele gelo e gozar com ele foi a melhor forma de o fazer.

Ele olha para mim.

- A sério que já vais começar assim comigo? – ri-se.

- Desculpa, mas é mais forte que eu. Eu vou tentar controlar-me!

- Mas eu não. – responde-me.

- Hãn? – exclamo.

De repente o rapaz tímido que parecia ser, estava à minha frente e realmente não se controla. Pousa tudo o que tem nas mãos e vem decidido até mim, sempre sem tirar os seus olhos dos meus.

- Desculpa Sofia, mas eu não aguento mais!

Alexa

Alexa

Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...

PUB
blog comments powered by Disqus

Inserir Anúncio Grátis