17 Febrero, 2025 SAAP combate consumo abusivo de álcool e ajuda quem quer livrar-se da dependência
Conhece mais uma associação que tem parceria com o Plano AproXima.
A SAAP – Sociedade Anti-Alcoólica Portuguesa atua no tratamento de pessoas com dependência do álcool, e na prevenção desta adição. A parceria com o Plano AproXima é uma forma de "chegar a mais pessoas” e de “ajudar mais".
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Esta associação apresenta-se como uma alternativa aos serviços públicos que existem na área do apoio a pessoas com dependência de álcool, e onde há, habitualmente, grandes listas de espera.
A "resposta é mais demorada nos serviços públicos", o que leva as pessoas até à SAAP, nota a diretora técnica desta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), Elsa Ribeiro, em entrevista ao Classificados X
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Localizada em Lisboa, a IPSS presta tratamento em ambulatório, ou seja, sem que xs pacientes precisem de ser internadxs, o que lhes permite continuarem com as suas atividades diárias e familiares.
A equipa da SAAP é constituída por um psicólogo e por um médico psiquiátrica que dão consultas, mas que também podem prescrever medicamentos para "inibição do desejo de consumir álcool", como nota Elsa Ribeiro.
A diretora técnica também integra a equipa da SAAP como assistente social, fazendo o acompanhamento social de casos, com "encaminhamentos" para outras instituições de apoio, "aconselhamento" e "informações" para que as pessoas consigam fazer valer os seus direitos, e requerer prestações sociais, por exemplo.
Além disso, a SAAP ainda organiza "ações de sensibilização em escolas, em empresas", e onde quer que manifestem interesse na temática da prevenção do consumo de álcool.
Em colaboração com a Junta de Freguesia de Arroios, em Lisboa, realiza também trabalho comunitário em várias áreas, por exemplo, no âmbito de grupos vulneráveis, como pessoas em situação de sem-abrigo e trabalhadorxs do sexo.
A parceria com o Plano AproXima surge como uma forma de "chegar a mais pessoas e ajudar mais pessoas", aumentando a “visibilidade” da SAAP que nem sempre é reconhecida como merece.
SAAP tem mais utentes homens
A maioria das pessoas que a SAAP ajuda são da zona da Grande Lisboa, mas a instituição tem abrangência nacional.
"Já cheguei a ter contactos da Ilha da Madeira, do Porto, do Algarve, pessoas que me pedem informação", revela Elsa Ribeiro. Nestes casos, a SAAP encaminha para instituições das respetivas áreas de residência.
A maioria dos utentes que a SAAP acompanha são homens - cerca de 75% do total -, e têm uma média de idades de 58 anos. É esta, no fundo, a altura em que começam a surgir os primeiros problemas de saúde ligados ao consumo abusivo de álcool prolongado.
Os efeitos "começam a aparecer em média em 15 ou 20 anos" de dependência, analisa Elsa Ribeiro. São pessoas que, habitualmente, começaram a beber em excesso com "16, 17, 18 anos" numa geração onde era “banal" consumir álcool, refere a assistente social.
A diretora técnica da SAAP recorda, por exemplo, as "sopas de cavalo cansado" [uma mistura de pão, vinho tinto e açúcar] que se davam aos miúdos em algumas aldeias do interior do país, para "terem força para ir para a escola", ou para enfrentarem o frio.
"Muitas destas pessoas também tiveram de ir trabalhar cedo", e tiveram que enveredar por profissões "mais manuais", onde mais "facilmente bebem álcool", analisa ainda.
Abuso de álcool atinge "todos os estratos sociais"
A SAAP não tem respostas específicas para a comunidade de profissionais do sexo - até porque as pessoas não precisam de identificar o trabalho que fazem nos atendimentos junto desta entidade que abre portas a todxs os que precisem, desde "pessoas em situação de sem abrigo" até "pessoas de classe social mais elevada".
"Todos os estratos sociais" estão representados entre os utentes da SAAP, uma vez que o álcool é "um problema transversal" a toda a sociedade, lembra ainda Elsa Ribeiro.
A IPSS também trabalha "em rede" com outras entidades, nomeadamente com as Irmãs Oblatas, outra associação parceira do Plano AproXima, onde algumas das mulheres acompanhadas têm problemas ligados ao álcool, seja porque consomem "para conseguirem trabalhar, ou como refúgio" devido à atividade.
Em instituições como as Irmãs Oblatas, "elas sentem -se acompanhadas e apoiadas", mas já lhes é "mais difícil" chegarem à SAAP, nota a diretora técnica.
"Período de negação pode ser muito longo"
Quando a SAAP foi fundada em 1967, por um grupo de voluntários, havia muitas pessoas alcoolizadas nas ruas de Lisboa. "Eram considerados os típicos alcoólicos", revela Elsa Ribeiro ao Classificados X
, sublinhando que, nos últimos anos, a realidade do consumo abusivo de álcool em Portugal, mudou bastante.
Atualmente, muitas pessoas que vivem com a dependência do álcool são "alcoólicos funcionais", ou seja, estão integradas nos seus empregos e nas suas famílias. Apesar disso, bebem exageradamente, ou com muita frequência.
A adição pode ser algo visível para quem conhece bem a pessoa, mas também pode ser detetada com um teste realizado por um médico psiquiatra, ou mesmo pelo médico de família.
Algumas pessoas com problemas de álcool passam por um "período de negação" que pode ser "muito longo", nota ainda Elsa Ribeiro. "Eu bebo um pouco demais, mas não sou como aqueles que andam ali na rua a cair, a tropeçar", consideram, recusando admitir a adição também devido ao "estigma".
"É mais perigoso porque são pessoas que acham que se controlam", e vão continuando a abusar do álcool, e a agravar os problemas de saúde, salienta ainda a assistente social.
Por vezes, só quando acontece "alguma coisa" nas suas vidas, ou quando enfrentam algum "problema de saúde", é que "se faz o clique", analisa também Elsa Ribeiro.
O consumo "binge" (ou "binge drinking")
Atualmente, há ainda uma tendência nova preocupante que é o chamado consumo "binge" (ou "binge drinking"). Trata-se de consumir várias bebidas alcoólicas, ou uma grande quantidade de álcool, num curto período de tempo, geralmente com o objetivo de conseguir uma "bebedeira" rápida.
Há alguns anos, havia mais "consumos regulares", enquanto, agora, se verificam também estes "episódios de consumo exagerado", destaca Elsa Ribeiro.
O "binge driking" é frequente entre xs mais jovens, mas há uma "desvalorização" perigosa dos riscos que lhe estão associados porque é algo que só acontece em festas, ou de vez em quando, para diversão.
Mas é precisamente por isso que é um tipo de consumo ainda mais "preocupante". Além dos problemas de saúde associados, ainda pode despoletar comportamentos de risco, nomeadamente no âmbito sexual.
Por outro lado, em algum momento difícil da vida da pessoa, pode surgir "algum gatilho" que pode fazer explodir o consumo mais frequente de álcool, como "uma situação de desemprego", ou "uma rutura amorosa", exemplifica Elsa Ribeiro. E aí, o consumo abusivo "pode ser pior", alerta.
"Falta de consistência" leva a insucesso no tratamento
No dia a dia de trabalho com as pessoas que ajuda, a SAAP enfrenta vários desafios, mas um dos principais prende-se com "a consistência e a assiduidade" nos tratamentos, como nota Elsa Ribeiro.
"É muito frequente pessoas com problemas ligados ao álcool iniciarem o tratamento, e até serem assíduas durante um período, mas depois há ali uma quebra, pode ser de meses, de semanas ou até de anos", realça a assistente social.
"Essa falta de consistência e de assiduidade faz com que, obviamente, o tratamento não resulte", repara, sublinhando que ninguém é obrigado a tratar-se, e que é "a pessoa que tem de estar consciente de que tem o problema, e que tem de querer fazer esse tratamento".
"Jovens acham que o álcool é desinibidor"
Outro grande desafio que é difícil de superar prende-se com "os mitos associados ao consumo de álcool". No nosso país, "é algo muito aceite, faz parte da nossa cultura, está presente em qualquer momento da nossa vida, desde o aniversário a um casamento, até ao final do dia para relaxar", salienta Elsa Ribeiro.
O que é considerado "anormal" é alguém que não consome álcool, acrescenta, sublinhando que "as pessoas não veem a problemática do alcoolismo como uma doença".
Não espanta, assim, que Portugal seja um dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior consumo de álcool.
E estudos recentes indicam que há um crescente aumento no consumo entre xs mais jovens, o que pode acontecer, em parte, por "pressão dos pares", como vinca Elsa Ribeiro.
"Se a pessoa não beber, é uma seca, não tem piada. E quanto mais se bebe, mais engraçado se é, e mais fixe", salienta a assistente social, referindo-se à perceção social que muitas pessoas têm do álcool.
"Os jovens acham que o álcool é desinibidor", nomeadamente até a nível sexual, e consideram isso interessante para quando saem à noite, "para poder socializar e conhecer outras pessoas", nota, realçando que é essa a experiência que tem nas escolas, no contacto com os jovens estudantes em ações de sensibilização da SAAP.
Consumo abusivo de álcool afeta saúde física e mental
Mas, apesar da desvalorização do consumo excessivo, a dependência de álcool pode causar vários efeitos negativos na saúde física, mental e social de uma pessoa. Alguns dos mais relevantes são os seguintes:
- Danos ao fígado, incluindo doenças como hepatite alcoólica e cirrose;
- Aumento do risco de hipertensão, insuficiência cardíaca e acidentes vasculares cerebrais;
- Problemas de coordenação, memória e cognição;
- Gastrite, úlceras estomacais e pancreatite;
- Depressão e ansiedade;
- Mudanças de humor extremas e comportamento impulsivo;
- Afeta a capacidade de pensar com clareza e de tomar decisões racionais;
- Conflitos familiares, divórcios e problemas com amigos e colegas de trabalho.
- Afeta o trabalho com a diminuição da produtividade e aumenta o risco de perder o emprego;
- Contribui para o isolamento social.
Se precisares de mais informações, ou de ajuda, não hesites em procurar a SAAP.
Contactos da SAAP
SAAP - Sociedade Anti-Alcoólica Portuguesa
Morada: Rua Febo Moniz, n.º 13, 1º Lisboa (Junto ao metro dos Anjos)
Horário de funcionamento: 9h30 às 12h00 e das 14h00 às 18h00
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+ Telefone: 213571483 / 929193507
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
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