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09 junho, 2017 "Quando contratei um trabalhador sexual pela primeira vez..."

Relato emocional de Andrew Gurza que sofre de paralisia cerebral.

Andrew Gurza apresenta-se como um "queer aleijado" e é um activista na luta pela normalização da sexualidade dos deficientes. Neste relato emocional, o homem que sofre de paralisia cerebral fala da primeira vez que recorreu a um acompanhante masculino.

Andrew Gurza vive agarrado a uma cadeira de rodas, fruto da paralisia cerebral, mas não é isso que o define como pessoa. Ele é um activista pelos direitos dos deficientes e pretende mostrar ao mundo que as pessoas incapacitadas merecem também ter um lugar entre a comunidade LGBT.

A sua intervenção vem ao encontro dos mesmos objectivos do movimento português Sim, nós (os deficientes) fodemos!.

Gurza é, assim, uma voz activa e reconhecida do universo queer e colabora com várias publicações, com artigos de opinião muito elogiados, como é o caso do que vamos transcrever de seguida e que foi publicado na Revista Out. Trata-se do relato de como viveu a experiência de contratar os serviços de um acompanhante masculino pela primeira vez.

Nunca tinha considerado o preço da intimidade até contratar um trabalhador sexual. Apesar de estar a aprender a abraçar a minha vida numa cadeira de rodas, como resultado da paralisia cerebral, viver sem o toque ou sem sequer ter acesso ao meu próprio corpo, estava a ser um fardo.

Mesmo assim, não tomei a minha decisão de ânimo leve. Estava preocupado com a vergonha, o estigma e o medo, e preocupado de vir a pagar por tempo e, ainda assim, não conseguir o que queria.

Passei semanas a sossegar as vozes na minha cabeça a dizerem-me que usar os serviços de um trabalhador do sexo não era uma boa ideia. Seria esta a única forma de eu conseguir intimidade? Quereria alguém sequer fazer isto comigo ou veriam-no apenas, como uma oportunidade caridosa de ajudar um aleijado?

Apesar de todas estas perguntas, sentei-me no meu apartamento a reflectir no meu longo e quase um ano de celibato. Era tempo de tomar conta de mim.

Depois de passar por site atrás de site, com listas e listas de homens excitados a segurarem as suas erecções, encontrei o David. O seu sorriso era quente, convidativo e, ao mesmo tempo, intrigantemente desviante.

Era mais velho do que eu, em meados dos 40 anos, e as suas fotos mostravam um corpo poderoso, um carisma forte e um charme inegável. David possuía tudo o que desejava.

Enviei a David um email a dizer-lhe que estava interessado em usar os seus serviços, mas que nunca tinha feito isto antes e que estava nervoso. Também lhe expliquei, o melhor que pude, que vivia com uma incapacidade e que usava uma cadeira de rodas. Ele respondeu horas depois, a dizer-me que tinha experiência a trabalhar com clientes com incapacidades. "Se estiver inseguro de algo, pergunto", disse-me.

Na véspera do nosso encontro, telefonou e perguntou-me algo muito simples, mas que nunca me tinham perguntado antes: "O que é que queres?"

Timidamente e nervosamente, sublinhei os meus gostos e o que não gosto, bem como as minhas capacidades. Queria beijar. Ansiava por contacto corporal. Precisava de ajuda para me despir e me colocar na cama.

Finalmente, um homem sexy estava na minha casa. Conversamos um pouco à espera que alguém atacasse. Ele foi até ao meu quarto e perguntou-me pelo aparelho que usava para ir para a cama. Disse-lhe que teria que levantar-me as pernas enquanto eu me segurava a dois anéis de ginástica presos a um elevador hidráulico no meu tecto.

Então, ele montou a minha cadeira, baixou-se e beijou-me. Enquanto o alcançava e apalpava - com os meus membros a tremer, a não querer perder um centímetro -, ele travou-me. Olhou-me nos olhos, para lá da rejeição e da dor causada por outros amantes, e falou com uma firmeza honesta. "Está tudo bem."

O David bebeu para dentro a minha deficiência e eu atrevi-me a não o parar. Ele levantou-me da cadeira e segurou-me nos braços. Agarrou-me, embalou-me e beijou-me. Enrolei-me nele para que ele pudesse sentir as cicatrizes, as curvas, as hastes e contraturas que formam a minha incapacidade.

Senti-me sexy. Tirou-me a camisola e, juntos, revelamos a minha pele. Enquanto ele descia pelo meu corpo e me tirava as calças e sapatos, preocupei-me com o que ele faria quando visse a minha bolsa das pernas e os meus dedos, que se curvam uns nos outros. Mas o David tornou este acto de cuidado excitante e real para mim.

Quando estava, finalmente, nu na cama, com ele, - com o meu corpo em espasmos - comecei a ficar mais tenso, à medida que chegava ao clímax. Num momento penetrante de libertação, senti as minhas duas identidades colidirem: queer e aleijado juntaram-se num surgir de puro e descomplicado prazer.

O resplendor estava a pôr-se com o David deitado ao meu lado. Ele agarrou-me com força e beijou-me a testa. Disse-me que eu era bonito e, enquanto olhava para os seus braços enrolados à volta das minhas pernas espigadas, senti que era real.

Passados alguns momentos, ele colocou-me na cadeira, plantando um último beijo suave nos meus lábios antes de terminar a nossa sessão e de dizer adeus.

Sentado e sozinho, a minha adrenalina ficou diluída por uma felicidade relaxante. Não podia sentir vergonha desta experiência porque tinha marcado uma passagem maior do que uma troca carnal fugaz. Foi o princípio da minha própria afirmação física.

Eu não me contentaria com uma existência sem afecto e tinha que lutar por honrar o que queria como um homem "sentado", mas sexualmente vivo. Finalmente, tinha tido alguém a ver-me e, independentemente do custo, tinha-me, finalmente, mostrado a outra pessoa."

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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