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20 abril, 2024 Vida é eterna aprendizagem: Uma mensagem de alguém

Salvar ou tentar salvar a vida de alguém que está a usar drogas é violentíssimo e drenante.

É humano querer ajudar as pessoas e, por vezes, fazemos tudo o que podemos. Por vezes, até vamos mais além do que devíamos! Quebramos barreiras, lutamos, fazemos tudo ao nosso alcance para ajudar alguém de quem gostamos. Sabemos o que é o melhor para essa pessoa e não descansamos enquanto não a pomos no caminho certo.

Vida é eterna aprendizagem: Uma mensagem de alguém

O objetivo torna-se claro: salvar a vida dessa pessoa e fazer tudo o que se pode para não a deixar morrer.

Quando o motivo da doença da pessoa é físico, por mais doloroso que seja, acaba por se tornar fácil gerir, mas quando o motivo da doença é relacionado com a saúde mental ou com uma adição, torna-se um autêntico pesadelo sem fim à vista!

Eu sou aquela que consegue afirmar que tem um ódio profundo às drogas por toda a destruição que causam à sua volta. Poucos adictos em recuperação têm a noção deste poder destrutivo, pois normalmente só conhecem um lado – o deles!

Só conhecem o lado em que foram eles os adictos e os danos que causaram a eles mesmos. Só 0,5% deles é que conhece o outro lado – o lado em que eles próprios passam a ser a família de alguém que está a usar drogas.

Quando um adicto em recuperação passa a ter um familiar a usar drogas, aí verifica, de forma clara, o quanto é violento emocionalmente estar do lado oposto. Durante anos, ouvi adictos em recuperação a dizer "adoro drogas"! E eu pensava: "deves é ser doido".

Continuo a pensar assim, pois não me cabe na cabeça alguém que chega à recuperação, com a vida destruída, a saúde destruída, ainda a conseguir gostar de algo tão destruidor!

Salvar ou tentar salvar a vida de alguém que está a usar drogas é violentíssimo e drenante. É um facto que a pessoa que está a tentar ajudar acaba por ficar tão doente como a que está a usar drogas e pode até desgovernar a sua vida por querer tanto ajudar, pois um adito que está a usar drogas, torna-se um vampiro de almas que suga o outro sem limites, sem barreiras, ou até sem sentimentos de culpa.

A verdade é que, como está a usar drogas, está também anestesiado, pois pouco ou nada sente. Não sente culpa, quando o objetivo é usar e encontrar maneiras para usar mais!

Um novo modo de vida

E eis que chega o dia em que até se consegue ajudar essa pessoa. A pessoa entra em recuperação, ficamos contentes, mas à medida que o tempo passa, começamos a ver que essa pessoa não abdicou dos seus comportamentos e atitudes! Não abdicou da mentira, manipulação, tentativa de controlar os outros, arrogância, raiva, culpar os outros, recusa-se a fazer um inventário pessoal, ou seja:

  1. Este evento aconteceu
  2. O que me fizeram?
  3. Como reagi?
  4. Qual foi a minha participação neste evento?
  5. Que eventos aconteceram semelhantes no meu passado e com quem foi?
  6. Como poderia ter reagido de outra forma?
  7. O que posso mudar então e o que aprendi com isto?

Em vez disso, verifica-se que temos alguém em recuperação que continua zangado e a usar os outros para benefício próprio.

Em voz baixa, até nos sai pela boca, quando estamos com os nossos amigos, "adivinho que vem aí chuva, pois ninguém consegue estar em recuperação sendo tão infeliz e estando sempre com raiva".

E eis que acontece – a pessoa volta a usar drogas!

O desgosto para as famílias é enorme, pois tudo o que se investiu foi por água abaixo! Um estado de impotência e raiva apodera-se do corpo e da alma.

A família torna-se novamente disfuncional. O corpo reage sozinho – as lágrimas caem sem autorização. Os olhos estão constantemente cheios de água com lágrimas a correr e eu nem sabia que isto poderia acontecer. Penso que será o corpo a libertar o stress para não colapsar, com um ataque cardíaco, ou ataque de pânico.

Começa-se a ficar atento ao telefone à espera de que algum hospital, ou polícia, ligue a dizer que o familiar morreu de overdose. Mas o que acontece no telemóvel são mensagens de texto infinitas dos adictos que escrevem mensagens infinitas quando estão com a "moca", a culpar tudo e todos e a pedir dinheiro, comida, atenção e empatia, sem nunca questionarem o quanto destruíram emocionalmente e o desgosto que causaram.

Conflito interior que gera a disfuncionalidade emocional

A família vê-se agora em conflito emocional. Por um lado, quer sobreviver a isto, por outro sente culpa e pena daquela pessoa.

Durante a manhã, juram que não vão ajudar mais, mas depois, à tarde, até lhe compram comida. Sentem-se fracos por ceder, sentem-se culpados se não cedem, e quando dão por ela, já estão num estado disfuncional cheios de raiva – isto é o que acontece à família!

Despertar espiritual

Fazer o que se partilha – colocar em ação os conselhos que se dá a nós mesmos.

  1. O evento que aconteceu foi que um familiar meu que tanto ajudei - e consegui que entrasse em recuperação -, resolveu, passados quatro anos, recair.
  2. O que me fez foi que me enganou mais uma vez, pois nunca quis mudar.
  3. Reagi com raiva – uma raiva que considero vinda de mim e que se torna fulminante. Torno-me um monstro!
  4. A minha participação nesse evento foi que, durante estes quatro anos, tudo fiz para que a pessoa se integrasse bem na sociedade; arranjei-lhe emprego, levei-a às reuniões, fazia-lhe as vontades para que fosse feliz e tivesse uma recuperação serena, sem grandes lutas.
  5. O único evento semelhante que tenho é o da minha mãe, onde nada a fazia feliz por mais que eu tentasse - e eu tentei tanto!!!!
  6. Como poderia ter reagido de forma diferente, era basicamente admitir a minha impotência e dar a liberdade de escolha. Se a pessoa em causa quer usar drogas após ter sido ajudada, então que use, pois foi a escolha dela e não a minha. Se quer ser miserável, é um direito que lhe assiste.
  7. O que aprendi foi que o ser humano tem o direito de fazer o que quer e eu só tenho de me retirar, sem ter a arrogância de que irei conseguir, novamente, ajudar quem não quer ser ajudado. O continuar a querer ajudar só me vai levar à frustração e à raiva, e deixo de ser funcional na minha vida, ao ponto de me esquecer de tratar de mim. Não posso mais continuar a salvar a mãe que não salvei e a fazer transferências de sentimentos!

Done!

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