13 agosto, 2020 Amigo não empata amigo
Mal diz uma palavra, mas ri-se de tudo e com vontade.
Gosto de passar tempo na casa dos amigos, e o meu casal favorito é o Carlos e a Isaura. O Carlos adora-me, a Isaura detesta-me, e ambas as coisas me divertem. O Carlos é aquele tipo pachola para quem está sempre tudo bem. Mal diz uma palavra, mas ri-se de tudo e com vontade. A Isaura não pára calada, odeia tudo o que se mexe e nunca sorri.
Os dois, verdade seja dita, dão-se às mil maravilhas. A calma dele enerva-a sobremaneira, assim como imagino que a hiperactividade dela o canse. Mas nunca os ouvimos protestar um contra o outro, como se essa dinâmica, que à primeira vista pareceria uma boa razão para os afastar, redundasse de facto no laço que realmente os une.
É preciso também dizer que Isaura não é apenas um poço de defeitos, tendo também as suas virtudes: cozinha como uma chef e à noite abre as pernas com gosto, e isso é tudo o que o Carlos precisa para ser feliz. Como ele próprio diz:
– Lá isso ela nunca se esconde...
Por espantoso que pareça, tudo neles é funcional, pelo que não há como criticar.
Já eu, quando decido impôr-lhes a minha presença, sou um elemento dissonante no meio deles, o elefante trombudo da loja de porcelanas, um corpo estranho que volta e meia se manifesta para acrescentar desequilíbrios à forma natural das coisas.
Comigo o Carlos transforma-se, abre o peito, celebra a vida... E Isaura odeia-me por isso, por me atrever a levar alegria para um ambiente onde a sua secura é o elemento predominante. Isaura não nasceu para “alegrias”. Considera-me, não sem alguma justiça, a pior influência que o marido podia ter.
Quarta-feira eu não tinha planos para jantar e apresentei-me sem aviso à porta deles. Como sempre, o Carlos recebeu-me de braços abertos.
– Epá, chegaste mesmo a horas!
Cheirava a um dos inacreditáveis guisados da Isaura.
– Cheira a coisas boas – disse-lhe, invadindo o seu território com total despudor.
Estavam abertas as hostilidades. Ela acusou logo o toque e atirou-me um olhar de desdém que me fez sentir um fantasma sem lençol, completamente exposto à capacidade que ela tinha, e nunca deixava de me espantar, de me odiar tão profundamente. Caguei logo para ela, a minha diversão era precisamente essa: irritá-la o mais possível, até a conversa subir de tom e acabarmos os dois a gritar sentenças escabrosas. O Carlos ria-se. Passámos a noite a derrubar uma garrafeira parca mas eclética de brandys velhos que ele dizia sempre estar reservada para um “dia especial”.
– Foda-se, então quer dizer que não consideras especial que eu cá venha?! Se calhar tenho que começar a aparecer menos vezes... – ameacei, fingindo uma indignação tão grande que ele quase me pediu desculpa ao abrir a primeira garrafa. Isto enquanto Isaura me fusilava com os olhos como seu fosse uma poia que é preciso pisar. Ainda não eram onze e meia e já estávamos os dois com os copos.
Como de costume quando eu e o Carlos nos encontrávamos, Isaura tinha que o meter na cama. Era aí que eu me refastelava no sofá, coçava languidamente os tomates e anunciava o facto consumado:
– Fico por aqui hoje. Não me apetece conduzir agora para a casa.
Ela espumava, mas sabia que não conseguiria fazer nada para me demover e acabava por render-se, ainda que de forma tudo menos amigável. Em todas as vezes que lá fiquei nunca lhe pedi permissão. E ela nunca a ofereceu. De manhã, também como de costume, fui acordado abruptamente, desta vez com o aspirador num escarcéu que parecia um avião a passar por um tunel. Isaura era uma verdadeira maestra na arte de me irritar logo de manhã, e sabia que eu estava de ressaca. Abri um olho e vi-a curvada, a empurrar o tubo contra tudo o que pudesse produzir um ruído suficientemente embirrante, numa pose completamente profissional, como se eu não estivesse ali de cuecas exibindo uma bastante evidente tesão do mijo, ou a minha existência fosse tão desprezível como o pó que gravitava nos jactos de luz que entravam pelas persianas.
– Bom dia para ti também, puta do caralho. – disse-lhe, com voz de bagaço
– Bom dia, porco.
Era o nome carinhoso que me dedicava quando o Carlos não estava presente.
– Já passa das nove – diz-me, como se falasse para um amontoado de lixo que lhe interessava varrer dali para fora. – Não trabalhas? A tua única ocupação é forçares-te na casa dos outros para lhes chagares a cabeça?
Respondi-lhe à letra:
– O Carlos sabe que te passeias à frente do melhor amigo com a pintelheira toda à mostra?
Isaura vestia uns calções amarelos duma espécie de seda fajuta, meio esfarelada, que se lhe enterravam um bocadinho no cu mas de resto lhe ficavam largos, e pelas mangas, na zona do rabo e das virilhas, saiam-lhe tufos de pintelhos pretos. Por muito megera que fosse, aquela era uma visão a que ninguém podia ficar indiferente. Apesar da maldade, ela era boa todos os dias!
– Mal seria se eu não pudesse andar à vontade na minha própria casa... – responde-me secamente. – Se alguém está a mais neste filme não sou eu com certeza.
E dito isto, marchou-se para a cozinha com um ar de soberba, sem revelar a mínima preocupação por ter sido apanhada em trajes menores. A custo, pois a ressaca pesava-me três toneladas em cima da cabeça, levantei-me, fui à casa de banho dar uma mijadela e passar água fria pela cara, e decidi ir atrás da presa. Fui dar com Isaura no lava-louças a lavar os copos que eu e o Carlos tínhamos sujado na noite anterior. Pus-me propositadamente atrás dela, muito chegado à sua traseira, de forma que o meu caralho, em tesão crescente, lhe roçou no cu. Nessa posição estendi os braços para abrir a torneira e encher um copo de água, tocando-lhe com o braço nas mamas quando o levei à boa. Ela não disse nada.
– O Carlos ainda dorme?
– Sim.
– Então se eu agora te baixasse os calções e te enfiasse um dedo no cu, ele nunca saberia de nada...
Ao mesmo tempo que o dizia puxava-lhe o elástico das cuecas para baixo, deixando-lhe o rabo ao léu.
– Mesmo que visse não ia acreditar. – responde-me ela, sem protestar por eu a começar a despir daquela maneira. – Ia pensar que estávamos na brincadeira só para lhe foder o juízo.
– Isso é porque o Carlos é um porreiro, ao contrário de ti... – disse, pondo-lhe a mão direita entre as pernas, pela frente.
Três passagens suaves com os dedos sobre os lábios vaginais foram suficientes para a humedecer.
– Ao contrário de mim?
Baixei as minhas cuecas e rocei-lhe a narça tesa pelo rego, ameaçando-lhe o buraco do cu antes de a amarar no cais da cona.
– Sim, ao contrário de ti, que és uma puta...
Empurrei um bocadinho a cabeça da picha, que se aninhou sem problemas no buraco molhado. Isaura emitiu um ligeiro suspiro quando o sentiu entrar e percebi que não ia encontrar mais resistência aos meus avanços. Era sempre assim. A partir dali, podia fazer-lhe o que quisesse. Nesse momento soou do quarto ao lado um ronco de marido adormecido, e isso deu-me estímulo para lhe dar uma valente estocada e enfiar-me nela bem até ao fundo. Aí Isaura não conseguiu abafar um gemido e as pernas dobraram-se-lhe de prazer, como se subitamente tivesse perdido as forças. Dei-lhe uma segunda estocada ainda com mais força e ela deve ter mordido a língua, pois conseguiu não fazer qualquer tipo de som. Sentia as pernas dela tremer e, segurando-a bem pelas ancas, pois parecia nessa altura pouco mais que um peso morto e abandonado, comecei a meter e tirar como um doido. Isaura veio-se primeiro que eu, há que tempos não devia ser fodida assim, e ainda bem pois, pela minha parte, sentia um enorme desejo de sentir o pau a badalar-lhe nos dentes.
– Agora que já te vieste, faz-me um broche...
– Não quero.
– Da última vez disseste que fazias.
– Qual última vez?
Era assim que Isaura abafava dos seus pecados: “desinventava-os”. Por ela, nos registos da acta da sua realidade, esta era a primeira vez que nos enrolávamos. Quando, va verdade, rara era a vez que eu lá ia e não acabávamos a esfodaçar.
– Vá lá, tu sabes que gostas. Tu adoras-me!
Protestava, mas cedia sempre e agora não era diferente. Ajoelhou-se.
– Adoro-te?!? AH AH AH!
– Não te rias. No mínimo, adoras odiar-me!
Era mais isso. Ela já se encontrava agachada à minha frente, preparada para me abocanhar o caralho, quando decidi dar-lhe meia dúzia de esgalhadelas e, num ápice, desatei a vir-me na sua cara!
– Ahhhh...!!! Assim sim, carinha cremosa!!
Levantou-se horrorizada, a escorrer esporra pela cara abaixo, e correu para a casa de banho enquanto eu me ria como um parvo com a picha na mão. Foi assim que Carlos me encontrou ao entrar na cozinha.
– Estou a ver que ainda hoje não a consegues manter nas calças. Há coisas que nunca mudam...
Carlos conhecia-me bem.
– Sabes que por mim estás à vontade, mas a Isaura não gosta dessas brincadeiras.
– Oki doki – respondi, puxando as cuecas para cima.
– Tens fome? Estava a pensar fazer uns ovos...
– Espera pela Isaura, os ovos dela são divinais.
Nisto entra ela acabada de sair do duche, saltitante como se um sopro de primavera tivesse trespassado por instantes o coração pedregoso que tinha no peito. Foi directa ao assunto como se não houvesse mais nenhum.
– Como é que querem os ovos?
Olhei para o Carlos, que encolheu os ombros, e sugeri:
– ...Cremosos?
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com