20 Juni, 2019 Queixas de uma sopeira
Para que quero um homem todo cagado de óleo, se não é capaz de me enfiar o caralho no cu?!
O que é que eu quero? Olhe, vizinha, quero que ele seja menos pamonha! Afinal, somos casados vai fazer 10 anos, já não precisa de ser o mesmo escuteiro do dia em que me pediu namoro… Não somos de porcelana, nenhum de nós, já estamos muito transparentes e quinados… E o casamento não vive só de respeito e educação, não é chegar a casa do trabalho, todo sujo, todo suado, e querer conversa!
Eu quero lá saber como foi o dia dele! O que disse o chefe, o que disse o cliente, o que comentou o colega... Nem disso nem da cultura geral, que ele me está sempre a mandar à cara, como se isso me tirasse os calores à noite! Quero lá saber dos políticos do telejornal, das teorias para acabar com a fome no mundo, das tácticas para o Benfica-Sporting! Para que quero eu um homem todo cagado de óleo, a tresandar a transpiração, com as unhas pretas e a pele toda engordurada, se não é capaz de me apanhar de costas, de me empurrar contra a parede, de me baixar as cuecas à bruta e de me enfiar o caralho no cu?!
O que é que eu quero? É isso que eu quero! Um caralho sem contemplações, que me coma as nalgas aos sacões até as tetas baloiçarem como pudins! Um homem que chegue a casa e que se deixe de romantismos, de beijinhos na bochecha, de apelidos carinhosos. Se sou a queriducha dele, como ele diz, porque não me espeta o pau no meio das pernas?! Quero um homem que deixe a testosterona falar por si, que me faça sentir que passou o dia a pensar em mim, que me agarre nas mamas como quem espreme um par de laranjas, que me meta a perna no meio do vestido e me faça pingar as cuecas!
Já nem digo que me lambuze toda, e se ele sabe como eu gosto de ser lambuzada! O que eu adoro que ele esteja calado e use mas é aquela língua para me babar as virilhas, o rego do rabo, que me puxe a cuequinha para o lado e meta o dedinho lá dentro enquanto me chupa o grelo! Ai vizinha, a vizinha nunca casou, sabe lá o que é sentir-se tão inundada de cona que aquele cheiro a vinagre lhe chega ao nariz e se escorre toda pelas pernas abaixo…!
Isso é o que eu quero. Que ele me lamba de alto a baixo!
E depois, tão alucinado que já não se aguenta, que o tire para fora, e se aquilo é um papa-formigas, vizinha... Gostava eu de saber porque deus nosso senhor arma um homem com tamanho corrimão se depois é tão resistente a usá-lo! Não, quer é conversa…
Eu não sou pessoa de desdenhar uma boa conversa, não me perceba mal. Uma palavrinha aqui e outra ali, uma marotice sussurrada ao ouvido, ai minha putinha, ai minha vacona, ai o teu buraquinho tão quentinho… Mas não, é isto e aquilo, este e o outro, a Europa, a América e a China, o Trump, a Merkel e o António Costa, o Benfica, o Sporting e o Porto, a arte urbana, a arte antiga e a arte sacra… Eu quero lá saber da arte sacra! Eu quero é que ele meta o dedo na parte fininha das minha cuecas ensopadas e mas tire só de um puxão, com tanta força e falta de jeito que pelo caminho me arranque seis pintelhos! E depois que enterre aquela tromba de elefante na minha grutinha cheia de peladas, que de tanta humidade inútil já começa a cheirar mal, a borras de café e a musgo…
Eu agora estou na flor da idade, vizinha, mas a cona não espera nem fica fresca para sempre!
Há dias que me sinto uma praia morta, uma ilha deserta… Deserta de picha, pois então. Meto lá as mãos e sinto umas ramelas secas e penso: «Há lodo no cais!». Mas como é que pode não haver se ninguém faz a manutenção? Se aquilo não é esfregado como deve ser? Tem a gente um homem que chumbou para engenheiro, que passa a vida a enroscar o parafuso, a metê-lo na anilha, a passar óleo nas juntas e a apertar porcas, quando tem ali uma porca toda oleada pronta para apertar e não lhe passa cartão nenhum! Costuma dizer-se que em casa de ferreiro espeto de pau, mas cá em casa nem ferreiro, nem espeto nem pau! A vizinha calcula as horas do dia que eu passo a imaginar que este palerma chega a casa chateado com a vida e decide descontar na minha pessoa? Que, na falta de ideia melhor, considerou a possibilidade de resolver todos os problemas do mundo ocidental baixando-me as meias, atirando-me para cima do sofá e pregando-me uma enrabadela das antigas?!
Palavra de honra que outro dia até dei comigo a olhar para a meia cintura do padre Bastos, a chegar a cabecinha para a frente no momento da hóstia, a ver se lhe tirava nem que fosse um odorzinho de pila sacra da batina… Para ver o desespero dos meus pecados, vizinha!
Em boa verdade, é preciso admitir que ele, o meu marido, nunca foi muito foito nas coisas na malandrice. Mesmo ao início, quando começámos a namorar e íamos para a marmelada no escurinho do cinema, era eu que tinha que fazer os avanços para ele me vir às arrecuas. O que é e que estás a fazer? Estou a agarrar na tua mãozinha. Pra quê? Para a meter nas minhas cuecas. Ah. Estás a sentir? Estás bem? Está tão viscoso... É mesmo assim. Esta é a porta da frente. E esta é a porta de trás. Também está viscosa... É mesmo assim.
Ele não sabia nada, tive que lhe ensinar tudo!
Agora mete o dedinho lá dentro. Agora cheira. Cheira bem? Cheira a cocó. É mesmo assim. E gostas? Não sei, é cocó. Mas é o meu cocó. Então gosto. Queres meter o teu pipi? No cocó? Sim. Mas, e se engravidares? Não te preocupes, se por obra e graça divina engravidar por aí, não precisas de pagar o aborto, despejamos só o autoclismo. És tão linda. És a minha queriducha. Sou mesmo? Então enraba a tua queriducha...
Era assim, e isto quase uma semana depois de começarmos a andar! Nunca tinha pressa para as coisas importantes, não, eram os estudos, as ideias, os ideais e os planos para o futuro. Já então queria lá eu saber dos planos para o futuro! Estava muito mais interessada nos planos para o presente... Mas fodes-me ou não?! Mas é importante! O que é que é importante? O aquecimento global! E o aquecimento da tua queriducha, não é importante? Mas o G8… Eu percebo, amor, mas posso contar contigo para chegares ao meu ponto G antes que te deixe feito num 8?
Assim se passavam os nossos serões, ele vinha-me com a cultura e eu, a muito custo, depois de muita volta e convencimento, vinha-me em cima dele. Chegava a casa exausta, mas não de cavalgar em cima dele. Ficava cansada do tempo que demorava a convencê-lo de que a minha floresta virgem precisava de ser salva da extinção do caralho dele!
Enfim, 10 anos disto, vizinha. Segundo uma das suas teorias, é o que acontece aos casais normais: amadurecem! Ele nem percebe como isso me ofende... Que ele seja murcho é lá com ele, mas eu quero lá ser fruta madura! Ainda tenho tudo no sítio, tudo viçoso, e se ele não aproveita a minha jarra felpuda para depositar a semente é porque é parvo!
Aliás, ele nunca foi muito esperto, só quer saber de ciência, de matemática, de assuntos que não interessam nem ao menino Jesus quanto mais a uma pessoa normal, mas que a ele ocupam grande parte da agenda. Não sou senhora de ficar um serão em casa a foder uma pila ou a bater uma secóvia, não, «temos que ir ao teatro». Não me é permitido passar uma noite serenamente com ele entalado no rabo, não, «temos que ir ao cinema ver o último filme daquele realizador iraniano». E deus me livre de planear uma sessão dupla, um daqueles 69 que chegam aos 70, em que nos lambemos e dedamos pelo menos duas horas de seguida, porque ele já reservou bilhetes «para um colóquio científico».
Um «colóquio» vizinha! Vontade tenho eu de lhe dizer: não sabe o que fazer com ele? Olhe, «coloque-o» aqui nas bordas da amiga e o resto vai de empurrão! Um estúpido, é o que ele é, um ignorante, um analfabeto que só pensa em cultura quando tem à disposição as melhores sementeiras aráveis que umas partes pudendas podem oferecer! Falando nisso, em podendo há-de-me devolver o rosário que lhe emprestei. Não é por nada, mas é porque é meu.
Não, ele nunca foi de se chegar à frente, e eu que gosto tanto por trás... Eu bem me insinuo, bem me apresento a ele em trajes menores, com aqueles sinais subtis que são apanágio da mulher… Uma mama nos queixos enquanto lhe sirvo a sopa, uma mão a agarrar-lhe a narça quando lhe ponho o guardanapo no colo, o olho do cu enfiado no nariz quando ele se senta a ver as notícias e eu finjo que aspiro a casa. Eu bem lhe chago a cabeça quando ele quer dar atenção a alguma coisa, a ver se me dá um merecido tautau…
Pois, nada, vizinha, nem uma reacção! Se ele parasse calado por dois minutos e não mudasse de canal de vez em quando para correr os analistas todos, podia jurar que estava morto!
Nunca, nunca se esforçou por me procurar, mas agora já nem o esconde... Isto é, só de manhã. Aí, não se levanta sem estar pelo menos uma hora de volta de mim, o estupor. Mas aquilo são horas para aquelas javardices? Está uma pessoa a sonhar muito bem com um actor de cinema e começa a sentir aquela lixa da barba por fazer a roçar nos lábios da cona… Tenta a gente virar-se para o outro lado e encontra um dedo que se nos enfia pelo cu acima. Mal abro um olho e já é tarde, está ele de caralho enconado a bombar como uma máquina de costura. São lá maneiras de acordar uma esposa dedicada?! Como se isso não bastasse, cinco minutos depois tenho a vizinha do lado às marradas na porta, a queixar-se de que estou a gemer muito alto, que é todos os dias a mesma coisa.
Mas acha que ele quer saber das queixas dos vizinhos? Tanta cultura e vai-se a ver é uma besta como os outros! Só desiste quando me venho como uma vaca! Então deixa-me em paz, com as pernas a tremer e os buracos a abrir e a fechar como bocas de robalo, e vai trabalhar…
E é assim, vizinha, é este preparo todas as manhãs, 365 dias por ano! Mas enfim, é a vida duma mulher casada, o que é que se há-de fazer?
Não, infeliz não posso dizer que seja. Pensando bem, até considero que sou bastante feliz a maior parte do tempo. Ainda ontem fomos ao teatro ver «Os dias felizes» do Samuel Beckett, o famoso dramaturgo irlandês, e pensei para comigo: estas pessoas não são nada felizes. Ao pé delas, a minha vida é perfeita! Não me falta nada, tenho um marido que me ama, que cuida de mim e me traz a ver coisas interessantes. Não me posso queixar…
Então porque me queixo? Ora essa, vizinha, não é óbvio? Para começar, sou portuguesa, o que significa que tenho pêlo na venta, pêlo na cona e nunca estou contente com nada, com muito orgulho! E depois, a vizinha nunca casou, não sabe destas coisas, mas… Para que há-de a gente casar-se com um homem a não ser para nos queixarmos dele? É que não vejo outro motivo…
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com