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11 Juli, 2024 Memórias dum corno - Parte 1

Em nenhum momento pensei que não podia confiar nela. Estava enganado...

Claro que fui o último a saber. Parece que há uma regra que diz que tem que ser assim, não é? Mas é verdade. Já toda a gente sabia, os meus amigos, as amigas dela, os colegas, as famílias... Ninguém teve coragem de me dizer, de me avisar de alguma forma.

Memórias dum corno - Parte 1

Em retrospectiva, devia ter desconfiado de certos olhares, de determinadas insinuações, de algumas indirectas. Sim, porque isso também faz parte. Ninguém nos diz nada, mas gozam connosco nas nossas costas, atribuem-nos rapidamente aqueles epítetos clássicos: “corno”, “cabrão”, “boi manso”...

Mas nunca esperamos que uma coisa assim nos aconteça, não é? É daquelas coisas que só acontecem aos outros. O normal é sermos nós a gozar com eles. Aliás, mesmo que nos dissessem, seria difícil acreditar. Porque nada o fazia esperar. Porque pensávamos que estava tudo bem. Porque confiávamos no nosso parceiro.

ASarilhos Memorias dum corno 1

Claro que é quando confiamos que as coisas acontecem, não é? Mas faz parte do contracto, dos votos de um futuro comum, depositarmos a confiança total um no outro. Não pode ser doutra maneira, certo? Não quando pessoas se juntam e idealizam uma vida a dois.

E mesmo com sobressaltos, com ciúmes, com cenas, com mais ou menos dificuldade, aprendemos a confiar. Habituamo-nos a isso.

No meu caso, em nenhum momento pensei que não podia confiar nela. Obviamente estava enganado...

O mais surpreendente de tudo, no entanto, não foi descobrir que ela me traía. Que ia para a cama com outros homens. Que, ao que parece, o fazia já há bastante tempo. Que vários dos meus amigos já tinham passado pelas suas mãos. Que, ao que parece, algumas dessas vezes tinham sido na nossa casa... Na nossa cama... No nosso ninho de amor, onde dormíamos e fodíamos!

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Talvez a razão principal para nunca ter desconfiado dela tenha sido essa, nunca deixámos de foder.

Tínhamos, pensava eu, uma vida sexual satisfatória, quatro ou cinco vezes por semana, sempre com variedade assinalável e sempre, invariavelmente, com final feliz.

É uma questão de honra, mulher minha não se levanta da cama sem um orgasmo, seja com o pau, a língua ou os dedos. Como haveria eu de imaginar que, mesmo assim, ela continuava com fome?!

Mas claro que não era fome. No lote dos seus argumentos, das suas razões para me trair, não podia constar negligência do marido nem das suas funções conjugais. Porque nunca tal aconteceu. Portanto, para ela, era outra coisa, talvez o risco, o proibido, o sentimento de transgressão... E, claro, a “novidade”. Afinal, quem é que não gosta da “novidade”?

Não, o mais surpreendente não foi descobrir que a minha mulher era, como se diz na gíria, uma puta, sem ofensa para as profissionais. Uma vaca do caralho, pronto. Mas, claro, nunca lhe chamei nada disso. Ninfomaníaca seria o termo mais apropriado.

Doeu-me, sim, mas não me surpreendeu por aí além. No fundo, no fundo, somos todos polígamos, um bando de infiéis, é a nossa natureza, a nossa genética de sobreviventes. Não, o que realmente me perturbou, o que me deixou à nora... Foi perceber o quanto isso me excitava!

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A primeira vez é sempre aquela que nos faz estremecer, não é? Aquela que nos puxa o tapete de debaixo dos pés. A história nunca varia muito, um gajo chega a casa mais cedo... Estão a ver o filme...

No meu caso, foi numa tarde em que ela me tinha dito que ia para fora em trabalho. Sinceramente, pensei que ia ter a casa só para mim por umas horas. Decidi sair mais cedo, com o projecto de me despir todo, deitar-me na cama a ver uns filmes novos que tinha sacado, bater duas ou três punhetas relembrando os velhos tempos de solteiro. Uma tarde terapêutica, portanto. Mas ela chegou primeiro...

Logo no momento em que girei a chave e abri a porta, ouvi os seus gemidos. Ela pensava que estava sozinha, à vontade, não tinha razões para ser discreta. Gemia como uma porca.

Ainda pensei que pudesse ter vindo para casa fazer o mesmo que eu, mas logo ouvi aquele estalo metálico, típico de carne a bater com carne, em ritmo acelerado, e aí percebi que não havia engano.

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Senti-me tonto, sem chão. Não sabia o que fazer. Irromper pelo quarto e apanhá-la em flagrante delito? Era uma opção. Pelo sim pelo não, aproximei-me sem fazer barulho, com a intenção de ainda assim confirmar o que era mais que óbvio.

Têm de compreender, eu não estava em mim. Não sabia como agir. Não há manual de instruções nem protocolo para uma coisa assim.

A porta do quarto estava aberta, não tive dificuldades em aproximar-me e espreitar lá para dentro. Eles estavam tão envolvidos no que estavam a fazer que nunca dariam pela minha presença.

Ele era um tipo de uns 40 anos, de pele clara, com várias tatuagens. Estava a comer a minha mulher por trás. A puta estava toda nua, só com meias altas, de frente para mim, mas de olhos fechados. Se os tivesse aberto naquele momento, tinha-me apanhado.

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Recuei para que ela não me visse e durante algum tempo, fiquei apenas a ouvi-los. Ele não dizia nada, ela gania desvairada enquanto levava na cona.

Foi aí que aconteceu... De repente, senti o caralho aos saltos dentro das calças! Não percebi logo. Não conseguia conceber a minha própria tesão.

Não era suposto eu estar ferido, fodido da cabeça, piurso, consumido de raiva?! Pois, nada... Apenas estava excitado com a cena, entesado com o surreal daquela situação.

Ouvi-os mudar de posição e arrisquei um novo olhar. Agora, ela tinha-se posto em cima dele, de costas, e cavalgava no pau comprido do tipo, que se ia entretendo a apalpar-lhe as mamas e a beliscar-lhe os mamilos.

Sei muito bem como ela adora que lhe belisquem os mamilos. Portanto, ou ela disse-lhe para o fazer, ou não era a primeira vez que se encontravam.

Do meu ângulo de visão, conseguia ver-lhe a pintelheira aos saltos, mas não a cona, nem a penetração, o que na altura me frustrou bastante. Podem achar incrível que eu pensasse nesse tipo de coisas, mas não vou mentir, tudo aquilo me estava a deixar com uma tusa monumental!

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Tive vontade de entrar pelo quarto só para ver melhor, para ver o caralho do gajo a esgarrar-lhe aquela racha! Tê-lo-ia feito se fosse invisível. Porque, então, já não queria apanhá-los, só queria que continuassem.

Nessa altura, não me importava mais nada senão o filme que decorria diante dos meus olhos. Não sentia a traição, o orgulho ferido, a dor de corno. Estava apenas inebriado pelo sexo, pela tesão!!

Tirei o pau para fora e comecei a masturbar-me.

Mais uns minutos e o tipo avisou que se ia vir. Então, ela desmontou-se e ajoelhou-se à sua frente, abocanhando-lhe o pau teso, cuja cabeça brilhava dos sumos de ambos.

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Aplicou-lhe um daqueles broches que ela tão bem sabe fazer e não demorou muito até o gajo se vir na boca dela.

Ela sorriu de boca cheia, engoliu sonoramente para lhe mostrar que o fazia, e em seguida deitou-se ao lado dele, terna, carinhosa, agradecida, a suspirar de satisfação e a fazer-lhe festinhas no peito.

Essa pequena intimidade chocou-me mais do que tudo o resto! Aí sim, tive vontade de acabar com os dois!

Mas claro que não o fiz, não é? Não sou um bárbaro. E afinal, estas coisas acontecem. Podia perfeitamente ser ao contrário. As pessoas são livres, ninguém é de ninguém.

Escondi-me de novo e de novo fiquei a ouvir o que se passava. Ouvi-o acender um cigarro (a minha mulher não fuma) e perguntar:

– Não tens nada que se beba?

– Não, filho, já te disse que isto aqui não é um bar.

Como suspeitava, não era a primeira vez que ele me suava os lençóis.

– Hei, onde é que vais?

– Tenho de ir mijar.

– Vou contigo, quero ver isso!

Ouvi a cama a ranger quando ambos se levantaram e mal tive tempo de correr para a sala, pensando, então, em pirar-me dali. Já tinha visto tudo o que havia para ver, precisava de pensar no que iria fazer a seguir.

No entanto, antes de abrir a porta, ouvi-os a rir muito, como se ele lhe estivesse a fazer cócegas. Depois, a voz da minha mulher:

– Foda-se, já estás duro outra vez?!

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– És tu que me deixas maluco...

– Estou a ver que sim... Oh!

O som não enganava, ele tinha-a espetado outra vez e logo começou a soar novamente o flap flap flap em passo acelerado. O cabrão, salvo seja, estava-lhe a dar outra, e ela, claro, gemia em conformidade.

De novo a curiosidade – a tusa! ­– foi mais forte que a minha raiva e, pé ante pé, fui direito à casa de banho para continuar a observá-los.

O “quadro” era de filme porno. O filho da puta nem a tinha deixado levantar da sanita, estava a martelá-la como se fosse um naco de carne!

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Debaixo dele, de pernas escancaradas, ela mal se conseguia equilibrar e agarrava-se-lhe ao pescoço para não cair. De novo, gania como uma cadela e não aguentei mais, voltei à sala, tirei outra vez o pau para fora, dei três sacudidelas e esporrei-me para dentro do cinzeiro.

Sem exagero, até vi estrelas! Não me lembro de alguma vez sentir um orgasmo assim tão estratosférico.

Depois, sim, saí dali o mais depressa que pude.

Cheguei à rua, mas não sentia os meus passos no passeio, à minha volta só via pessoas e carros desfocados, um calor absurdo apoderou-se de mim. Pensei que ia cair para o lado e tive que entrar num café e sentar-me.

Um quarto de hora e uma caneca depois, senti que o sangue voltava ao seu compasso normal nas minhas veias. E aí sim, caiu-me a ficha, caiu-me tudo em cima, a traição, a filha-da-putice, a cabeça a estalar com os cornos que nela cresciam despudoradamente - era impossível que ninguém os visse!

Mas ninguém me passava cartão. E aí percebi a dura realidade de que não há evento mais solitário na vida do que ser traído pelas pessoas que amamos. Tive que beber mais uma.

E, no entanto, nessa catarse de desespero, sem fazer ainda ideia do que iria acontecer a seguir na minha vida, sem calcular como poderia alguma vez aliviar o sentimento de revolta e puro ódio que sentia naquele momento, uma outra natureza recusava a acalmar-se.

Mesmo tentando evitá-lo, revia incessantemente as imagens da traição, para sempre gravadas no meu cérebro.

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O gajo a comê-la por trás, ela a cavalgar em cima dele, o broche copioso, a boca dela cheia de meita, os gemidos e suspiros dela mesmo sem se vir, o gajo a parti-la toda em cima da sanita...

Um pormenor sobre todos os outros se destacava neste último quadro: quando ele ia e vinha em cima dela, o olho do cu dela dilatava, parecia que a qualquer momento se ia cagar toda!

Era como uma tatuagem na minha memória, não conseguia apagar a imagem daquele olho do cu palpitante e só queria enfiar-me todo dentro dele!

Sem surpresa, constatei que estava de novo de pau teso. Antes de pedir a terceira caneca, fui à casa de banho do café, masturbei-me a imaginar que a enrabava e, bendito imaginário, esporrei-me todo nas bordas da minha mulher.

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Depois de a lamber toda, mentalmente, claro, bebi mais uma e dei entrada num hotel. Nem a avisei que não ia dormir a casa.

Bêbado como estava, adormeci rapidamente, embalado pela pequena vingança de a deixar em cuidados, sem saber nada de mim. Mais não fosse, para compensar tudo o que agora eu sabia sobre ela.

(continua...)

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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