03 Oktober, 2016 Vergonhas da pátria em vídeo... Ou as porno-verdades de Amarna Miller
Uma crítica mordaz à sociedade espanhola (e que assenta que nem uma luva também na realidade portuguesa).
"Chamo-me Amarna Miller. Sou actriz porno e nasci num país hipócrita, onde as pessoas que me chamam puta se masturbam com os meus vídeos." Assim começa o vídeo que promove o Salão Erótico de Barcelona e que despoletou um "furacão" em Espanha.
"Chamo-me Amarna Miller. Sou actriz porno e nasci num país hipócrita, onde as mesmas pessoas que me chamam puta se masturbam com os meus vídeos.
Um país que ama a vida, mas que permite que se mate em nome da vida.
Um país indignado com a corrupção, mas que continua a votar em ladrões, onde se salvam os mesmos bancos que desalojam milhares de famílias.
Um país que se diz laico enquanto entrega medalhas a Virgens, que trata os que emigram como heróis e os imigrantes como lixo.
Um país onde os que se supõem guardiões da moral podem ser os mais perigosos, onde a prostituição ainda não é legal, mas todos os anos aumenta o número de clientes.
Um país que se crê aberto e tolerante, mas onde um árbitro recebe ameaças de morte por ser gay.
Sim, vivemos num país asquerosamente hipócrita. Mas alguns de nós não nos rendemos."
"O vídeo de Amarna Miller"
Estas imagens e este texto duro, muito crítico relativamente à sociedade espanhola - e também perfeitamente adaptável à realidade portuguesa -, estão a dar ao Salão Erótico de Barcelona, que decorre de 6 a 9 de Outubro no Pavilhão Olímpico Vall d'Hebrón, uma publicidade extraordinária.
Já meio mundo viu o "vídeo de Amarna Miller", como já é conhecido, perante o protagonismo que ela assume, como se fosse Jesus Cristo entre os seus "apóstolos", numa imitação da "Última Ceia" de Leonardo da Vinci.
A actriz que estudou Belas Artes, já publicou um livro e colabora com a revista alternativa Jot Down explica, numa entrevista à revista Verne do El País, como concorda em absoluto com a ideia do vídeo.
"Vivemos num país retrógrado e cheio de contradições. Temos um problema a nível educacional: não se ensinou que é preciso respeitar as opções dos outros e que não podemos decidir por eles. Muitos querem pôr-se no lugar dos actores e das actrizes da indústria e invalidar as suas decisões segundo o que consideram adequado. Eu não trabalharia numa empresa de tecnologia, mas isso não quer dizer que esteja mal fazê-lo."
"Tudo o que está relacionado com a sexualidade e não apenas com o porno, está estigmatizado, continua a ser um tabu."
"Haverá sempre detractores. Se a mensagem for intensa, haverá queixas. Não quero ser inofensiva e como o contrário de inofensiva é ofensiva, não me importo de o ser."
Amarna Miller diz-se adepta do chamado "porno ético" ou feminista, um conceito de que já falamos no artigo "Lucie faz porno para mulheres" e que a actriz espanhola explicou na mesma entrevista.
"A definição não é minha, é da escritora feminista Tristan Taormino, mas parece-me perfeita. Refere-se ao que ocorre atrás da câmara por comparação com o que acontece à frente, não podemos impor o que é humilhante ou agradável. O porno ético baseia-se na igualdade entre actores e actrizes, em valorizar e pagar de forma adequada o seu trabalho, em respeitar as condições em que se executa este trabalho e que tudo se faça de forma consensual."
Para teres um vislumbre do talento artístico de Amarna Miller com o corpo ora espreita o vídeo em "o pecado original (mulheres e serpentes)".
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)