30 Juli, 2015 Nus na Avenida Paulista contra a homofobia
Felippe e Marlon numa das ruas mais movimentadas do Brasil contra o preconceito.
Um casal de dois homens brasileiros posou nu em plena Avenida Paulista, em S. Paulo, uma das cidades mais populosas do Brasil. E não foi por mero prazer exibicionista! Eles despiram-se para lutar contra o preconceito que ainda subsiste no país contra os homossexuais.
Este "sui generis" protesto contra a homofobia resulta da iniciativa dos fotógrafos Fábio Lamounier e Rodrigo Ladeira no âmbito do projecto denominado "Chicos".
Sendo eles próprios homossexuais (e até aparecendo também nus na página da Internet do projecto), querem mostrar "um olhar de dentro do universo do homem gay, e sobre ele", conforme frisam no site oficial dos Chicos.
Fábio Lamounier e Rodrigo Ladeira têm publicado nesse espaço do World Wide Web vários ensaios fotográficos e vídeos com diversos homossexuais oriundos de diversas partes do Brasil.
É nesse quadro que se insere a sessão fotográfica que colocou Felippe e Marlon nas bocas do mundo!
O casal foi fotografado de mãos dadas em pelota na movimentada e conhecida Avenida Paulista em imagens que têm tudo de "utópico", como escreve o fotógrafo Fábio Lamounier num texto no site da campanha.
"Pôr-se nu sobre a avenida é evidenciar a fragilidade das estruturas que representa: há de ser utópico e repensar uma cidade nua dos tantos preconceitos, verdadeiramente amorosa mesmo sob o céu cinza; complementada pelas diferenças, respeitosa pela diversidade. Há de ser."
Mas se parece haver unanimidade quanto à beleza das fotografias, já o mesmo não se pode dizer da relevância do protesto.
E há quem ache que o acto de Felippe e Marlon é de mero exibicionismo e até pode motivar a percepção negativa que alguns têm sobre os homossexuais.
Ora leia algumas das críticas feitas ao protesto do par romântico.
"Exibicionistas. A única mensagem que isto envia é que os gays são doentes pervertidos. Há melhores formas de protestar contra a homofobia."
"Ficando pelado na rua vamos conseguir ser respeitados. Ok, vai nessa..."
"Prefiro protestos mais inteligentes! Sou gay, e tenho receio ainda ao pensar no meu futuro, no futuro dos meus amigos e sobretudo, no futuro da humanidade, porém, como protesto essas fotos são total e completamente irrelevantes."
Do outro lado da barricada, há muito quem aplauda a coragem de Felippe e Marlon. Leia alguns dos elogios que eles têm recebido.
"Fantástico! Vocês são bonitos! Obrigado pelo vosso testemunho."
"Temos que nos levantar pelo direito de amar o nosso homem."
"Adoraria juntar-me a eles num protesto pelos direitos gay e mais..."
"Merecem aplausos por ter feito algo que muitas gentes não teriam coragem de fazer."
O casal quis também deixar o seu testemunho sobre as motivações que estiveram por trás desta ideia de tirar a roupa toda em plena Avenida Paulista.
"Chicos. Ticos. Garotos. Somos todos Chicos! Garotos virando homens. Todos os dias! Homens que gostam de outros homens. Marlon e eu (ok, parece nome de filme), é a minha história de amor. Um amor que nasceu via aplicativo de pegação e, dois anos depois, virou um amor livre, intenso e a relação mais sincera que já tive na minha vida.
No lugar do sentimento de posse, estabelecemos o sentimento de liberdade. Somos livres... mas para continuar nos amando mais a cada dia. Quando começamos a nos assumir para os nossos amigos e pessoas próximas, todos diziam:
“Nossa, mas vocês são tão diferentes um do outro!”. Sim, somos diferentes, por isso mesmo, somos complementares.
Tamanhos, proporções e gostos diferentes. Vontades, sonhos e fome por liberdade iguais.
Escolhemos posar juntos na Avenida Paulista. O mesmo lugar onde aconteceu a tal lampadada, um ato de intolerância contra gays e contra a humanidade. Ficamos nus: livres de roupas, preconceitos ou temores. Clicks que representam um mundo ideal no qual possamos andar juntos de mãos dadas, nos abraçar ou beijar sem ter medo. Um mundo em que possamos ser nós mesmos e fazer o que mais nos dá prazer. Amar!
A “lampadada da avenida Paulista” acontece todos os dias em diversos cantos de São Paulo, do Brasil e do mundo, infelizmente. Lampadadas em forma de insultos, agressões físicas e psicológicas. Somos agredidos por sermos gays, por sermos nós mesmos. Chicos que amam outros Chicos, Joãos, Pedros, Caios, Rodrigos, Josés, Ricardos, Thiagos e tantos outros. E isso tem que parar! Parar para que o amor possa continuar livremente."
São Paulo acolhe uma das maiores paradas de luta pelos direitos gay de todo o mundo e durante o Carnaval é comum ver drag queens fabulosas a desfilarem pelas ruas.
A cidade é associada a uma imagem de liberdade sexual, ideia que se estende ao resto do Brasil, mas, apesar de tudo isso, o país é ainda essencialmente conservador no domínio da sexualidade e os actos de violência homofóbica são habituais.
Ora descubra quais são os melhores (e piores) países do mundo para os gays.
De acordo com dados do Grupo Gay da Baía, apenas em 2014, morreram 326 lésbicas, gays, bissexuais e transexuais em ataques motivados pelas suas orientações sexuais - o que dá quase uma média de uma morte por dia. A maioria destas mortes ocorreu em São Paulo e 163 vítimas eram homossexuais e 134 transexuais.
Este quadro ajuda a dar outra dimensão às bonitas fotos de Felippe e Marlon e evidencia não apenas a sua coragem, mas essencialmente a simbologia do gesto.
- E você, consegue ver para lá dos rótulos?
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)