23 fevereiro, 2021 Crónicas da Lábia: O apagão sexual dos mais jovens
Porque é que os mais novos andam a foder menos do que os seus pais?
Estudos sucessivos têm concluído que os mais novos fodem menos do que os seus pais. Mas, afinal, o que justifica este aparente desinteresse dos jovens pelo sexo? Eis algumas possíveis explicações...
Quando eu era miúda, algures no Século passado, as mulheres "decentes" não faziam sexo antes do casamento. E mesmo no casamento, não admitiam que faziam sexo. O sexo era um tema tabu: não se falava e não se fazia, para todos os efeitos!
Mas a malta jovem passava os dias a pensar em sexo - com quem fazer, onde fazer, quando, como.... Era o grande assunto e preocupação que se instalava na cabeça a partir de uma certa idade. Porque, ao contrário da atualidade, podia ser bem difícil conseguir dar uma queca.
É aquela história do fruto proibido é o mais apetecido...
Como não se podia foder, só se pensava nisso! E criavam-se todas as oportunidades possíveis para poder fazê-lo.
Claro que, nesses tempos, não havia telemóveis, nem redes sociais ou tão pouco Netflix! Atualmente, os miúdos têm tanto com que se distrair que o sexo vem no fundo da lista.
O sexo normalizou-se, está em todo o lado, das novelas à publicidade. Os jovens de hoje podem foder à vontade, até na casa dos pais, mesmo com eles em casa. Nem sequer precisam de surripiar preservativos, pois são os pais que os compram para lhes dar.
É óptimo que haja esta abertura e confiança, mas, na verdade, tanta normalidade tornou o sexo desinteressante.
Além do mais, as gerações mais novas tiveram como grande "escola sexual" a pornografia a que podem ter acesso livremente na Internet. Assim, quando chegam à hora do sexo propriamente dito, a coisa torna-se aborrecida porque a realidade não tem nada a ver com a ficção do porno.
Há coisas que nos dão tesão na pornografia e que, na prática, não nos excitam nada. Um pouco como aquele exemplo da fantasia de ser violada que quase todas as mulheres têm. Só a fantasia é que tem graça - uma violação a sério não dá prazer nenhum!
A malta mais nova vai para a cama com a cena do porno na cabeça, tentando replicar o que vê nos filmes na vida real. E, claro, o resultado só pode ser trágico! Portanto, o sexo revela-se muito mais interessante virtualmente do que na prática.
Na minha juventude, chegava-se ao momento do sexo como quem se confronta com uma folha em branco e, portanto, era a absoluta descoberta - sem os condicionalismos do porno ou do que agrada aos outros. Explorava-se esse mundo novo sem ter um guião prévio, seguindo o trilho do prazer, sem recear que fosse o caminho "errado".
O porno pode ser óptimo para apimentar as coisas, mas acreditar que é o espelho do sexo ideal é o grande pecado!
Não há sexo ideal ou errado. Desde que se respeite sempre a liberdade e o prazer do outro, tudo se pode e deve explorar sem manuais, nem pré-conceitos.
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)