12 setembro, 2016 "Tchindas", as queer de Cabo Verde
Documentário sobre transexuais caboverdianas no Festival de Cinema Queer de Lisboa.
Tchinda Andrade é "uma das mulheres mais amadas de Cabo Verde" e foi a grande inspiração para um filme sobre as mulheres trans do arquipélago africano que vai estar em competição no 20.º Festival de Cinema Queer de Lisboa, entre 16 e 24 de Setembro.
"A mulher mais amada de Cabo Verde"
Tchinda Andrade, a figura principal e a inspiração maior para este "Tchindas", revelou-se como transgénero em 1998, num jornal de Cabo Verde, quando tinha apenas 17 anos de idade.
Desde então, "Tchindas" foi adoptado como o termo popular para classificar as queer cabo-verdianas e a mulher trans que lhe deu o nome é uma verdadeira celebridade em São Vicente, a ilha onde vive.
O documentário já venceu vários prémios internacionais e vai estar em competição no 20.º Festival de Cinema Queer de Lisboa, que decorre de 16 a 24 de Setembro na capital portuguesa. A exibição ao público está marcada para o dia 18 de Setembro, pelas 21:30 horas, no Cinema São Jorge.
Ora leia a apresentação do filme conforme o texto de divulgação.
"Tchinda Andrade é hoje uma das mulheres mais amadas da ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Esta notabiliza-se sobretudo a partir de 1998, ano em que decide sair do armário, assumindo-se como trans a um semanário local. O seu nome torna-se então na forma como as pessoas queer passam a ser designadas no seu país.
Tchinda tem agora 35 anos e vive de forma humilde, a vender coxinhas pelo seu bairro. Durante todo o ano, reina a calma, mas tudo muda quando chega o Carnaval. No mês que o antecede, toda a ilha se põe a trabalhar para do nada criar algo verdadeiramente deslumbrante.
São Vicente torna-se um “pequeno Brasil”, como já descreveu Cesária Évora (1941-2011) numa morna incontornável. A sua música e as tchindas guiam-nos numa viagem fascinante a um recanto desconhecido de uma África que poucas pessoas podem imaginar."
"Tchindas" compete no Queer Lisboa com mais 23 longas-metragens depois de ter ganho dez prémios em festivais internacionais e de ter sido nomeado para os African Movie Academy Awards 2016, os Óscares africanos.
Tchinda e o respeito pela comunidade LGBT
O documentário realizado pelos espanhóis Marc Serena e Pablo Garcia Pérez de Lara mostra uma sociedade caboverdiana que convive bem com as mulheres trans, embora nem tudo seja apenas brilho num país onde a discussão sobre as pessoas transgénero e o direito à identidade não é tema político e os transgénero não podem mudar de nome, nem receber os tratamentos adequados à mudança de sexo.
Tchinda Andrade confessa, numa entrevista à Rede Angola, que já foi vítima de insultos e "atacada [fisicamente] duas vezes", mas são situações que procura desvalorizar, notando que sempre conseguiu "superar todos os tipos de violência".
"Não tive experiência de viver noutros países de África, mas há muitas pessoas que falam que torturam os homossexuais, muitas vezes dão pena de morte... Em São Vicente as pessoas vivem na maior descontracção. Não respeitam a 100 por cento os homossexuais em Cabo Verde, mas acho que a população vicentina respeita muito a camada LGBT."
Apesar disso, Tchinda Andrade avisa que é preciso fazer um pouco mais pelos direitos LGBT em Cabo Verde.
"Precisamos de mais liberdades. Por exemplo, o casamento, a adopção de crianças. Também acho que o governo devia fazer algo que pudesse dar o pontapé de saída. Temos as nossas associações gays em Cabo Verde, temos trabalhado muito mas precisamos do apoio do governo."
Para perceber melhor a história de Tchinda Andrade e da realidade da comunidade LGBT em Cabo Verde, espreita a conversa entre esta mulher trans e a socióloga cabo-verdiana Cláudia Rodrigues, ex-presidente do Instituto de Género do país, sobre igualdade de direitos, género e sexualidade.
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)