02 agosto, 2024 Um stalker na minha vida
Eu contava sempre tudo a "B", pois ele era o MEU TUDO, e o "B" contava tudo a "A".
Eu nunca pensei, nem imaginei, que um dia alguém andaria a perseguir-me. Eu já ouvi várias histórias de mulheres e meninas, mas nunca tinha acontecido comigo. E foi bem pesado! Vamos chamar a esse stalker de “A”.
Tudo começou quando eu cheguei a Lisboa e depois de uns meses conheci um homem - vamos chama-lo de “B”. Logo gostamos muito um do outro.
Ele sempre foi muito fofo e educado, cuidadoso, protetor... Mas nunca imaginei que ele fosse um vendido, um peão num tabuleiro de xadrez, e que tinha um stalker por trás dele - e o pior tipo de stalker: rico, inteligente e sádico. Pior ainda é que o “A” estava entediado com a sua vida atual, para o meu azar.
Mas vamos falar um pouco de “B” - um homem português, branco, de estatura mediana, com pouca beleza, acima do peso, muito simpático, muito educado, com uma fala mansa...
Porém, tambem é extremamente preconceituoso, racista, machista, homofóbico. Ele é gordo e também é gordofóbico (se a menina fosse um pouquinho acima do peso, ele não gostava da acompanhante, pois era “"gorda", mas ela não chegava a ser gorda, so “cheiinha”).
Em geral, ele “ria” das pessoas gordas com piadinhas e tal, mas é gordo! Bem, só Freud pode explicar.
Mas eu não conheci esse lado dele - ele só me mostrava o lado “bondoso” e eu gostava muito. Ele contava tudo da minha vida e das minhas aventuras para toda a gente, e autopromoveu-se em cima da minha imagem.
Eu sempre fui muito ingénua. Tive uma educação muito religiosa e não fui ensinada sobre os perigos da vida - sobre esse tipo de gente em pele de cordeiro.
Nunca me dei muito valor - tipo, sou uma pessoa normal, sem grandes “adjetivos”. Sempre me vi dessa forma, mas o “B” vivia a falar de mim a Deus e ao mundo, para se autopromover. Obviamente, eu não sabia.
Ele dizia coisas boas e ruins sobre mim. Queria que todas as pessoas estivessem a olhar e a ouvir o que ele dizia - o mais importante é que ele fosse o centro das atenções e ponto final.
Então, “A e B” encontraram-se. Não me perguntem como foi isso - eu não sei! Só sei que, nesse instante, "A" percebeu que poderia trabalhar com "B" e eu fodi-me!
De uma forma ou de outra, eu contava sempre tudo a "B", pois ele era o MEU TUDO, e o "B" contava tudo a "A".
De todas as vezes que eu falava com “B”, ele estava acompanhado de “A”. Eu contava TUDO da minha vida ao “B”, todos os detalhes das coisas boas e ruins... E ele estava sempre com “A” - pareciam até irmãos, ou pai e filho.
Era certo que se eu ligasse ao “B”, com certeza ele ia estar junto do “A”. Quando, eventualmente, eu me afastava de “B”, logo eu percebia que o “A” se afastava também. Mas eu não entendia isso e demorei muito tempo a entender.
Às vezes, eu percebia que o meu telemóvel tinha uns problemas, umas coisas estranhas... Também via sempre um certo homem parado à porta da minha casa, ou então, percebia que outros homens aleatórios cochichavam sobre mim - eles falavam e olhavam para mim -, e que algumas pessoas filmavam-me com o telemóvel.
Essas coisas são impossíveis, pensava. Eu não sou ninguém importante para as outras pessoas repararem tanto em mim.
(continua...)
Diário da Jéssica
Eu sou a Jéssica. Bem, eu sempre gostei muito de histórias e de contar histórias, mas nunca as divulguei. Então, essa será a primeira vez que eu vou escrever para outras pessoas, algumas coisas pessoais e outras não.
Atualmente, trabalho como acompanhante e gostaria de compartilhar algumas histórias verídicas do meu trabalho, falando um pouco sobre o nosso lado… Sobre os abusos, discriminações, preconceitos, nossos medos, entre outras coisas.
Também vou escrever alguns artigos sobre temas em geral.
Espero que os meus leitores gostem dos meus textos e eu prometo que vou tentar ao máximo não escrever nada enfadonho.