13 março, 2016 O vício pós-separação
Acabou. Começou uma nova era. Tenho de me recompensar. Pensamos todos isto e ligamos um modo completamente frio de encarar algo quente.
3 anos. Estar três anos com alguém é pouco quando comparado com alguém que passa uma década ou mais com outra pessoa. Mas é a minha experiência de relação a longo termo e essa a minha base de conhecimento estatístico.
Habituas-te a uma pessoa, um corpo e uma maneira de encarar o sexo. A tesão inicial passou, mirrou como roupa acabada de sair da máquina de lavar após uma lavagem sonoramente ensurdecedora e plena de voltas e reviravoltas. Habituas-te a um cheiro. A sons na cama. Todos aqueles estímulos que passaram de novos a confortáveis com o tempo, são agora mais uma memória arquivada junto de outras tantas. Mas esta demorou mais e, por isso mesmo, teima mais em desaparecer. Não de saudade, mas de alívio desta vez. E agora? O que é que eu mereço depois disto?
Foder. Tudo. Mexe? É para foder.
9 meses disto. Pensei que ia morrer. Começou devagar ao inicio. Ter 33 anos e ficar solteiro é como ganhar o Euromilhões e não saber o que fazer com o dinheiro. Podia investir é certo, mas há lá cabeça para isso neste momento. Que se foda. Vou gastar.
Quando cheguei a vias de facto com a primeira e naquele momento em que ela se despe, voltei aos meus 16 anos: ela é esguia, tatuada, morena e falava de maneira diferente da outra. Era comprometida. Ainda bem, mais tesão me dá assim. Primeira foda super rápida e miserável e não pude deixar de ficar a sorrir no final. Aquele momento de libertação de uma vida antiga através de um orgasmo dentro da mulher de outro preencheu-me mais do que a ela. Quando estava pronto para a segunda ronda, estava mais confiante e tudo foi diferente. Cabelos eram agarrados, nomes menos próprios gritados ao ouvido e os meus dedos dentro da boca dela. Agora sai da minha casa, se faz favor. Esta foi a primeira. No duche, não pude de deixar de ficar a pensar que isto era o que eu merecia. Esta auto-recompensa depois de três anos, esta maneira fria e objectificante de as tratar naqueles lençóis agora molhados.
Veio a segunda. Esta também era comprometida. Comecei a notar um padrão no que me atraía nelas: gajas insatisfeitas pela rotina de relações amenas. Não infelizes. Apenas a desejar uma fuga e eu era a sua rota ideal: alguém que não queria mais nada do que aquilo. Alguém que lhes perdia o respeito entre quatro paredes e as tratava como secretamente gostavam e que não lhes era concedido em casa.
Terceira. Quarta. Quinta. Sexta e sétima tive de remarcar porque calharam no mesmo dia. Sucediam-se as trocas de mensagens, fotos por chats, dedos enfiados e alternados entre boca e no meio das pernas. “Hoje ele saiu, vou ter contigo”. Foi isto o que me tornei, aquele gajo que sempre receei que a minha ex-namorada tivesse quando estávamos a atravessar algum período menos bom.
Oitava. Nona. Não as repetia. Queria mais. Queria-me preencher com mais, preenchendo-as comigo na esperança vã de me preencher a mim com algo para tapar o vazio que sabia que tinha.
Décima. Já lá vão seis meses disto. Sexo com semi-estranhas deixou de ser algo excepcional, para algo rotineiro. E cada vez mais vazio. Disse para mim mesmo que ia parar. Tentei namorar com uma. Correu bem os primeiros 4 dias até receber uma mensagem de uma mão toda enfiada no corpo a que pertence. Fiquei molhado e a morder o lábio. Estava viciado naquele jogo. Conhecer. Seduzir. Foder. Abandonar. Deixar o desejo de mais em cada uma delas. Deixar a ilusão viva que podíamos ser sempre algo mais, caso fodam comigo mais uma vez. Só mais uma vez e depois logo falamos nisso.
Perdi a conta aos 8 meses. Amigos riam-se da minha vida, invejando o sucesso, a forma como mecanizei todo o jogo do engate e a facilidade com que o jogava. Sexo era quase obrigatório a este ponto. Três dias sem foder com alguém diferente era algo que me deixava a tremer de medo. Estou a falhar com uma. Só pode. Se não me disse nada é porque estou a falhar com ela.
Consegui sair desta espiral infinita por mim mesmo. Aprender a dizer que não. Aprender que há certos prazeres que se encarados com vulgaridade acabam por deixar de ser prazeres e passam a algo sem alma. Sem chama.
Foder sim. Muito. Mas como deve ser. Não como rotina.
Ironia. A ironia do que deveria ser uma fuga de rotina, tornou-se ela mesmo uma. “Estou farto de foder”, disse uma vez a um amigo.
Ele nem queria acreditar no que estava a ouvir. Eu não estava farto de foder.
Eu estava farto de não foder, porque aquilo era tudo menos isso: era vício.
Noé
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.