19 octobre, 2016 Ponto de traição
Diz que quem trai uma vez, trai sempre. Será?
Meter os cornos, porque só um povo com forte tradição bovina é capaz de arranjar uma analogia desta natureza. Nenhum inglês irá perceber o que é “put the horns” se lhes for dita essa expressão.
A traição assume diferentes formas, feitios e tamanhos. Motivações diversas, origens certas ou duvidosas, uns querem ser apanhados e outros vivem-na como uma segunda vida. Para lá do que é aceitável num compromisso, e isto deve ser subentendido como “eu olho para outras pessoas e acho-as sexualmente desejáveis”, vive o acto que sustenta este pensamento: o de trair um compromisso assumido com outrém. A traição e o que a motiva é um jogo de cintura entre as carências e as necessidades resultantes das mesmas. Ninguém pode afirmar que uma traição é apenas derivada de um motivo certo, pois seja a procura de algo que não se tem em casa ou apenas a vivência de algo no momento, ambas as opções estão corretíssimas. Traiu porque não tinha sexo em casa é uma carência, traiu porque quis foder mais do que fode em casa é a supressão de uma necessidade imediata, contudo, pode ser interpretado como uma carência: a de querer foder tudo o que mexe. E essa carência é do caralho.
O compromisso diz, e eu não li nada em lado nenhum porque isto é um acordo social, que eu estou contigo, tu comigo e nós não fodemos com mais ninguém. Se começarmos a pensar demasiado nisto, conseguimos ver aqui algum cinismo encoberto. Um compromisso é só isto? O de não foder com terceiros durante a duração do mesmo? Que romântico. Ah, mas é mais que isso, não é? É, sim senhor. Então, é de estabelecer um laço emocional, uma amizade profunda e um sentimento de união e companheirismo. Curioso, eu também tenho isto com amigos meus, contudo, não tenho nenhum compromisso com eles (apenas o de lhes ter de emprestar 20€ se me pedirem). Voltamos aqui então ao mesmo: pelos vistos, compromisso, é um acordo bastante mais simples do que queremos fazer dele: “eu não fodo com outros e tu não fodes com outras”. Ponto. Podem chamar de namoro, de casamento ou união de facto, o compromisso é apenas um acordo de exclusividade física entre duas pessoas e a traição é a quebra deste mesmo acordo. Porém, procuramos sempre um culpado para a traição, seja em nós mesmos ou na outra pessoa. E ás vezes até no terceiro, como se ele também tivesse tido uma palavra a dizer no acto do compromisso. Não teve e não tem nenhuma culpa, para além da moral.
Então, porque traímos? O que leva alguém a atingir o ponto de traição? Todos temos esse ponto, por muito Franciscanos dos Pés Descalços que nos consideremos. Este ponto de traição para uns é uma empregada de balcão nos sorrir e para outros é ter a Sara Sampaio toda nua na cama. No meio destes extremos, estão a maioria das pessoas. Mas falta algo aqui: motivo. E deixem-se desse pensamento retrógrado de “elas traem por questões emocionais e blá blá”. Não. Elas são iguais a nós, nem piores nem melhores (sabem é fazer as coisas!) e sim, existem homens que traem por esses tais motivos de carências emocionais. Vamos pôr de parte as carências óbvias que surgem numa relação e que podem ser devidamente trabalhadas se forem identificadas, faladas e enfrentadas. Vamos pôr de parte toda essa panóplia de factores e vamos agarrar no que mais me interessa: tesão. Como? Como é que se combate a própria natureza humana? Não há aqui carência, nem “ai ele não me liga” ou “ai ela não me fode como eu quero”. Tesão, pura e dura. Aquela gaja dá-me tesão ou aquele gajo dá-me tesão. Até que essa sensação passe dos olhos para a mente e se transforme em intenção para depois desaguar num acto de traição. Como é que se explica isto a outra pessoa? Tinhas tudo: uma relação saudável, bom sexo e estabilidade. Deitas tudo a perder para uma gaja qualquer e, por norma, menos atraente que a tua companheira. Porquê? Claro que isto tudo aqui falado é relativo. Podemos ter uma tesão do caralho por outra pessoa, dar uso à mão e fica tudo resolvido. Então é isso que separa a traição do simples desejo? Na minha mente já aconteceu e está tudo bem porque é apenas uma fantasia, mas se passar ao acto em si, já é traição? Isto são perguntas do caralho e que quanto mais pensamos nelas, mais confusos ficamos e outras vão surgindo.
Uma coisa é certa: ninguém está livre de trair e ser traído. Eu confio na minha cabeça, não confio é na minha líbido. Nem da pessoa que está comigo. Mas hey, compromisso também é isso: confiança.
E sem ela, não vale a pena.
Até domingo e boas fodas.
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.