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04 mai, 2021 Irmãs Oblatas: as freiras sem hábito que ajudam trabalhadoras do sexo

Mais uma reportagem do Especial Associações que prestam apoio a trabalhadorxs do sexo.

A Obra Social das Irmãs Oblatas é a associação em destaque, neste mês de maio, no âmbito do Especial Associações sobre as entidades que prestam apoio a trabalhadorxs do sexo. Vem descobrir como esta congregação ajuda as mulheres que fazem Trabalho Sexual.

Irmãs Oblatas: as freiras sem hábito que ajudam trabalhadoras do sexo

A Obra Social das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor é uma congregação católica que nasceu em Madrid, em 1864. Está instalada em Portugal desde 1987, tendo sede na Rua Antero de Quental, em Lisboa.

Trata-se de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que se dedica a apoiar mulheres que fazem Trabalho Sexual, bem como "vítimas do tráfico para fins de exploração sexual", como explica ao Classificados X a diretora técnica da Obra Social, Carla Fernandes.

Este apoio destina-se tanto a mulheres cis (as que nascem com um corpo feminino e se identificam como tal), como a mulheres trans (as que nascem com características masculinas, mas que se identificam como mulheres).

As Irmãs Oblatas atuam "em favor da igualdade, da justiça, da libertação e da vida". E as equipas de intervenção da congregação são constituídas por várias pessoas, não incluindo apenas freiras.

De resto, as Irmãs não usam hábito "porque somos todos iguais", como aponta Carla Fernandes ao X.

A diretora técnica, que não é freira, nota que, por vezes, algumas das mulheres que apoiam vão ter com os técnicos da associação e pedem especificamente para "falar com uma Irmã". "Hoje preciso mais de uma questão espiritual, não me leve a mal", dizem, como conta Carla Fernandes.

"Como não é uma coisa imposta da Igreja Católica", há uma maior aceitação, analisa ainda a responsável, sublinhando que os técnicos não fazem "qualquer tipo de intervenção de evangelização das mulheres". O único intuito é "escutar e estar ao lado das mulheres", sejam os técnicos leigos ou Irmãs.

Pandemia obrigou a criar kit de emergência alimentar

A pandemia de covid-19 "mudou muita coisa" na forma como as Irmãs Oblatas ajudam as trabalhadoras do sexo. "Entre o primeiro confinamento e o segundo, os pedidos também mudaram", refere Carla Fernandes.

No primeiro confinamento, houve um "volume imenso de pedidos de apoio alimentar", portanto para ajudar a responder a "necessidades básicas", revela a diretora técnica da Obra Social.

"De um dia para o outro, ficamos todos em casa e as mulheres que acompanhamos deixaram de trabalhar e ficaram sem rendimentos para fazer face às suas necessidades e dos filhos, a nível alimentar", explica.

Além disso, as Irmãs Oblatas também atenderam mulheres que foram "direcionadas" para a sua congregação por outras associações, por não poderem dar resposta a todos os pedidos.

A Obra Social já tinha um Banco Alimentar, mas as circunstâncias obrigaram à criação de um "kit de emergência", constituído por bens alimentares de primeira necessidade, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.

Também foi criado um "kit de higiene", com "coisas básicas de higiene que, muitas vezes, têm preços elevados", analisa Carla Fernandes.

Irmas Oblatas Instalacoes 1

"Muitas mulheres que nunca tinham tido necessidades"

Um fenómeno notório com a pandemia foi o facto de terem surgido pedidos de apoio de "muitas mulheres que nunca tinham tido este tipo de necessidades" e que "não sabiam a quem recorrer", como destaca Carla Fernandes.

A responsável dá o exemplo de profissionais que trabalham em apartamentos e que têm, habitualmente, "outro tipo de rendimentos". Portanto, não tinham informação por nunca terem sentido antes "esta necessidade no âmbito social", diz.

Houve ainda casos de "procura de emprego formal", o que apanhou os técnicos da Obra Social "de surpresa", assume Carla Fernandes.

"Muitas mulheres começaram a ouvir que havia ofertas de trabalho na área dos hospitais, por exemplo como auxiliares, e nas áreas da covid, onde algumas pessoas não queriam, e algumas estão até hoje a trabalhar" nesses empregos, tendo deixado o Trabalho Sexual, revela a diretora técnica.

"Viram este momento como uma oportunidade" e concluíram que, afinal, a atividade no mundo do sexo "não é tão certa" como pensavam e "optaram por procurar outro tipo de trabalho", acrescenta.

Pedidos de apoio psicológico aumentaram

No segundo confinamento, mantiveram-se as mesmas necessidades do primeiro, mas houve "muitos pedidos de apoio psicológico", aponta ainda a responsável da Obra Social. "Preciso de falar com alguém, não consigo dormir", eram os desabafos de algumas das mulheres, como refere.

A falta de rendimentos "desestruturou a vida das pessoas", levando ao aumento das "preocupações, insónias e ansiedades", esclarece.

Antes da pandemia, também já prestavam apoio psicológico, mas era algo pontual, "em situação de crise" - "iam a uma ou duas sessões e não iam mais", aponta Carla Fernandes. Agora, fazem "um processo, um verdadeiro acompanhamento psicológico", diz.

Visitas indoor suspensas, mas equipas de rua já voltaram

A pandemia obrigou ao cancelamento das visitas indoor, ou seja, aos apartamentos e casas. Este serviço ainda não foi retomado porque implica "entrar no espaço de outra pessoa", o que "não é recomendável", como destaca Carla Fernandes.

Também as equipas de rua das Irmãs Oblatas estiveram suspensas no primeiro confinamento. Por um lado, devido à "exposição da própria equipa" numa altura em que não se sabia tanta coisa do vírus. Mas também porque não queriam que a sua presença "fomentasse, de alguma forma, a presença das mulheres na rua quando tínhamos todos a obrigatoriedade de recolhimento", afiança Carla Fernandes.

Entretanto, as equipas de rua foram retomadas, porque constatou-se que "há mulheres que nunca deixaram de estar na rua", mesmo durante os períodos de confinamento mais rígidos, aponta a diretora técnica.

Estas equipas de rua atuam em várias zonas de Lisboa, designadamente Intendente, Martim Moniz, Cais do Sodré, Restelo, Artilharia, Parque Eduardo Sétimo, Técnico e Monsanto.

Irmas Oblatas Equipa de rua

Atendimentos presenciais com agendamentos prévios

Outra coisa que mudou com a pandemia foi o facto de os encontros presenciais no Centro de Acolhimento e Orientação A Mulher das Irmãs Oblatas (CAOMIO), terem passado a ser agendados previamente, o que veio a revelar-se "muito positivo", como nota Carla Fernandes.

"As mulheres passaram a valorizar mais os atendimentos, no sentido de não faltarem tanto" por serem mais "espaçados" e mais limitados. Portanto, passaram a pensar "se falto hoje, não sei quando vai haver o próximo", constata a responsável da Obra Social.

Portanto, os agendamentos acabaram por ser "uma mais-valia para todos", com maior "organização", o que favorece a prestação de um serviço melhor, acrescenta a diretora técnica, esclarecendo que os agendamentos são feitos com "uma diferença horária para que as mulheres não se cruzem no centro".

Neste momento, o CAOMIO só funciona com agendamento prévio, prestando apoio social e psicológico, apoio ao emprego e também apoio jurídico uma vez por mês. Neste âmbito, surgem "muitas situações de despejo", destaca Carla Fernandes.

Além de distribuírem preservativos e facultarem informação sobre saúde sexual e métodos contracetivos, as Irmãs Oblatas também fazem o encaminhamento para outras associações de quem queira fazer rastreios do cancro do colo do útero e de Infeções Sexualmente Transmissíveis.

Irmas Oblatas Instalacoes 2

"Transistórias Lisboa" para criar "rede de artesãos"

A Obra Social tem um "acordo de cooperação" com a Segurança Social e um "apoio específico" da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, que abrange algumas das áreas onde as equipas de rua das Irmãs Oblatas atuam.

Mas a congregação também é apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa “desde o primeiro dia”, como nota Carla Fernandes, elogiando o "contacto próximo" permanente com os responsáveis da autarquia.

A Câmara sempre se preocupou em "averiguar quais eram as necessidades da instituição, que respostas é que as mulheres estavam a pedir e de que forma é que podiam apoiar", sustenta a responsável.

"Deram apoio a nível de géneros ou criaram forma de encontrar esses géneros" e fomentaram a "mobilização de outros coletivos que poderiam apoiar as Irmãs Oblatas, nomeadamente através de doações", exemplifica Carla Fernandes.

Esse apoio continua até hoje, por exemplo, com "doações de gel desinfetante e máscaras", acrescenta.

“Em momento nenhum nos sentimos sozinhos" numa situação tão complexa, nova e imprevisível como a destes tempos de pandemia em que "parece que toda a gente desapareceu", constata ainda a diretora técnica.

A Obra Social também recebe fundos da autarquia no âmbito do programa BipZip que é destinado aos chamados Bairros de Intervenção Prioritária, com vista a melhorar a vida das pessoas em áreas mais desfavorecidas.

As Irmãs Oblatas concorreram ao BipZip com o projeto "Transistórias Lisboa", numa parceria com a Fundação Agha Khan e com a Inovinter - Centro de Formação e de Inovação Tecnológica.

O objetivo desta iniciativa é apoiar pessoas que "tenham gosto pela costura", sejam elas mulheres que fazem Trabalho Sexual ou não, bem como migrantes e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Irmas Oblatas Transistorias

O "Transistórias Lisboa" pretende "criar uma rede de artesãos" e "um site de vendas" para conseguir fomentar "fontes de geração de rendimentos" num contexto pós-pandemia, como explica Carla Fernandes ao X.

Portanto, o objetivo é ajudar pessoas que "queiram investir no seu produto para posterior venda".

Neste âmbito da formação, as Irmãs Oblatas têm duas vertentes, uma que aborda "questões mais emocionais e pessoais" e outra mais de "empregabilidade" para grupos de mulheres que estejam "à procura de trabalho".

Além disso, também apoiam as mulheres que manifestem a vontade de deixar a atividade sexual, fazendo um "acompanhamento" que passa por avaliar o "perfil" de cada uma, ajudar a fazer currículos, delinear "um projeto" e ver "quais as ofertas disponíveis", bem como o que cada uma pretende.

Promover o empoderamento das mulheres

A advocacia social é outra das componentes de intervenção das Irmãs Oblatas, com o intuito de promover o empoderamento das trabalhadoras do sexo. "Gostaríamos que elas se unissem em prol dos seus direitos e deveres enquanto coletivo, mas não é fácil", salienta Carla Fernandes.

A diretora técnica aponta esse "grande desejo" da instituição, notando contudo que, entre as próprias trabalhadoras do sexo, "há opiniões muito divergentes", pois "umas consideram que fazem um trabalho, outras não consideram de todo" e "nunca irão considerar que aquilo que fazem é um trabalho".

De qualquer modo, Carla Fernandes realça a importância de continuar a promover "debates" em torno deste assunto, até para lutar contra "a discriminação e o estigma associado a estas mulheres".

Contactos da Obra Social das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor

Morada: Rua Antero de Quental, 6A, 1150-043 Lisboa

Horário: 2ª a 5ªfeira: 09h-13h / 14h-18h - 6ªFeira: 9h-14h (Agendamento Prévio)

Telefones: 961 793 225 / 218 880 192

Email: centrocaomio@sapo.pt

Instagram: https://www.instagram.com/oblatasportugal/

Facebook https://www.facebook.com/oblatasportugal

Site: https://www.oblatasportugal.pt/

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Especial Associações - Anda conhecer melhor quem apoia trabalhadorxs do sexo:

Abraço Aveiro

APF Alentejo

Associação Existências

Autoestima

CAD Porto

GAT Almada / GAT Setúbal

Liga Portuguesa Contra a SIDA

Plano AproXima

Porto G

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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