09 février, 2023 O crime da viúva Amaro - Parte 2
(A segunda parte desta tragicomédia de costumes em dois actos episódicos e libidinosamente sugestivos).
PARTE 2
Poucas vezes na vida somos apanhados em situações tão confrangedoras.
Joaquina, com a camisa de dormir aberta, revelando à transparência uma alça do soutien caída e um seio, redondo e volumoso, absurdamente exposto, nunca tinha sentido tamanho vexame. Segurava a porta, sem saber se a abria ou fechava, exibindo a Jaime, seu jovem vizinho que a olhava nervoso e hipnotizado, a pintelheira nua e as cuecas metidas numa só perna, dependuradas no joelho.
Para além do mais, encontrava-se coberta, de alto a baixo, de líquidos íntimos, uma grande extensão da pele a tresandar a sexo… Se houvesse um buraco à vista, que não fosse um dos orifícios humedecidos do seu próprio corpo a descoberto, tinha-se enfiado lá com certeza.
E agora o rapaz, que se via estar profundamente nervoso mas também entusiasticamente agitado, com olhos lúbricos, pedia-lhe para entrar...
Talvez não o tivesse permitido se ele próprio não tomasse a iniciativa de avançar, perante a indecisão dela, que recuou sem resistência. Foi ele quem acabou por fechar a porta, ocultando ao mundo exterior o que depois se passou lá dentro...
Jaime não conseguia tirar os olhos dela. Aos 62 anos, dir-se-ia que o corpo de Joaquina Amaro não acompanhara a decadência natural do espírito. A sua pele permanecia clara e lisa, sem rugas, sem peles, sem rachaduras.
Era larga de ossos e abundava de carnes, logo nas zonas mais apelativas, nas mamas cheias, no rabo farto, ambos os pares muito redondos e sinuosos. Era ainda bonita de cara, com as bochechas rosadas e os olhos vivos, que pareciam reter juventudes dentro, talvez mesmo infâncias.
Mas era a imagem no todo, o desmazelo sensual dela, que inebriava o rapaz. Estar diante duma fêmea assim, exposta, descomposta, imensa de pormenores luxuriantes, uma mama dentro, outra fora, as cuecas desamparadas, a pintelheira à vista, tudo o resto visível à transparência… Era o sonho de qualquer jovem viril. Jaime achou-a linda, irresistível, fascinante. E soube que a queria, que tinha que a ter!
Avançou lento, com um sorriso carinhoso, se bem nervoso, e acariciou-lhe o rosto com a mão. Joaquina olhou-o nos olhos e, ainda tímida, devolveu-lhe o sorriso. Então, ele baixou a mão e pousou-a no seio liberto, sem nunca deixar de a olhar, à procura do seu consentimento.
Ela nada disse e Jaime apertou, com a mão cheia, sentindo a volúpia a escapar-se-lhe entre os dedos, e depois, com o polegar, acariciou-lhe o mamilo rosa, que cresceu de imediato, respondendo à mansidão do toque, à sugestão da carícia.
Não era um contacto bruto, era um encontro romântico... E qualquer coisa então se transfigurou no destino encomendado de ambos, quando a atitude de Joaquina mudou... Ela própria, com a mão sobre a mão dele, o obrigou a comprimir-lhe o seio, a apertá-lo mais.
Com a mão livre, procurou a outra mão dele e levou-lha ao rabo, deixando-a lá a massajar-lhe as nádegas, a perscrutar-lhe o vale que as separava.
Ele sentiu-lhe os canais ainda húmidos da masturbação e, meio sem querer, meio espontâneo, deixou deslizar o dedo para o primeiro coito que encontrou. Quis a geografia dos corpos que a primeira ranhura que encontrasse fosse a do ânus, onde enterrou o indicador até à última falange.
Joaquina deu um pequeno gemido, aquela zona fora sempre proibida, mas não fez nada para parar a intrusão. Pelo contrário, num acto de tesão inaudita procurou ela mesma entrada pelo fundo das calças dele, desembaraçou-se dos boxers que encontrou pelo caminho e enfiou-lhe, também ela, um dedinho maroto...
Foi a vez de ele gemer mas, como ela, não fez nada para interromper o fluxo luxurioso que fervilhava em ambos.
Exploraram-se assim retrospectivamente, enfiando e desenfiando dedos ao ritmo dos delírios, enquanto Jaime lhe espremia as mamas e ela lhe mordiscava o mamilo.
Os dois tinham os mamilos espetados. Tão perto estavam e tão abandonados ao momento que, inevitavelmente, começaram a beijar-se, as línguas a serpentear nas bocas um do outro, mordiscando aqui e ali os respectivos lábios, lambendo-se mesmo nas bochechas, no nariz, nos olhos...
Joaquina agarrou na mão traseira de Jaime e conduziu-lha ao outro lado, deixou-lha no meio das pernas sem lhe explicar para quê. Não precisava. Ele começou logo a masturbá-la, e ela começou logo a gemer.
Já não faziam nada para esconder os gritos sonantes do desejo, mais não fosse porque os únicos que poderiam ouvir, na casa ao lado, eram os mesmos que estavam ali. As únicas testemunhas do seu acto libertário eram eles próprios, os dois actores do drama, que por isso nada tinham a esconder, nada a ocultar. Não havia ninguém para os condenar pelo que quer que fosse.
Jaime masturbou-a enfaticamente, afirmativamente, não demorando que Joaquina começasse de novo a desaguar. Veio-se nas mãos dele e a ele se segurou, já com as duas mãos à volta do seu pescoço, para o impacto do orgasmo não a atirar por terra...
Mas nela se ajoelhou voluntariamente logo a seguir, pois estava ainda eléctrica demais para ficar por ali. Baixou as calças ao rapaz e observou, pela primeira vez em 15 anos, a figura erecta, ansiosa, voraz, de um pénis orgulhoso, um falo masculino puro e duro, todo melado, negro e roxo a pingar da cabeça…
Só uma vez fizera aquilo com João Gastão. Engasgara-se de tal maneira que o marido, sempre zeloso pelo seu bem-estar, nunca mais a procurou para tal. Mas agora, ao ver aquele membro babado, enorme, tão escuro, a pulsar tão perto dos olhos, o cheiro intenso e embriagante, não teve dúvidas, agarrou nele para o pôr a jeito e meteu-o todo dentro da boca!
Como o chupou e lambeu fez parecer a Jaime que iria logo ejacular. Como se aguentou ainda está para saber, só sabia que tinha que o fazer, devia prolongar o mais possível o momento, nem sabia se alguma vez o poderia repetir…
Então pensou noutra coisa, na greve dos professores, no telescópio James Webb, na conta bancária do Ronaldo, nas dissonantes do Charles Mingus, na melhor cor para o tapete da casa de banho... Isto enquanto ela o chupava, sorvia, mamava, como se lhe quisesse sugar as entranhas…
Isso sim, em nenhum momento deixou de lhe apalpar as mamas. Aquelas mamas tiravam-no do sério!
Teve que recuar, só um passo, doutra forma enchia-lhe já a boca. Mas só parou para avançar de novo, primeiro ajudando-a a levantar-se e depois empurrando-a para a primeira peça de mobiliário que lhe parecia dar garantias de estabilidade e segurança. No caso, o mesmíssimo sofá onde Joaquina, apenas há minutos, se masturbara.
Jaime sentou-a aí, levantando-lhe as pernas, e caiu-lhe em cima, introduzindo facilmente o membro na abertura escancarada.
Apesar da idade e estrutura física, Joaquina mantinha-se apertada por dentro. Era uma condição médica. O médico que a examinara descrevera-a como curta e apertada, perguntando até, à época, sobre a virilidade do marido, uma vez que antecipava que alguns tipos de pénis, se demasiado grossos, não conseguissem penetrar ali. Ela disse que sobre isso não haveria problemas, confirmando que até aí João Gastão fora o homem ideal para ela.
Também não havia problemas agora, já que Jaime, à margem dos estereótipos, apresentava-se de envergadura regular, apenas comprido o bastante, só menos grosso que o suficiente. O destino, quando se apresenta, raramente falha compatibilidades... Os dois sexos ajustavam-se perfeitamente.
Enquanto ele fazia movimentos basculantes entre as pernas dela, e ela guinchava languidamente debaixo dele, o dardo regular de Jaime entrava todo e saía por inteiro, em toda a extensão de ambos.
Ele era um nada mais comprido que João Gastão e uma unha mais grossa que o falecido. Ao encaixar o falo ébano de Jaime, Joaquina devia estar muito perto do seu limite.
Gemia como uma noiva na noite de núpcias, se bem que, no seu caso, não se tivesse entregado nesse dia como se dava agora a este homem fortuito. Naquele dia estava desconfiada. Hoje via-se libertada.
Ele preenchia-a e penetrava-a com energia e, uma vez que tinha estabilizado o ritmo, que de início era frenético e descompassado mas agora se desenrolava como um swing, deixava-se ir no prazer que ele lhe dava. Certo como um metrónomo, cadente como um maratonista, como se pudessem ficar assim para sempre, Joaquina faria desse momento um novo lugar de conforto para a vida, para onde muitas vezes a sua mente divergia.
Sentou-se depois em cima dele, precisava de arquear as ancas à vontade e dava-lhe mais margem para ele lhe explorar os seios. Acabou a vir-se assim, novamente, entrando em espasmos e uivando como um bicho subitamente libertado… Um grito de acordar a vizinhança não fossem eles próprios os vizinhos...
Mais uma vez, explodiu-lhe a vulva em jactos oceânicos.
Também esta liquidez não a chegara a partilhar com o finado. Era como se, de repente, num dia igual a todos os outros e só por uma pitada de inocente nostalgia, tivesse nascido uma nova mulher de dentro dela, saída do seu próprio corpo, de racha aberta para um novo mundo…
Aos 62 anos, escorria agora como nunca tinha escorrido, e o cheiro, meu deus, o cheiro, ambrósia dos deuses da luxúria, enchia a sala enquanto Jaime continuava a bater na mesma tecla, ansioso por descarregar, cada vez mais forte, até sentir chegar, também ele, a torrente que anunciava o seu dilúvio…
Num acto de iluminação momentânea, mas igualmente poética, tirou-se dela, olhou-a desconjuntada como um frango, de pernas abertas descaídas e cansadas, a pintelheira cheia de grumos líquidos, os lábios abertos, as mamas tesas, os olhos enviesados, a boca cheia de gemidos…
Nem precisou de se tocar, desatou a jorrar semente viscosa para cima dela, para as pernas, para os braços, para a vulva, para a barriga, para a boca, para os olhos…
Tudo isto, claro está, novidade para Joaquina, embora também neste último particular, da ejaculação extensiva, fosse novo para Jaime, que nunca o tinha feito com outra mulher.
Depois de um envolvimento desenfreado como estes, podia antecipar-se, talvez, um momento de constrangimento entre os intervenientes. Passando a tempestade, a loucura, remanescem os despojos da vida real e sana. Mas nada disso se passou entre Joaquina e Jaime.
Ela começou a rir, primeiro aos meios risos, depois quase às gargalhadas. E ele riu com ela, embora menos, porque ainda o dominava sobretudo a tensão sexual, o seu corpo permanecia preso, como se precisasse de explodir mais.
Joaquina levantou-se, limpou a boca e despiu os restos da roupa que ainda trazia pendurada. Num acto mecânico, ajeitou as almofadas do sofá e regou a planta da mesa com o resto dum copo de água, que depois levou para a cozinha.
Sentia-se completamente à vontade a passear-se nua à frente de Jaime. Aliás, apetecia-lhe fazê-lo. E em seguida, fez mais uma coisa que nunca tinha feito: levou um homem para a cama!
Pegou-lhe na mão, conduziu-o ao quarto, deitou-o, despiu-o, porque ainda tinha as calças em baixo, cheirou-o, lambeu-lhe as miudezas, beijou-o na boca…
Depois foi à casa de banho, fez cocó, lavou bem a cavidade e voltou para a cama.
– Queres descansar um bocadinho? – perguntou, afagando-lhe o pénis, que respondeu nervosamente, como um potro recém-nascido tentando levantar-se.
– Nem por isso…
Joaquina virou-lhe então as costas, e meneou as ancas como uma universitária atrevida.
– Metes-me no rabinho? Nunca fiz… E depois, quando estiveres quase, vens-te na minha boquinha, queres? Se não te apetecer hoje, podemos fazer amanhã…
O crime da viúva Amaro - Parte 1
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com