13 Febrero, 2024 Par a Par do GAT ajuda a "quebrar gelo" e dá "confiança" a quem precisa de apoio
Serviço confidencial e gratuito ajuda trabalhadorxs do sexo, migrantes e sem-abrigo.
O serviço Par a Par é uma das valências do GAT - Grupo de Ativistas em Tratamento que procura aproximar comunidades vulneráveis, como trabalhadorxs do sexo, migrantes e sem-abrigo, do apoio de que precisam para melhorarem a sua saúde e reduzirem os riscos que enfrentam.
O GAT - Grupo de Ativistas em Tratamento atua desde 2001 no apoio a pessoas afetadas pelo VIH/SIDA, por hepatites virais, tuberculose e outras infeções sexualmente transmissíveis (ISTs), mas também apoia homens que fazem sexo com homens, pessoas que usam drogas, profissionais do sexo, migrantes, pessoas trans, não-binárias ou em situação de sem-abrigo.
A sua principal missão é melhorar as condições de saúde destas pessoas e, logo, a sua qualidade de vida, facilitando o acesso a serviços de prevenção, de rastreio e de tratamento. E é, neste âmbito, que surge o serviço Par a Par como uma forma de aproximar quem mais precisa das respostas que podem ajudar.
O Par a Par, como o nome indica, é constituído por pares, ou seja, por pessoas que pertencem à mesma comunidade e que têm as mesmas vivências dos utentes que procuram o GAT. Esse fator faz toda a diferença na hora de ganhar "a confiança" das pessoas, como explica ao Classificados X
a assistente social Joana Assunção que também é par no GAT.
O que é um par?
Para compreender a importância dos pares numa associação como o GAT, é preciso entender o que é isto de ser par. Trata-se de alguém que pertencendo a determinado grupo social, com interesses partilhados, está num nível de "igualdade" com uma pessoa que procure a instituição a partir dessa relação e da "identificação" gerada.
Isto permite a um par atuar mais proximamente da pessoa, dando-lhe conselhos, informação e disponibilizando-lhe ajuda. Mas também reduz o "estigma interno" que, muitas vezes, afeta estas comunidades que são habitualmente muito vulneráveis.
Portanto, o par faz "a ponte" entre os serviços e a pessoa, facilitando o apoio para as suas necessidades reais, uma vez que ajuda a ultrapassar barreiras que podem ser linguísticas, culturais ou, simplesmente, de falta de confiança.
"Quebrar o gelo e restabelecer a confiança"
Os pares têm "acesso privilegiado aos utentes e aos contextos onde estes vivem" e, por isso, conseguem "chegar mais às pessoas", conta Joana Assunção ao Classificados X
.
"Há grupos que é difícil esperar que venham ter connosco", nota esta profissional, realçando que os pares têm um papel importante para "quebrar o gelo e restabelecer a confiança" das pessoas nos serviços.
Deste modo, o trabalho de um par passa muito por fazer "a ligação" com a assistente social, sobretudo quando as pessoas estão muito "descrentes" quanto aos serviços e ao seu modo de funcionamento.
"O par consegue ter a confiança da pessoa muito mais depressa do que qualquer outro técnico pela identificação", vinca ainda Joana Assunção, apontando que "uma coisa é alguém dizer a uma pessoa que utiliza drogas que tem de pensar na sua vida, de fazer isto e aquilo, outra é um par que, pela sua experiência de vida, pode dar algum conselho".
No GAT, os assistentes sociais e pares trabalham "horizontalmente" e "em conjunto" - "o assistente social não tem mais importância do que o par", sublinha Joana Assunção.
Assim, há uma "complementaridade" entre as partes para tirar partido das competências de cada uma e "trazer as pessoas ao serviço", algo que pode ser mais complicado entre trabalhadorxs do sexo, migrantes e sem-abrigo.
Estas comunidades são o principal público-alvo do serviço Par a Par do GAT que pode "ser solicitado" em qualquer momento, para dar "suporte a todos os serviços", como nota Joana Assunção.
GAT vence Prémio AproXima-te 2023
Acompanhamentos sociais e a consultas
"O par também colabora na intervenção", sublinha a assistente social do GAT, reforçando que os objetivos passam, sobretudo, por garantir o acesso, a adesão e a retenção das pessoas aos cuidados de saúde. A missão maior é melhorar a qualidade de vida e a autonomia dos utentes.
Neste sentido, os pares acompanham as pessoas a consultas, sobretudo a primeiras consultas no caso de pessoas recentemente diagnosticados com VIH ou hepatite C. Ajudam não só com a burocracia para chegar à consulta, mas podem até fornecer o dinheiro para o transporte, caso a pessoa precise.
Além disso, também fazem acompanhamentos sociais, por exemplo, ajudando em idas à Segurança Social, a Juntas de Freguesia para obter documentos ou ainda para pedir habitação social, entre outras situações.
Afinal, "para ligar as pessoas aos cuidados de saúde, muitas vezes é preciso tratar de outras coisas", realça Joana Assunção ao Classificados X
. "Não nos serve de nada a pessoa começar a fazer terapêutica anti-retroviral [contra o VIH] se não tiver o que comer, ou se dormir na rua e não conseguir guardar os medicamentos para fazer essa toma", nota.
Em 2023, a equipa do Par a Par que é constituída por três assistentes sociais e por dois pares fez 508 acompanhamentos, incluindo 289 na área da saúde e 155 para questões sociais.
Fez ainda 1436 atendimentos sociais, com 656 encaminhamentos, nomeadamente 428 na área da saúde e 34 em situações jurídicas.
"Não há reconhecimento do trabalho de pares“
"O GAT tem um grande número de pares nas suas equipas", sejam pessoas com VIH, com hepatite C, pessoas que utilizam drogas, migrantes ou trabalhadorxs do sexo, como reforça Joana Assunção ao Classificados X
.
A instituição "sabe que o trabalho do par é importantíssimo para a missão que quer desenvolver" e que passa muito por melhorar o acesso à saúde, pela redução de riscos e pela minimização de danos, salienta a assistente social.
Em algumas organizações, os pares são vistos "com desconfiança" e existe "alguma confusão" quanto ao seu papel, nota Joana Assunção.
Por outro lado, "não há reconhecimento do trabalho de pares a nível profissional e, portanto, não há legislação que diga qual o valor que têm de receber", o que constitui outra dificuldade para quem exerce esta atividade.
Este "vazio legal no enquadramento do trabalho de par" é um problema que não é exclusivo de Portugal, uma vez que "noutros países acontece o mesmo", refere Joana Assunção.
Certo é que este desenquadramento fragiliza o trabalho dos pares que é de "muita proximidade" com as pessoas que querem ajudar, o que faz com que se misture muito o lado mais pessoal, salienta a assistente social.
Assim, o GAT, e outras entidades que integram pares nas suas equipas, têm sempre de incutir "alguns cuidados", para ensinar "mecanismos" para evitar "fragilizar a intervenção" junto das pessoas que precisam de ajuda.
GAT Almada e GAT Setúbal têm saúde de trabalhadorXs do sexo como prioridade
GAT - Grupo de Ativistas em Tratamento
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)