09 Diciembre, 2021 O patrão e a empregada - Parte III
Um passo em falso...
Essa noite poderia ter sido histórica para nós. Porque devia ter assinalado o dia em que descobrimos que tínhamos a capacidade de nos saciarmos, a ambos e cada um por si, sem precisarmos de mais ninguém! Tudo o que precisávamos para nos satisfazer estava à nossa frente…
Depois dos primeiros contactos entre mim e a minha jovem empregada, a minha perspectiva da vida mudou. Já não me apetecia voltar aos engates de uma noite, àquele sexo cheio de suores frívolos e estranhos a que nos prestamos por necessidade animal. Queria-a a ela e isso parecia bastar-me.
Poderíamos ser só nós, "a família", o sangue, o suor e o sexo, e toda a fidelidade que o amor traz. Quer dizer, não sei se era amor, mas havia certamente uma chama de paixão acesa dentro de nós, uma centelha que brilhava como um potente holofote que nos cegava. A mim pelo menos, porque já não via outra coisa e não pensava em mais nada senão nela, em tê-la nos meus braços, em explorar o seu corpo e deliciar-me no seu prazer. Queria a sua carne. Queria o seu sexo. Queria a sua alma. E queria tudo só para mim!
No entanto, não foi assim que aconteceu...
Nos dias seguintes, comprovando que os sucessivos eventos não estavam ainda completamente digeridos, sobretudo por ela, o clima frio voltou...
Aurora voltou ao esconde-esconde. Mal lhe punha os olhos em cima e, se nos encontrávamos pela casa, uma sombra negra de vergonha e pudor parecia sobrepor-se a tudo o resto, ao solstício de todo os benefícios.
A nossa ansiada explosão sexual, em vez de um passo em frente, parecia ter-nos levado dois passos atrás. E, no entanto, quanto mais ela se escondia mais me apetecia apanhá-la e puxar-lhe as cuecas para baixo!
Confesso que, nessa altura, não lidei nada bem com a situação. De alguma forma o que tínhamos vindo a fazer era uma espécie de cortejamento, tão necessário no início dos rituais de enamoramento.
Mas neste caso era também um jogo de confiança, de avanços e recuos estratégicos, a fim de medir todas as responsabilidades de um assunto que era delicado. Havia certas implicações, que já referi, sobretudo éticas e morais. Por isso, o seu comportamento era perfeitamente natural, assim como as suas reservas, e eu não tinha o direito de lhe pedir mais.
Mas... eu sentia necessidades cada vez mais prementes e uma espécie de insanidade temporária fez-me cometer um erro crasso. Por esses dias eu estava constantemente impaciente, e uma noite não me consegui controlar...
Era um serão normal e estávamos a ver televisão, cada um na sua ponta do sofá, com um grande monte de almofadas pelo meio. Simbolicamente, as almofadas representavam a fronteira divisória dos respectivos territórios. Para além disso, mantinham-nos afastados um do outro e das tentações da proximidade e do toque.
O silêncio era ensurdecedor, apesar do ruído da TV, que Aurora parecia fazer questão de ouvir o mais alto possível. Tudo aquilo me foi irritando cada vez mais.
Até que, do nada, sem sequer notar que o meu cérebro dera ordem para o fazer, saltei-lhe para cima como um gato e meti-lhe a mão em cheio no centro da cona!
Apesar de ser a primeira vez que o fazia na forma tentada, já antes, por diversas vezes, me imaginara a forçá-la. Era tal o meu desespero lúbrico!
Esta era a solução insana, perversa, que a minha mente fabricava com a intenção de a resgatar das inibições que a estavam a impedir, e por consequência a mim, de ser feliz.
Era tudo por uma boa causa, dizia a mim mesmo – mas então já não era eu; o meu corpo, desprovido de autonomia própria, não era mais que o veículo depravado de um ente maligno que me havia possuído!
Sonhava senti-la a debater-se debaixo de mim, com a mesma energia assanhada que demonstrava quando, numa fase anterior à nossa paixão, a mandava fazer qualquer coisa e ela reagia de forma contrariada. Tinha um espírito forte e determinado e era uma das características da sua natureza que mais me seduzia.
Parte da minha fantasia perversa era, pois, forçar a minha empregada rebelde de 25 anos a ter sexo com o patrão; fodê-la sem ela querer até ela querer; sem parar, até ela começar a gemer e, finalmente, se render.
Na minha mente desvairada, tinha a certeza absoluta de que este procedimento era o correcto, que uma vez iniciado o contacto, ainda que de início o julgasse indesejado, ela acabaria por sucumbir a ele, por entregar-se por fim à plenitude do nosso amor. Só era preciso "um pequeno empurrão", dizia eu a mim próprio... Mas sem nunca chegar à coragem de o pôr em prática. Nesse dia pus, para mal dos meus pecados...
Passei completamente das marcas! Ela, claro, rejeitou-me com todas as suas forças. Obviamente, não aceitava ser forçada. Foi uma sorte que o meu bom senso despertasse a tempo de aniquilar aquele ser demoníaco que tomara conta de mim...
Quando lhe tirei os dedos de dentro da vagina e tentei pedir desculpas já era tarde: Aurora tinha-se trancado no quarto!
Quando, instantes depois, lhe bati à porta na tentativa de remediar a situação, ameaçou ir-se embora e voltar para a terra, para a casa da mãe (nunca conheceu o pai, pois este abandonou a família antes de ela nascer).
Percebi que falava a sério e deixei-a em paz. Fui para o quarto dar chicotadas a mim próprio por ter estragado tanto em tão pouco tempo...
Se antes déramos dois passoas atrás, agora tínhamos dado pelo menos dez! E a culpa era toda minha!
Depois de um duche frio, mal tirei o diabo do corpo e recuperei a minha própria identidade, a minha razão e consciência, voltei a saber as coisas que qualquer pessoa normal sabe. Entre elas, que se queria chegar a algum lado nesta ideia de idílio com a minha empregada, não podia precipitar as coisas.
Não cometeria esse erro de novo. O nosso amor, para ser natural, para ser verdadeiro, para não ser proibido, teria forçosamente que nascer da vontade dela, tanto como da minha. E a verdade é que, desde essa tentativa abjecta, o pensamento de a forçar nunca mais me passou pela cabeça.
Talvez, realmente, a amasse, pois não tolerava agora a ideia de lhe provocar qualquer tipo de sofrimento. Felizmente, passado uns dias ela aceitou as minhas desculpas e retomámos assim uma certa normalidade. A minha cabeça voltava a estar no sítio. Infelizmente, outras partes do meu corpo continuavam endiabradas...
Nunca na minha vida experimentara tamanha necessidade de foder!
Tentem compreender, não era apenas desejo: era uma compulsão, uma obsessão, uma loucura urgente!
Sem ser capaz de o evitar, voltei a sair à noite e a trazer mulheres para casa. Nem sequer escolhia. Cheguei a levar profissionais de fim de noite, as que sobravam da ementa da madrugada por ninguém lhes ter pegado. Tinha sempre o seu quê de deprimente, decadente, mas ao mesmo tempo despertavam em mim uma animalidade obscena que me fazia esporrar como um doido varrido!
Fazia-o, como disse, pelas necessidades indicadas, mas também para fazer ciúmes a Aurora. Nessa altura, entre nós, tudo era "jogo". Quando levava alguém para o quarto, deixava propositadamente a porta entreaberta porque sabia que a minha empregada estaria a vigiar.
Eram sessões épicas de partir camas, de gritos e orgasmos a espirrar pelas paredes. Sempre que uma noite destas acontecia, Aurora não me dirigia a palavra no dia seguinte e, se por acaso nos cruzávamos pela casa, fazia questão de mostrar má cara. Era como se se sentisse contrariada por ter sido deixada de fora. Pelo menos era assim que os meus olhos a viam.
A verdade é que estas indiscrições despoletaram, também nela, a necessidade de organizar estratégias, de "ir a jogo"… Por exemplo, subitamente começou a sentir necessidade de que “a levasse” a sítios. Sítios onde sempre fora sozinha, sem precisar de motorista particular. Agora precisava que eu fosse com ela "por razões".
Das primeiras vezes nada aconteceu, deixei-a onde ela queria, vi o seu belo cu redondo afastar-se do alcance geográfico do meu caralho e, frustrado, fui à minha vida.
Mas um dia, passados apenas alguns minutos de estarmos no carro, pôs a mão entre as minhas pernas e começou a massajar-me sobre as calças. Não passou disso mas eu recebi o advento com esperança e ilusão: um pequeno passo para o homem, um passo gigante para a relação!
A cena repetiu-se algumas vezes, para meu grande prazer. Umas vezes ela fazia-me a mim, outras abria as pernas e levava lá a minha mão, para a fazer a ela. Sempre por cima das roupas e sem nunca chegarmos ao final.
De forma que, a pouco e pouco, o que antes parecia maravilhoso se tornou uma nova tortura!
O que fazia tudo ainda mais desesperante era o facto de, em certas viagens, não acontecer absolutamente nada! Ou seja, eu nunca sabia quando ela o ia fazer, o que me deixava na permanente expectativa de que o fizesse! Era de loucos, um jogo de tântalo... Mal conseguia pensar noutra coisa!
Entendi então que tinha de mudar a dinâmica daquela rotina. Ainda não sabia como, mas tinha de o fazer antes que fosse tarde demais.
Armei-me de paciência e esperei pelo momento certo. Então, quando uma tarde ela me pediu que a deixasse no centro comercial e, pelo caminho, voltou a meter a mão sobre o volume das minhas calças, que nunca abria, tantalizando-me apenas pelo exterior, sem nunca contactar com a minha pele, agarrei-lhe o pulso e, com um mero olhar, fi-la perceber que não o ia soltar. Não sem que antes ela completasse a empreitada que tinha em mãos!
Sem lhe largar o braço, abri a braguilha e puxei o nabo para fora. Estava tão teso que acho que a assustei. Mas não era altura para recuar. Fi-la agarrar nele, apertando a sua mão debaixo da minha, para que tirasse bem a medida à força que eu desejava, e conduzi-a três vezes para cima e três vezes para baixo.
– Faz tu agora.
Ela percebeu imediatamente no meu tom de voz que não era apenas um pedido...
Não foi como da outra vez. Da outra vez, quando nos masturbámos mutuamente depois da sessão de cinema, foi uma coisa do momento, que inclusivamente a fez arrepender-se a seguir. Agora era a frio, calculado, organizado. Mas sobretudo, era uma forma de acabar com aquele suplício e dar um passo em frente, mas um que fosse definitivo, do qual não houvesse volta a dar!
– Tira as cuecas e esfrega a cona – voltei a ordenar...
Nessa tarde fez tudo o que eu lhe disse para fazer.
Este foi, para mim, o momento capital da nossa relação. Porque me fez descobrir o ingrediente que faltava para que pudéssemos consumar o nosso amor sem barreiras...
Aurora reagiu positivamente à minha voz de comando. Não se escondeu, não fugiu, não protestou. Bateu-me uma punheta porque eu disse. Masturbou-se à minha frente porque eu disse.
Finalmente, venceu a relutância e abocanhou-me o caralho, e lambeu-o, e chupou-o até eu me vir dentro da sua boca, porque eu disse! Não por se sentir obrigada, mas porque eu lhe pedi para fazer algo que, no íntimo, ela também desejava...
O segredo era, portanto, não impor-lhe os meus desejos egoístas, mas ir ao encontro dos seus próprios desejos. E a via para o fazer fora descoberta: autoridade!
Ela contava – precisava – que eu lhe dissesse o que fazer – o que tinha de ser feito! Esse era o nosso "jogo", essas eram as nossas regras!
Era preciso ter sensibilidade, sim. Aprender a lê-la e saber descortinar os momentos. Mas o novo ingrediente, a nova palavra-chave era definitivamente essa: "autoridade".
Com ela, iríamos por fim desbloquear o preconceito que nos impedia de ser felizes. Poderia agora ser o homem que Aurora precisava, a figura de autoridade que nunca teve. E isso, meus amigos, abria todo um novo capítulo à nossa história...
Armando Sarilhos
O patrão e a empregada - Parte IV
O patrão e a empregada - Parte I
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com