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06 October, 2022 Carta de Despedida

Meu querido amante, companheiro, amigo – inimigo...:

Acho que consegues adivinhar a razão desta carta e porque a mesma se encontra manchada pelo sal das minhas lágrimas – e outras nódoas, de outros fluídos, que correm em mim em simultâneo, como tu bem sabes, porque me conheces bem e sabes que nunca consigo separar o emocional do animal.

Carta de Despedida

Sim, é isso mesmo, é o fim, vou-me embora, acabou. Não posso mais. Tudo é demais…

Tudo foi sempre demais e penso agora porque razão demorei tanto a entendê-lo. Não pode ser uma surpresa para ti, como foi para mim. Sempre fomos diferentes, é verdade, mas apesar disso, iguais em tantas coisas...

Lembras-te de quando nos conhecemos? Ainda não tínhamos trocado três frases e já tinhas elogiado as minhas mamas, tão grandes, tão sugestivas, tão “presas”… À cara podre disseste que adorarias libertá-las e “chafurdar” nelas, foi a palavra que usaste -, não podias ter sido mais porco -, e como se isso fosse pouco, ainda me perguntaste do nada, à queima roupa, se queria foder contigo. Ia tendo um ataque...

Carta de despedida 1

Logo aí pareceu-me demais e quis sair dali, afastar-me de ti. Usei o pretexto de ir buscar uma bebida mas insististe em ir comigo, apesar de teres o copo ainda meio cheio. Contigo o copo estava sempre meio cheio.

Logo aí acusei a pressão e no caminho quase caí, teria caído mesmo se não me tivesses agarrado. Sim, provavelmente foi aí que me agarraste. Aproveitaste o momento e beijaste-me, ou seja, aproveitaste-te da minha fraqueza e roubaste-me um beijo. Fiquei abananada.

Não me largaste a noite toda. Ouviste-me, preocupaste-te, seduziste-me. De tal maneira que concedi quando quiseste voltar a beijar-me e puseste a mão no meu rabo. Mas claro que, sendo tu, não poderias apalpar-me o rabo como um tipo normal. Não, tiveste que meter a mão dentro das minhas calças, depois das minhas cuecas, e só paraste quando me enfiaste um dedo no cu!

Carta de despedida 2

Não nos conhecíamos de lado nenhum, nunca ninguém me tinha feito aquilo. Tu disseste que não querias que eu te esquecesse...

Mesmo admitindo que as tuas conversas de merda me tivessem excitado um bocadinho, me tivessem humedecido ligeiramente por baixo, não era com certeza naquele acesso. O meu cu estava seco e doeu quando me meteste o dedo, mas também, confesso, tinhas razão, depois disso nunca mais te consegui esquecer...

Andei o resto da noite – o resto da minha vida – a fugir de ti, e tu a perseguires-me, lembras-te? Finalmente cedi, mais por cansaço que por tesão, deixei que me levasses para trás duma árvore e me chupasses as mamas.

Permiti que as tuas mãos me investigassem o corpo todo, sítios onde eu própria tinha pudor de ir. Até que por fim deixei que me virasses ao contrário e me baixasses a guarda, as calças e as cuecas, me afastasses as nádegas como um talhante e me espetasses o pau dentro do rabo.

Carta de despedida 3

Nunca o tinha feito com ninguém.

E mesmo que já não estivesse tão seco, porque o tinhas enchido de baba com os dedos e com a língua (sim, foste o primeiro homem que me lambeu o rabo), doeu de uma maneira que também nunca mais consegui esquecer.

Lembras-te?

Diz-me que te lembras, diz-me que eu não estou a imaginar coisas. Diz-me que te lembras do dia em que nos conhecemos e me enrabaste logo...

Deves lembrar, porque desde então e durante os últimos seis anos, fizeste-me o mesmo todos os dias. De tal forma que a dor, que de início vinha sempre incluída no pacote (trocadilho à parte), deixou de existir, foi assim que tu me abriste às “coisas” do mundo…

Carta de despedida 4

Recordas, na manhã seguinte dessa primeira noite, na tua casa, quando percebeste como eu era tímida e púdica, de todas as diabruras que fizeste para me escandalizar?!

Logo ao acordar, mal abri os olhos, tinha o teu caralho à frente da minha cara, a tocar no meu nariz, enorme, não porque fosse assim tão grande mas porque estava tão perto dos meus olhos que parecia um canhão prestes a disparar.

Não disparou logo, só depois, quando mo puseste dentro da boca e seguraste a minha cabeça, e começaste a metê-lo e a tirá-lo com força, com pressa, até jorrar em cima da minha língua, dentro da boca, enchendo-me a garganta.

Carta de despedida 5

Tossi a tua esporra por todos os lados, o grosso da meita acabou em cima das minhas mamas e tu lambeste tudo. E não paraste, depois de me lavares a pele com a língua continuaste para baixo, levantaste-me uma perna deixando-me completamente exposta, como nunca tinha estado com homem nenhum, e enfiaste a cabeça no meu triângulo até o babares todo, até me fazeres babar toda...

Lembras-te que eu queria sair da cama, apertada para fazer xixi, e não me deixaste levantar até me fazeres vir seis vezes, só com a língua e com os dedos?! Foi quase uma hora de tortura, de êxtase, de loucura!

Carta de despedida 6

O último orgasmo foi tão intenso, tão irreal, que até o meu corpo se baralhou e acabei a mijar-me toda na cama, de repuxo, sem me conseguir controlar, para cima dos lençóis e de mim, e de ti…

Carta de despedida 7

E tu, que não te vinhas desde o broche ao despertar, mesmo assim foste atrás de mim para a cozinha, a escorrer urina, empurraste-me e manietaste-me até eu não conseguir escapar, abriste-me as pernas à bruta e meteste-me o pau na cona, e fodeste-me durante meia hora contra a bancada.

Lembro-me que já não sabia como havia de estar, sentia a racha dormente, mas tu sempre a dar a dar, até que te esporraste dentro de mim e o pão saltou da torradeira antes mesmo de estar torrado...

Carta de despedida 8

Puseste-me de joelhos, nesse dia. De joelhos e com a cona a escorrer litros de esporra e mel.

Passámos o resto do dia na cama, lembras-te?, porque eu mal conseguia mexer os quadris, as pernas, o espírito… Nunca tinha estado com um homem que me tratasse tão despudoradamente como um objecto, como uma escrava dos seus desejos e caprichos...

Mas a verdade é que depois eras um querido, preocupavas-te, ouvias-me, nunca paravas de me seduzir. Na altura não percebia, só percebi depois, que essa maneira de me amaciar, de me fazer sentir segura, de me conquistar, era apenas o período de descanso de que necessitavas para recuperar e poderes dedicar-te a todas as novas judiarias que a tua imaginação produzia tendo o meu corpo impotente como protagonista.

E mesmo sabendo isso, mesmo conhecendo a maneira narcísica como te emprestavas às relações, meu Deus, como te amei!

Amei-te até me pores de joelhos...

Carta de despedida 9

Lembro-me, quando acabou esse fim de semana e finalmente arranjei forças para sair de tua casa, que as minhas pernas tremiam, a minha alma tremia, já não era a mesma mulher, já não era a mesma pessoa.

Como tu próprio, de certa forma, profetizaras, tudo mudara no primeiro instante em que me enfiaste o dedo no cu, acelerando assim a intimidade de dois perfeitos desconhecidos.

Mas só eu, só nós, sabíamos o que realmente se passava.

Quem me via na rua, conhecendo-me ou não, não tinha dúvidas sobre os sinais que eu emanava: era uma mulher rendida a um homem, apaixonada, preenchida!

Mesmo que o dia a dia contigo fosse uma ilusão palpável, impossível de gerir, era sempre surpreendente e isso cativava-me, talvez não de uma maneira saudável, consigo vê-lo agora, mas mais como uma droga. Uma droga que me deixava a carne permanentemente em fogo e para a qual não havia remissão…

Carta de despedida 10

Lutei muito, tu sabes. Lutei como quem tenta expulsar um diabo do corpo...

Lembras-te, quando saíamos com os nossos amigos, como ao início da noite parecia que não me ligavas nenhuma e depois, de repente, me agarravas de surpresa, como se não conseguisses respirar sem mim?

Não me tiravas os olhos de cima, as mãos das mamas, da racha, do cu. Parecias um animal faminto, um sociopata! E eu não encontrava forças para te resistir, sentia-me levada e só quando chegava a destino incerto percebia que eras tu, embora soubesse sempre que eras tu. Quem mais podia ser? Nenhum outro homem se atreveria a tratar assim uma mulher...

Então beijavas-me o pescoço e fuçavas-me os buracos todos com os dedos, era como se tivesses oito braços, muitas vezes fazias-me vir. Depois largavas-me outra vez, como se de novo não me conhecesses de lado nenhum, ou como se eu fosse uma peça de carne que já tinhas amassado, mastigado e já não te interessava.

Carta de despedida 11

Custava-me imenso voltar à mesa, à vida real, toda eu estremecia de frêmitos sexuais, era impossível concentrar-me nas conversas, nas piadas, nos flirts. Toda a gente me perguntava, mas estás bem, e olhavam para ti de soslaio, desconfiados de que me estivesses a fazer mal.

Na verdade, toda a electricidade esquizofrénica que corria pelo meu corpo eram sinapses de felicidade, porque tu deixavas-me louca de tesão e ninguém percebia, não podiam perceber. Jamais compreenderiam como eu adorava que me vilipendiasses com a tua indiferença, com a tua empatia distorcida, como um tarado apaixonado que era capaz de me fazer vir só com um sopro no ouvido, ou no coração.

Carta de despedida 12

Foram o quê, seis anos disto? Seis anos de um prazer inqualificável, intransmissível, cujo impacto e respectiva sobrevivência estariam ao alcance de muito poucos. E como vês, foste tu que finalmente, ironicamente, me ensinaste que posso ser forte. Forte o suficiente para pôr um ponto final. Mais forte do que alguma vez pensei.

Agora toda a gente diz que pareço mais nova, mais feliz, mais segura de mim própria. Toda a gente me adora como eu sou, o meu novo Eu, contigo... Menos eu.

Por isso chega, não quero mais, não aguento. Já te disse que é demais?

“Tu” és demais para mim, nunca pedi tanto!

Portanto, meu amigo, é o fim, acabou tudo.

Não insistas, deixa-me! Adoro-te, amo-te, odeio-te... Peço-te, não voltes, nunca mais, a procurar-me. Vai à tua vida que eu vou à minha!

... Só não chegues tarde, sabes que eu não gosto que chegues tarde.

Até já, meu amor. 

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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