18 Januar, 2021 Cupido - Parte I
“A minha vagina tem sede de sentir um pénis urgentemente”…
O meu nome é Laura. Tenho 28 anos e moro em Vila Nova de Milfontes. Estou por estas bandas à coisa de 8, 9 anos. Vivo sozinha com a peste da minha gata. Uma verdadeira gata assanhada, ao contrário de mim que continuo solteirona ao fim de 3 anos do término da minha última relação. É por isso que toda a gente com quem convivo anda ultimamente a tentar fazer o cupido “flechar-me”...
Devem ter medo que acabe tia. Confesso que pelas experiências pelas quais tenho passado após essa relação, até eu temo ficar para tia. Não me tira o sono, mas preocupa-me um pouco. Ou ando a lançar o charme de forma errada ou então não é de todo o meu tempo certo.
Nestas idas e vindas de pessoas que tenho conhecido têm ficado situações pendentes e assuntos por resolver, coisas por dizer. Independentemente das coisas não darem certo, não faz parte de mim ficar mal com as pessoas ou permitir-lhes, se for esse o caso, que façam tola, coisa que realmente eu não sou. Tenho inteligência de sobra e que inclusive poderia embrulhar numa caixinha e oferecer pelo Natal a alguns meninos, mas enfim.
Estava eu a dizer que poderei ser eu que não lanço o charme da forma mais adequada. É uma possibilidade. Então no auge da minha sanidade mental decidi jurar, depois da minha última desilusão ao conhecer alguém, que a próxima pessoa com quem me envolvesse sexualmente apenas seria a pessoa com quem eu me viesse a casar e ter filhos. E claro que para perceber essa real vontade da outra parte ainda prometi que só haveria algum tipo de contacto ao final de quinze encontros.
Eu juro. Já se passaram seis meses depois dessa promessa e eu já ando a subir as paredes! De verdade! Sinto muita, muita vontade de fazer sexo. Está na minha natureza, está no meu sangue quente o prazer de fazer muito sexo e logo eu fui fazer uma promessa destas. Nem as minhas amigas acreditaram que eu fosse capaz. Todas elas disseram “Sim, sim, claro. Daqui a uma semana tens alguém lá em casa!”, e não é que lhes calei a boca. Não sei se me orgulho disso, ou não, mas o intuito disso foi focar-me num caminho mais certo e não deixar que o sexo não me permitisse olhar e ser vista de uma forma mais básica.
Anseio que os homens me olhem como um ser humano que tem desejos e prazer sim, mas que também tem sentimentos, de verdade, coisa que quando tento demonstrar um pouco mais de mim parece que deixa os homens chocados. Na altura que fiz esta promessa isto pareceu-me coerente, mas agora só me apetece desbravar.
Já desfiz esta promessa verbalmente tantas e tantas vezes, já marquei encontros com pessoas com quem já estive, mas à última da hora acabo sempre por arranjar uma desculpa para desmarcar.
Parece estúpido da minha parte e eu sei, eu oiço dentro de mim, a minha vontade berra cá dentro, a minha vagina tem sede de sentir um pénis urgentemente, o meu corpo já dói de tanta ausência de pele, de toque. Saudades de sentir aquele cheiro de testosterona a roçar por entre as minhas pernas e o meu pescoço, mas parece que se tornou uma questão de dignidade, tipo: “Não! Se aguentaste até aqui, agora não vais desistir!”
Tenho-me safado sozinha, por enquanto. Vamos ver até quando é que isto dura. Talvez por isso ande com este humor tão desequilibrado. Ora estou bem, ora só me apetece partir tudo à minha volta e mandar toda a gente à fava.
É muita tensão acumulada. Não me julguem.
Eu sei que a minha vontade de encontrar alguém à minha altura e que mereça vai falar mais alto, eu vou esperar a hora certa para agir quando tiver que agir. Não me rotulem como arrogante por dizer isto, mas dadas as minhas últimas experiências, portanto, baseada em factos reais, eu realmente mereço alguém à minha altura. Alguém disposto a dar e que saiba receber que queira vir e saiba estar, que faça questão e não só porque eu pedi.
No fundo só quero alguém que queira estar e que esteja realmente bem resolvido consigo próprio, que saiba o que quer para si mesmo, sabendo que o futuro é uma incógnita e que não tenha medo de o desbravar com outra guerreira do seu lado. Alguém que esteja disposto a partilhar e a acrescentar, porque para andar para trás e resolver problemas dos outros não! Para isso tomo conta da minha vida e da minha gata borralheira, que no fundo somos as duas e isso já me dá conta do juízo o quanto baste!
Mas a verdade é que todo este blá, blá, blá que para aqui vos descrevi e tentei explicar, que faça sentido e seja coerente, há muita gente que vê de uma outra forma.
Muitos acham que estou agarrada às feridas do passado e que deixo muitas vezes escapar pessoas e oportunidades para me desprender de tal. É verdade e assumo que o possa fazer, mas apenas como consequência das coisas que vivi. Não quero agarrar qualquer coisa que apareça e que seja visualmente interessante.
As minhas colegas de trabalho, principalmente essas, personagens com quem lido dez horas por dia, seis dias por semana, passam o tempo todo a tentar arranjar-me engates.
- Olha lá este. Olha lá aquele.
Passa, principalmente a Cátia, o tempo todo a dizer-me isto e ainda acha que no fundo sou eu que sou a culpada por estar sozinha porque, diz ela:
“Colocas defeitos em todos e nem dás uma oportunidade de te dares a conhecer e conhecê-los!”
É mais forte que eu. Existe sempre algo que eu vejo na forma como a pessoa age e se comporta que me faz lembrar alguém, já para não falar quando descubro que afinal o rapazinho tem namorada. Isso então ainda me faz descredibilizar ainda mais a “classe do mangalho” e faz-me acreditar que realmente eles só servem para sexo mesmo, para relações o mais básicas possíveis, onde não tens que puxar muito por eles intelectualmente, só mesmo pelo cabedal.
E quando não encontro defeito algum nasce dentro de mim um receio de me envolver que me faz ir buscar memórias antigas que me relembram o quanto é difícil te relacionares com alguém. Ou seja, realmente tenho que dar a mão à palmatória. Está difícil mudar a minha situação, mas também não está fácil lidar com as mágoas e pensar que nem toda a gente é igual, ainda que também diga que não estou de costas viradas para essa possibilidade, apenas estou mais seletiva, porque quero ter a certeza de que quando deixar alguém entrar na minha bolha é porque realmente vai valer a pena.
Esta é uma luta diária que tenho com as minhas colegas e eis que recentemente tem aparecido por lá um cliente novo.
Macacos me mordam em como eu já sabia que ia criar zum-zum.
- Laura já reparaste naquele rapazinho ali?
Rio-me.
- Já sim, porquê? – responde-lhe.
- Giro, não?
Rio-me.
- Como é que eu já sabia que as inventar mais uma! És tão previsível Cátia.
- Está mas é caladinha e vai lá atendê-lo que eu já percebi que ele está a por-te o olho em cima.
- As coisas que tu já viste em dois minutos que o rapaz chegou!- respondo-lhe.
- Ele tem cá vindo, como já deves ter percebido e já tinha reparado nisso. Temos que descobrir mais sobre ele para vocês falarem. Vê lá se te metes com ele também pá !
- Eu?! - fico indignada.
- Não me olhes com essa cara que de santa tens pouco.
- Olha lá sua parva, eu nunca disse que sou santa, graças a deus, senão não te rias tanto comigo como te ris porque estaria pendurada num altar, mas eu sou tímida e nem me venhas com essas merdas porque senão não vou lá.
- Vá Laurazinha fofinha, não digo mais nada. Vai só que eu fico aqui caladinha só a apreciar…
- Cátia…
- Pronto! Já me calei. – ri-se!
Lá fui eu. Quis desta vez ir de espírito mais aberto, sorriso mais aberto e realmente podia ser que achasse o rapaz interessante. Deixei que o meu corpo enviasse para o universo uma mensagem mais positiva esperando que a outra parte estivesse recetiva a receber.
- Olá bom dia! – digo-lhe com um sorriso.
Ele lança um imenso sorriso aberto. Que dentinhos tão bonitinhos, tão branquinhos, tão certinhos. Uma beleza de se ver. Realçavam no meio daquela cor morena da sua pele, naquele cabelo quase negro tal como aqueles olhos tão, tão escuros.
- Deixa-me adivinhar… – digo.
Ele sorri e eu continuo.
- Aquela meia de leite bem forte que na verdade é um abatanado pingado e um pão de sementes com queijo e manteiga. Acertei? – rio-me.
- Em cheio! Como é possível? – responde-me cheio de graça mergulhada em sarcasmo.
- És previsível e ainda por cima achas que tens piada. Está certo!
- Vou preparar o seu pedido.
Percebo realmente que ele segue os meus passos e os meus gestos com o olhar, mas evito mostrar que entendo. Por vezes nem me reconheço. Parece que perdi ou que quero fazer de conta que não tenho malícia ou então tento mudar essa tendência. Talvez isso nunca me tenha feito chegar a bom porto, não sei.
Retorno à mesa.
- Aqui tem o seu pedido, senhor. Espero que esteja do seu agrado, mas também se não estiver fica assim mesmo.
Olho para ele e sorrio-lhe. Ele entende que é uma piada e retribui.
Volto para dentro.
- Então, então? – vem a minha colega à espera de alguma novidade.
- Calma Cátia. Ele só me pediu um pão com manteiga e queijo, não pediu o número de telefone.
- Epá, mas tu também podias chegar-te à frente. És tão adiantada para umas coisas e depois quando deves sê-lo encolhes-te.
Rio-me.
- Tu falas de uma maneira que parece que estás mais ansiosa que eu. Se não gostasses de mulheres e não estivesses casada mandava-te ires lá tu para te sentares à mesa. Calma mulher.
- Pá que estúpida! A Ana que não te oiça a dizer isso.
- É verdade. Tu também não podes contar só comigo. Ele também pode não querer. Pode ser só por piada. Sabes que é possível, certo?
- Sim, eu sei, mas às vezes é na piada que as coisas começam.- responde-me.
- E além disso, - acrescento - ele é demasiado paradinho para o meu gosto. Muito calminho, também não se chega à frente e eu também não vou andar atrás de ninguém, portanto se tinhas ideias de te armares em cupido esquece. Eu também não tenho pachorra.
- Ahhhh! Então quer dizer que se ele se chegasse à frente tu até lhe davas uma abébia…
- Não digo que não, mas também não garanto, mas esquece. Já deu para ver que ele está na retranca e eu também fico na minha.
- Hmm, estou a ver …
Passado um tempo ele faz sinal. A minha colega pede-lhe que aguarde.
- Laura vai lá fora à esplanada que o rapaz está a chamar.
Rio-me porque entendo o seu esquema.
- Oh Cátia, a sério? Vai tu!
- Não vou nada que eu tenho coisas para fazer e eu sou a responsável e estou a dizer para ires. Já sabes o que é que o patrão diz.
Dizemo-lo em uníssono “obedeçam à Cátia”.
- Eu vou lá. – olho para ela com aquela cara de “vai pagá-las”.
Vou ter com ele.
- Diga lá senhor.
- Senhor? – responde-me.
- Sim, Senhor. – rio-me.
- Isso é para quê? Temos quase a mesma idade, de certeza.
Faço aquela cara de malandra e respondo-lhe.
- Duvido que tenhamos quase a mesma idade. Cheira-me aqui um pouco a mofo e naftalina e…
Ele salta uma enorme gargalhada e eu continuo dizendo:
- … e além disso só o faço para fazer de conta que as pessoas são de fato especiais.
Ele torna a dar outra gargalhada.
- Tu realmente és demais.– Respondo-lhe.
- É! Eu sei. Eu sou assim. Tenho que tentar compensar as pessoas pelas minhas barbaridades. Por isso é que depois faço de conta que tenho algum respeito por elas e as trato desta forma, senhor. Percebeu? – rio-me.
Juro, juro mesmo, que quando disse que as tentava compensar por ser assim, estava realmente a querer dizer que era por isso que as tratava por senhor/senhora, mas por sorte ou azar isto deu asas a outra coisa a qual eu não tinha planeado e nem estaria à espera.
- E esperas compensar-me?
- Mas estás a sentir-me em desfalcado?
… e por esta eu não esperava. Não sabia o que responder de volta, mas tinha que dizer alguma coisa e só me saiu:
- Então e agora?
- Agora não sei, pensa! O erro foi teu agora vais ter que remediar.
Dou uma enorme gargalhada e respondo-lhe:
- Continua a pensar assim e vais sentir-te cada vez mais desfalcado.
Ele achou piada à minha resposta.
- Então posso sugerir? – pergunta-me.
- Podes, eu deixo.
Ele ri-se e diz:
- Então vem jantar comigo.
Nesse momento só me consegui rir. Aquele riso miudinho do nervoso que dá cá dentro.
- Então, não dizes nada? Vou continuar em desvantagem? Eu quero ver-te ser assim fora da tua zona de conforto. Aposto que não és!
- Posso voltar a repetir o que já te disse? Continua a pensar assim vais continuar a sair desfalcado. – rio-me.
- Então prova-me que és assim mesmo.
- Apesar de saber que dizes isso só pra me sentir desafiada e aceitar eu vou aceitar, mas quero que saibas que eu tenho consciência do teu jogo, sim ?
- Como te chamas mesmo ? Laura, não é ?
- Sim …
- Tu tens é muita caraminhola na cabeça, sei lá eu porquê, mas vai com calma. As pessoas não são todas iguais.
Apesar dele me ter dito aquilo com um sorriso eu fechei a minha expressão. Gelei por dentro e tranquei a cara.
- Quem sabe e define como, quando e porquê sou eu ok?
- Tem calma. Eu quero jantar contigo, pode ser? Podemos continuar esta conversa mais tarde? Ainda hoje?
- Sim pode ser hoje, mas se for esta conversa eu passo.
- Mudamos o tema da conversa. Como tu decidires. Não quero que te sintas também em desvantagem.
Sente-se o maior por ter mandado bem a piada. Rimo-nos.
- Para quem mal abria a boca estás muito engraçado. Coitada de mim. É que aqui ainda te posso interromper e virar costas porque não és a única pessoa a querer a minha atenção, agora mais logo…
- Mais logo a tua atenção vai ser toda só para mim, sim…
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...