08 März, 2018 Trabalhadoras do sexo juntaram-se à greve do Dia Internacional da Mulher
Mais de 5 milhões de mulheres juntaram-se à greve feminista que parou Espanha.
O Dia Internacional da Mulher de 2018 fica marcado, em Espanha, por uma greve feminista que levou mais de 5 milhões de mulheres às ruas, em protesto contra a violência de género e pela igualdade de direitos. Entre elas, estavam algumas trabalhadoras do sexo.
Os Sindicatos espanhóis avançam que 5,3 milhões de mulheres se juntaram a esta greve feminista histórica que aconteceu em quase todas as cidades espanholas. O número é significativo, representando cerca de 60% de todas as mulheres trabalhadoras em Espanha.
Em Barcelona, o jornal La Vanguardia encontrou um grupo de trabalhadoras do sexo que se juntou à greve, durante algumas horas. Com cartazes onde pediam "Basta de violência, basta de impunidade", estas profissionais do sexo quiseram vincar que "também são trabalhadoras e mulheres com dignidade".
"O nosso trabalho não é reconhecido, criminalizam-nos, estigmatizam-nos e não temos direito nenhum", queixava-se a trabalhadora sexual Sabrina Sánchez, que é secretária da Aprosex, Associação de Profissionais do Sexo.
Sabrina exerce esta actividade há 10 anos, e contou ao jornal que começou a trabalhar no mundo do sexo por "necessidade", tal como "quase toda a gente trabalha por necessidade". "Como imigrante e mulher transexual, era muito difícil entrar no mercado laboral formal", referiu.
Actualmente, o seu trabalho no mundo do sexo é menos precário do que seria no mercado de trabalho tradicional, como apontou ao jornal, sublinhando que ainda tem "mais tempo para estudar" e que tem a liberdade de "mandar" em si própria.
Janet, outra trabalhadora do sexo que está ligada ao movimento Prostitutas Indignadas, lamentou no mesmo diário que "a maioria das agressões" que são exercidas contra trabalhadoras do sexo são "institucionais, morais e sociais", e que raramento acontecem por parte dos clientes.
Esta trabalhadora do sexo critica a legislação espanhola que multa o trabalho sexual, considerando que atira as profissionais desta actividade para "a clandestinidade", negando-lhes a sua "escolha livre" de a exercerem.
Depois da greve, estas trabalhadoras do sexo organizaram o que chamaram de "putivermut", reunindo mais de 70 pessoas, nem todas profissionais do sexo, em torno de um garrafão de vermute, de cervejas e de "empanadas", tortilhas de batata e outros petiscos. E sempre sob o olhar atento da polícia de Barcelona, que contudo nunca chegou a intervir, segundo o La Vanguardia.
Ora espreita, algumas das reivindicações e das ideias principais do Manifesto da Greve Feminista deste 8 de Março, em Espanha, e dá-nos a tua opinião sobre a iniciativa. Achas que a greve faz sentido? E tu, estarias disposta a fazer greve em Portugal em nome da luta pela igualdade das mulheres?
"BASTA! de agressões, humilhações, marginalizações ou exclusões. Exigimos [...] uma sociedade livre de violências contra as mulheres e as raparigas. Denunciamos a repressão das que encabeçam a luta pelos direitos sociais e reprodutivos.
BASTA! De violências machistas, quotidianas e invisíveis, que as mulheres vivem, seja qual for a sua idade e condição. QUEREMOS poder mover-nos em liberdade por todos os espaços e a todas as horas. Assinalamos e denunciamos a violência sexual como expressão paradigmática da apropriação patriarcal do nosso corpo, que afecta de modo ainda mais marcante as mulheres em situação de vulnerabilidade, como as mulheres migradas e trabalhadoras domésticas.
BASTA! De opressão das nossas orientações e identidades sexuais! Denunciamos a LGTBIfobia social, institucional e laboral que muitas de nós sofremos, como outra forma de violência machista. Somos mulheres e somos diversas.
BASTA! Da discriminação salarial pelo facto de se ser mulher, do menosprezo e do assédio sexual no âmbito laboral.
[...]
Nenhuma mulher é ilegal. Dizemos BASTA ao racismo e à exclusão. Gritamos bem alto: Não às guerras e à fabricação de material bélico! [...] A consequência directa das guerras são milhares de mulheres refugiadas por todo o mundo, mulheres que estão sendo vitimizadas, esquecidas e violentadas. Exigimos o acolhimento de todas as pessoas migradas, seja pelo motivo que for. Somos mulheres livres em territórios livres! [...]
Denunciamos a grave repressão e os cortes de direitos com que estamos a sofrer. Exigimos plena igualdade de direitos e condições de vida, e a total aceitação da nossa diversidade. QUEREMOS SER LIVRES, QUEREMOS ESTAR VIVAS, SER FEMINISTAS, COMBATIVAS E REBELDES!"
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)