28 Juni, 2024 Mentes Conectadas: Medo da rejeição e autossabotagem
Se não gosta de ser rejeitado porque repete o padrão com outros?
Tive uma interessante troca de mensagens com um leitor do Blog X
a cujas dúvidas tive o privilégio de responder. Adoro um debate inteligente e tive a oportunidade de "desafiar a mente" para falar de relacionamentos, do medo da rejeição e da "autossabotagem".
Ora, então, este leitor começa por notar o seguinte:
"Namorar não tem nada de alarmante, nem de complicado, e até se torna algo bem básico de se fazer, pois é sempre um relacionamento entre duas pessoas. Cada uma delas vai ensinando à outra o que gosta, e o que não gosta."
Mas acho que não é bem assim, porque em primeiro lugar, como tudo na vida, as pessoas querem experiência, quase profissionais. Eu estou em apps de namoro, por assim dizer, e as poucas pessoas com quem dei match e com quem troquei mensagens, quando disse que nunca tive um relacionamento, abandonaram logo o barco. Ou há casos em que acontece match e até mandam mensagem, mas se não se responder de imediato (menos de 24 horas) eliminam logo a ligação!"
Eu chamaria a isto algo que aprendi com o meu mentor de aconselhamento: "Set up to Fail" [Preparado para falhar em português]. Porque diz que nunca teve nenhum relacionamento? Eu acho que isso seria uma conversa "para mais tarde", ou até para nunca, pois o que as pessoas apreciam é a ligação e a conexão que estão a ter à medida que falam.
Quando lhes diz que nunca teve um relacionamento, parece que está a pedir que "lhe ensinem", ou "a pedir colo". Ora bem, isso para a outra pessoa é assustador! Levar com uma informação dessas, logo nas primeiras frases, é desconfortável para o outro.
O não ter tido nenhum relacionamento até agora é um problema seu, e não pode fazer com que seja um problema do outro. Sendo online ou presencial, temos de aprender a guardar assuntos só para nós, pois há coisas que são só nossas.
Você procura um relacionamento e não alguém que lhe lamba as feridas. Uma coisa é partilhar isto comigo, outra é partilhá-lo com alguém que está a começar a conhecer. É prematuro e inapropriado.
Em relação às que eliminam logo a mensagem se não responder: e? Isto parece-me aquela velha história:
- Entra-se numa festa e toda a gente diz que está bonito, mas há uma que diz que está feio. Você vai ficar a pensar o dia todo naquela que diz que está feio em vez de validar e sentir alegria por todas as outras que disseram que está bonito.
O online é mesmo isso – umas respondem, outras, com menos paciência, desistem. Nada tem de mal ou de preocupante! Porque as ressente? Porque se sente rejeitado tão facilmente – é isto que tem de analisar para começar a conhecer-se de forma profunda.
Mas o leitor continua e diz o seguinte:
"O que você descreve sobre como é um relacionamento, vai ao encontro daquilo que eu também penso. E quanto a falhar, digo que já falhei. Comecei mal e acabei pior, mas aprendi a minha lição. Não vale a pena investir muito tempo, nem esforço, se não formos retribuídos logo no início também.
Com isto quero dizer que tive uma crush por uma rapariga, e como não sou muito sociável, nem falador, nem tenho aptidões sociais (posso, facilmente, ficar um ano sem dizer uma palavra), tentei aproximar-me dela. Desajeitado e com muitas rejeições, lá consegui o número dela.
Foi uma vitória para mim, mas depois descobri que ela já andava com outro. Fiquei de rastos!"
Está visto que demorou muito tempo e quando isso acontece, as outras pessoas seguem em frente. Por isso lhe disse que tem de ver muito bem se quer um relacionamento, ou apenas uma "amiga colorida".
Quando diz que pode ficar, facilmente, um ano sem dizer uma palavra, imagine se fosse o contrário? Imagine o que o outro sentiu quando você desapareceu – a rejeição que sentiu.
Se não gosta de ser rejeitado porque repete o padrão com outros? Porque deixa passar tempo para dar espaço ao outro de seguir em frente com outra pessoa? Será que é para voltar a sentir-se rejeitado?
Olhe bem para o padrão, vamos lá:
- Após muito esforço, teve uma vitória – conseguiu o número de telefone dela.
- Ficou feliz, mas, por algum motivo, é-lhe desconfortável a felicidade, então decide nada dizer para poder sentir a rejeição novamente.
- No meio desta luta interior – ser feliz ou infeliz - acabou por magoar outra pessoa.
Isto faz algum sentido? Parece uma coisa banal, normal, porque a normalizou inconscientemente. Mas não é algo saudável e, mais uma vez: "Set up to Fail".
Vou-lhe dar um exemplo...
Há casais viciados em discussões e a acabar relacionamentos porque querem sentir abandono/rejeição. Querem voltar a sentir algo que normalizaram na infância – aqui só tem de procurar dentro de si quem foi a pessoa que o rejeitou na infância, e com isto irá ver porque continua a projetar isso.
Outra coisa que estes casais fazem quando terminam o namoro é ver se o outro vem atrás, ou não. Porquê? Porque lhes dá adrenalina. São viciados na dor e no abandono, e, como em qualquer adição, há a adrenalina.
Eu disse-lhe para procurar quem o rejeitou na infância, mas após descobrir isso, não há muito a fazer. O que acontece é que ganha uma consciência do EU.
Outro exemplo que lhe posso dar é o caso de pessoas que se esforçam muito por um objetivo. No meio do processo, levam rejeição dali e dacolá, mas, no final, acontece conseguirem cumprir o objetivo. Umas ficam radiantemente felizes, saltam, choram e afins! Mas há outras que ficam apáticas, sem reação e até tristes. Porquê? Porque enquanto lutavam, sentiam adrenalina e quando conquistam, sentem abandono - por isso passam a vida com objetivos novos.
Ganhar uma consciência disto é como ter um alerta interno que o ajuda a processar quando isto está a acontecer. Ou seja, você sabe porque está a acontecer porque se conhece e, assim, ganha ferramentas para parar de imediato o padrão, ou até para brincar com a situação falando sozinho – "Lá estás tu com o padrãozito!"
Trata-se de aprender a rir das limitações para não se tornarem um fardo.
Bem, o email deste leitor é longo e se me permitem, vai ser dividido em dois - as próximas respostas virão na próxima semana.
Há aqui muita informação que precisa de ser processada, mas não quero que este leitor se sinta um alien, ou se sinta sozinho. Por isso, aqui vai um disclosure: "Been there, done that".
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Até à próxima - Mentes Conectadas X
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