16 junho, 2016 O maior desafio de uma prostituta
O grande desafio de uma prostituta é enfrentar e viver a sua realidade.
Apesar de tudo, apontar para uma visão muito física sobre este problema, o maior desafio que uma profissional de sexo enfrenta é psicológico...
O grande desafio da profissional de sexo
Apesar de tudo, apontar para uma visão muito física sobre este problema, o maior desafio que uma profissional de sexo enfrenta é psicológico.
Sempre que falamos sobre o nosso trabalho, ouvimos aquelas perguntas, “não tens medo das doenças?” “Não tens clientes agressivos ou medo de aparecer algum?”.
De facto, não é fácil viver diariamente com o receio de contrair uma doença, como também não é fácil apanhar clientes mais ou menos agressivos connosco.
No entanto, o que mais nos desmoraliza é a visão social machista que fazem de nós por causa do nosso trabalho.
Primeiro, porque, na maioria das vezes, o que nos leva a optar por esta escolha são as necessidades, na maioria dos casos as necessidades chamam-se filhos.
A falta de apoios para uma mãe leva-a, muitas vezes, a escolher este caminho como última alternativa. Filhos esses que, por vezes, são também o motivo da vida dupla, do constante medo que saibam o que a mãe faz porque é motivo de vergonha.
Porque ninguém quer ser filho da puta. Mas a revolta de tudo isto é que, além do sacrifício que uma mãe faz em optar por este caminho, mesmo sendo algo que nunca tenha desejado, na maioria dos casos, o pai dos filhos simplesmente os abandonou, sem ter de viver com nenhum destes problemas emocionais e psicológicos com que estas mulheres vivem.
Digamos que quem comete o crime é o pai e quem paga a pena é a mãe.
Depois deste ponto, é a constante falta de respeito que têm connosco como pessoas por causa da nossa profissão, tão igual a todas - trabalhamos para sobrevivermos.
No entanto, se formos empregadas de supermercado não temos de andar com o crachá na testa a dizer empregada de caixa! Mas, ao longo do tempo, fui-me apercebendo que ser profissional de sexo suscita sempre aquela pergunta: a tua família sabe? Os teus amigos sabem? O mundo inteiro sabe?
Qual é a diferença de trabalhar na caixa da loja ou no quarto?
Porque temos nós a obrigação de andar com o tipo de profissão que temos escancarado na testa?
Como se não bastasse já nos ser muitas vezes difícil digerir que estamos a prostituir-nos, quando o nosso sonho era ser outro qualquer, saber que temos talentos bem diferentes e vivermos aprisionadas na “última alternativa”, ainda levamos com a discriminação.
Depois, os homens que falam de nós, avaliando-nos como se fossemos carne do talho, que acham que só somos interesseiras, que só somos um corpo mais ou menos bom, que só somos uma foda melhor ou pior, que só somos umas putas, que só somos um saco onde esvaziam as suas frustrações e que somos mulheres que recebem dinheiro por trabalhar (como toda a gente!), temos algum tipo de obrigação de ouvir e viver qualquer tipo de falta de respeito.
No entanto, todas nós somos mulheres. Seres humanos com sentimentos e valores, independentemente das escolhas que tenhamos tido de fazer.
Muitas vezes, sacrificando-nos para dar o nosso melhor aos outros, a nossa intimidade, muitas vezes olhando os clientes também como pessoas que precisam de nós, da nossa parte mais humana, e sobre tudo isto passamos o tempo a tentar viver com a nossa realidade, sonhando com o que gostaríamos de fazer e com o que temos de fazer, e com tudo aquilo que temos de suportar em cima da nossa realidade.
O melhor que encontramos neste trabalho são os clientes que conseguem fazer-nos sentir realmente importantes. Aqueles que nós percebemos nitidamente que se não existisse a nossa profissão, eles seriam pessoas sós, independentemente de viverem ou não acompanhados.
São os clientes que nos valorizam pelo nosso trabalho, que nos tratam como pessoas e se deixam tratar como pessoas. São eles que, perante o cenário que descrevi antes, nos levam a acordar com coragem para ter mais um dia de trabalho. Aqueles que realmente precisam do nosso empenho profissional, mas também da nossa parte humana, do nosso eu.
Ser profissional de sexo não é ser uma criminosa.
Não é deixar de ser um ser humano, uma mulher uma mãe.
Não é deixar de ter valores e de viver uma vida normal como toda a gente.
Ser profissional de sexo é unicamente ter um emprego que, infelizmente, é ainda visto como se fosse um crime, quando a maioria das vezes é uma terapia.
Carla Felício
Olá, sou a Carla Felício, não confundir com felácio! Felácio também é bom, mas não para aqui chamado agora.
Sou bloguista. Não perguntem sobre o que escrevo, passem a ler.
Sou uma miuda tímida, mas adoro despir-me de vergonhas e pudores e transformar-me numa desavergonhada marota!