08 fevereiro, 2017 Cinquenta sombras depois…
O regresso do porno-fetiche para donas de casa.
Christian Grey está de regresso e dizem que está mais escuro ainda. Não sei. Se ele fosse um teso num T0+1, todo este filme deixaria de deixar os bancos do cinema ensopados.
O mundo do BDSM e de todo o mundo envolvente, ganhou exposição mainstream pela mão da EL James, apenas para tédio dos verdadeiros praticantes dessa vertente tão fantástica da psique sexual. Tive o prazer de entrevistar uma verdadeira dominatrix (ler aqui) e de ouvir na primeira pessoa os relatos sobre o verdadeiro mundo que veste de negro látex. Entrar na mente dos personagens de um filme é fácil, fazer disso um estilo de vida real, é outra coisa totalmente diferente.
Por entre jogos de poder entre os lençóis, reside o prazer sexual que se tira em dominar ou ser dominado. Para lá do sexo convencional, é na violência verbal e psicológica que a tesão vive. Longe do corpo e próximo da mente, o BDSM continuará a fascinar-me. Tudo. As pessoas, os actos e toda a sua teatralidade. Como se estivesse a ver uma peça de teatro realizada pelo Marquês de Sade. Gosto de levar, já aqui o admiti. Também gosto de inflingir alguma dor, embora a imagem de uma mulher em sofrimento me deixar apreensivo (sou um menino). Sei o que gosto e o que não gosto, mas não irá ser um filme de Hollywood a levar-me a repensar isso mesmo. Talvez, em algum lar amanhã à noite, um casal mais impressionável irá tentar levar para a cama o que viu no ecrã e a coisa não corra tão bem. No BDSM, tal como em todos os fetiches, é difícil explicar porque gostamos do mesmo a quem não tem a mesma queda. É como ter de explicar uma cor a um cego. E tentar gostar de algo que necessita de ser sentido para lá do que os olhos conseguem ver, não acaba bem para ninguém.
Querer espetar umas palmadas ou gostar de levar uns estalos a foder e chamar isso de BDSM, é como guiar um Smart às voltas numa rotunda e dizer que somos pilotos de F1.
As 50 Sombras tiveram o seu contributo para a liberalização da conversa de café sobre o fetichismo. Não que a mesma não ocorresse, mas passou a ser “cool” ter um fetiche. Passou a ser sexy dizer às amigas que se gosta de ser asfixiada ou chibatada.
As 50 Sombras fizeram pelo fetichismo o que o Honorato fez pelos hambúrgueres.
Quantas não terão tolerado levarem chinfalhadas no lombo para poderem mostrar as marcas de guerra às colegas de trabalho? Talvez menos do que eu julgo, é verdade. Talvez mais. Nada contra quem quer inovar ou ir mais além no campo sexual, mas a motivação que leva a tal é que me deixa em dúvida sobre o verdadeiro benefício que a banalização do fetichismo trouxe. Ninguém vai ganhar algum fetiche depois de ver o filme.
Curiosidade? Muita, sem dúvida. Será que gosto de levar? De dar? Será que gosto de atar ou ser atada? Será que ele vai alinhar? Ou ela?
Por algum lado temos de começar a conhecer-nos mais a nós mesmos e se o ponto inicial é um filme, então que seja. Mas não é o mesmo que vai definir o que gostamos ou não gostamos, somos nós.
A histeria causada por este filme ainda estou para a entender. Acho que é falta de uns bons açoites. Mas a sério. Agarrada pelos cabelos, cuspida na cara e de joelho a fazer pressão nas costas, até deixar marca. Coisas de meninos, diz o leitor BDSM.
Sem dúvida.
Até domingo, boas fodas e vão pela sombra.
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.