13 março, 2017 Sexo e deficiência: na cama com Jordi e Eva
"Em Busca da Sexualidade Perdida" é um projecto fotográfico sobre assistência sexual a pessoas com deficiência.
Jordi, um polícia preso a uma cadeira de rodas, e Eva, uma assistente sexual, abrem a porta da sua intimidade à lente fotográfica do jornalista português Sebastião Almeida num projecto que evidencia a importância do sexo para as pessoas com deficiência.
"Em Busca da Sexualidade Perdida" é o nome do projecto fotográfico de Sebastião Almeida, um jornalista de 23 anos que apostou neste tema no âmbito da sua pós-graduação em Fotojornalismo pela Universidade Autónoma de Barcelona, em Espanha.
O profissional português debruçou-se, em particular, sobre a história de Jordi, um polícia de 44 anos que vive na cidada catalã preso a uma cadeira de rodas, após ter sofrido um acidente de viação, e de Eva, o nome fictício da sua assistente sexual.
Como conta Sebastião Almeida ao jornal Público, após ter sofrido o acidente, Jordi ainda tentou ter sexo com trabalhadoras do sexo, mas a experiência foi "quase traumática a nível emocional, porque não havia intimidade" e, além do mais, "aleijou-se porque não tinham certos cuidados ao posicioná-lo".
Com Eva, que também trabalha como assistente social num centro comunitário, Jordi "encontrou interesse genuíno", explica Sebastião Almeida, realçando que as pessoas que trabalham como assistentes sexuais vêm, geralmente, a sua função como uma "vocação" e, portanto, "têm um trato especial".
O tema do sexo na deficiência continua a ser um tabu, mas, pouco a pouco, a matéria começa a sair do armário, nomeadamente em Portugal.
"Sim, nós (os deficientes), fodemos!", foi o mote lançado, recentemente, por um movimento que pretende dar visibilidade ao lado sexual das pessoas com incapacidades e ao seu direito a fazerem sexo.
A Assistência Sexual não é ainda, reconhecida em muitos países, nomeadamente em Portugal e em Espanha, mas está plenamente legalizada em nações como Dinamarca, Holanda, Suíça e Alemanha.
No Japão, a assistência sexual é vista como um verdadeiro Serviço Público de Saúde e há até, associações de beneficiência que se dedicam a prestar este tipo de serviços a pessoas com incapacidades físicas. Ora lê "Ejaculação assistida: trabalhadora do sexo fala sobre este serviço" para ficares dentro do assunto.
O projecto de Sebastião Almeida vem agora, acrescentar à discussão o lado mais íntimo desta realidade e não é possível ficar-lhe indiferente, nomeadamente pelos argumentos que o jornalista apresenta no seu site - sebastiaoalmeida.com/in-search-of-lost-sexuality - e que transcrevemos de seguida.
"A assistência sexual apoia adultos com deficiências em todo o espectro da sua sexualidade. Pode ser para os ajudar a aprender ou a melhorar as suas capacidades no que concerne a relações interpessoais, a intimidade e/ou a relações íntimas e sexuais. Cada pessoa é única, tal como é a sua sexualidade. Cada relação entre um assistente sexual e o beneficiário é única e feita de circunstâncias únicas, de acordo com a Plataforma Europeia de Assistência Sexual.
A sexualidade das pessoas incapacitadas deve ser considerada um meio natural de auto-expressão e uma necessidade biológica que é vital para o seu bem-estar.
Frequentemente, a sociedade não consegue olhar para as pessoas deficientes como seres sexuais que devem ser capazes de ter uma vida sexual activa e normal.
A assistência sexual joga um papel-chave na sexualidade de pessoas funcionalmente diversas. De acordo com testemunhos em primeira mão, os utilizadores destes serviços de intimidade reportam melhorias significativas na sua vida quotidiana. Alguns viram-se para trabalhadores não qualificados, enquanto outros procuram profissionais qualificados, com experiência a trabalhar com pessoas funcionalmente diversas.
O beneficiário não paga pelo tratamento, mas pelo tempo passado na companhia do assistente sexual."
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)