01 junho, 2024 Sexo e Recuperação

A doença da adição/compulsão e obsessão impede o humano de pensar e, então, reage de forma animal.

É comum que quando as pessoas param de usar drogas, a doença da adição se manifesta de imediato em outras coisas. Há que esclarecer que a adição tem como predominantes a compulsão e a obsessão. Uma vez retirado o objeto de escolha, o cérebro encontra uma nova forma de gratificação imediata que se manifesta em outras coias, a que eu chamo de adições cruzadas - como sexo, comida, jogo, ou até mesmo, fazerem reuniões o santo dia todo.Como entrar em recuperação das drogas

Por sinal, ontem ouvi um homem a dizer que faz reuniões de recuperação o dia todo, e pensei:

"Pensas que estás a dizer uma grande coisa! E se tu soubesses o que isso significa, estavas era calado!”

Voltando ao que me traz aqui, há uma coisa comum nos adictos quando entram em recuperação que é o sexo!

Há muitos anos, em Dallas, ia haver uma convenção de adictos em recuperação. Um amigo meu, Jimmy, andava preocupado por não estar a conseguir quarto num hotel, para poder ir a essa convenção. No meio daquela gente toda, ouve-se uma voz que era a minha, a dizer:

- Jimmy, não te preocupes em arranjar quarto, pois a meio da convenção, já estão todos embrulhados uns com os outros. Por isso, irás acabar num quarto de alguma rapariga!

Dito e certo! Aconteceu! E 98% deles vindos de uma convenção, cheios de vergonha pelos comportamentos compulsivos, obsessivos que tiveram!

Esta adição ao amor e ao sexo após a perda do uso de drogas, traz sempre consequências. Aliás, como qualquer adição ativa. Numa semana, já estão atraídos por A, B, C, e ao fim de duas semanas, já namoram! Ao fim de três, já está tudo separado e a bater mal! Relações fulminantes com consequências fulminantes!

A dor do outro é a maior atração sexual. Identificam-se com essa dor e garantem que é atração sexual.

A dor procura dor, algo que lhe é conhecido. É como chegar a casa. Se aparecer alguém bem resolvido, e feliz, a outra pessoa foge a sete pés, pois é estranho, desconhecido, e, claro, torna-se assustador.

Uma pessoa infeliz não consegue lidar com uma pessoa feliz. Uma pessoa sem objetivos não consegue lidar com uma pessoa com algum sucesso e, em casos mais graves, essas pessoas tudo farão para destruir a outra. Só irão descansar quando virem a outra pessoa tão miserável como elas.

Mudam de camas e de parceiros sexuais, mas há uma coisa em comum: a insatisfação permanente que cada caso relata. Em cinco minutos diz-se:

Estás a mexer comigo - é isto que eu quero.
Após o sexo, já não é nada daquilo que querem para as suas vidas!

A doença da adição/compulsão e obsessão impede o humano de pensar e, então, reage de forma animal. Pavlov demonstrou isso, e indo um pouco mais longe, eu, às vezes, dou por mim a olhar para a minha cadela de 2 anos e vejo que tem muitos comportamentos tão parecidos - e até iguais - a adictos em recuperação!

Como tal, não se pensa, reage-se ao impulso! Se se pensasse, era tão mais fácil, pois era só fazer contas.

Ora vamos lá ver as contas para concluir isto:

Os adictos começam a usar drogas na adolescência.
Passam anos das suas vidas a viver para usar e a usar para viver.
No percurso desta vida, aprendem a grande arte da manipulação.
Aprendem a usar pessoas.
Não têm sexo, pois, como já disse, vivem para usar drogas e usam para sobreviver - então, a experiência sexual é nula, inexistente nos homens, pois as mulheres usam o corpo para obter as drogas com prostituição direta ou indireta. Por isso, há sempre mais homens em tratamento do que mulheres.

Agora dá para imaginar o porquê destas relações falharem após 5 minutos - como se consegue ter uma boa experiência sexual com alguém que quase nunca fez sexo? Como se consegue receber amor de quem está habituado a retirar, a drenar? Como?! Indo mais longe, como é que é possível ir à procura de amor num grupo onde ainda só há dor?

Quem não olhar para isto que eu acabei de escrever de forma séria, vai-se arriscar a passar anos e anos de relações falhadas, e de dor sobre dor. Se era este o sonho de recuperação, então reavalia novamente o sonho.

A base mais importante na recuperação é a aceitação. Devido ao uso de drogas, não se adquiriram skills (competências) suficientes para entrar em desespero - "Eu quero uma família!" porque estive anos "a dar na fruta" e agora, quero e quero JÁ! Tal como com as drogas – eu quero ir e usar e quero JÁ!

Eu quero, quero já – eu quero alguém e quero já e nem quero muito saber que tipo de pessoa é. Então, vou mandar-me de cabeça para a primeira que olhar para mim! Que INSANIDADE, não é?!

O mais acertado será mesmo a pessoa sentar-se durante 30 minutos e refletir sobre o que já construiu para si, emocionalmente, para conseguir ir à procura de outra pessoa com a mesma estrutura emocional. Aceitar o facto de que há anos perdidos e de que, agora, são precisos mais uns anos para se auto-construir por si mesmo e não às custas de outro ser humano.

Quando esse dia chegar, poderá então pensar num futuro com alguém.

Os anos em recuperação também têm de ter alguma qualidade, alguma predisposição para a honestidade. Ontem ouvi algo de alguém com mais de 30 anos de recuperação, de um homem, que me deixou em choque!

Esse homem a falar para um médico disse-lhe:

"Não te conheço, mas já te amo!"

O médico ficou todo contente de ouvir isto. Eu achei violentíssimo!

Também fui a única a achar, pois eu acho muita coisa e, normalmente, ouve-se: "Lá está ela com as merdas dela!" :)

Escrevendo agora como se falasse para um amigo

O indivíduo é médico, falou do princípio ao fim que o pai nunca lhe disse que o amava, e eis que o "vampiro" do outro lado fez as contas – médico, posso precisar dele e como o pai nunca lhe disse eu amo-te, então, eu vou-lhe dizer porque assim ele vai ficar grato comigo para o resto da vida! Não o conheço, mas como me pode vir a ser útil, toma lá um "amo-te"!

Agora, imaginem uma mulher desesperada por amor e a querer construir uma família que cai nas mãos deste cromo, que tem como "fachada" mais de 30 anos de recuperação (tempo atrativo para quem ainda não o tem). A única coisa que essa mulher vai levar é manipulação e mau sexo! :)

Não seria bem melhor procurar outro tipo de pessoas, fora do mundo da adição?

Dor com dor, manipulação com manipulação – dá desastre emocional.

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